Presunção de saber ou simplesmente bazófia
Opinião » 2016-11-02 » Maria Augusta Torcato"Creio que os títulos, em Portugal, estão sobrevalorizados"
Sim, pior do que a ignorância é a presunção de saber e o quotidiano vai-nos mostrando como esta premissa se concretiza a nossos olhos e ouvidos.
Condenava o Padre António Vieira os peixes, porque se comiam uns aos outros, mas o que queria mesmo condenar era o comportamento dos homens que, à semelhança dos peixes, também se comiam uns aos outros.
A mensagem do pregador mantém-se atual. Tal situação, não obstante reconhecer o valor e a literariedade do texto, reconhece também o modo como a fraqueza, a hipocrisia e a crueldade humanas se mantêm. E isto não é, de modo nenhum, uma boa imagem da humanidade.
Mas, particularizando, a verdade é que os homens se continuam a comer uns aos outros, porque uns exploram outros ou porque uns se aproveitam de outros, quanto mais não seja, porque há um número considerável deles que gosta muito de comer os outros por parvos. Vejam-se os exemplos recorrentes de falsas habilitações, diga-se melhor, falsas informações acerca de habilitações, o que torna falso quem profere essas informações, falso a todos os níveis. E este tipo de falsidade mina tudo, destrói qualquer credibilidade nas instituições e nas organizações. Porque cada elemento falso destes é metonímia de todos os outros. Ora, quando a falsidade é veiculada por quem deveria primar, e tem essa responsabilidade, por um comportamento honesto, transparente, de confiança, o que acontece é que tudo e todos são postos em causa. E, os casos que têm chegado, publicamente, até nós, tornam-se mais graves, muito graves mesmo, porque põem em causa a democracia, a crença neste sistema que não é perfeito, mas que, porventura, será o mais perfeito que conhecemos.
Pessoalmente, não me interessa absolutamente nada que alguém tenha ou diga que tem uma, duas ou três licenciaturas. O que me interessa, e muito, é saber que quem tem responsabilidades políticas e de gestão efetiva da democraticidade é sério, é competente e é alguém a quem eu reconheço qualidades do ponto de vista ético e moral e capaz de fazer o que se espera que faça em prol do bem público.
Creio que os títulos, em Portugal, estão sobrevalorizados. Olhamos e avaliamos as pessoas pelo que têm e mostram e não pelo que são ou são capazes de fazer e fazer bem. Ter um carro último modelo, ter uma boa casa, frequentar os melhores restaurantes, diversificar as roupagens, seguindo as modas e evidenciando marcas são realidades que, aparentemente, conferem poder, reconhecimento e talvez até despertem a inveja alheia. Não sei porquê, associam-se este estilo de vida e esta maneira de estar a pessoas que têm uma determinada habilitação. Tal não é necessariamente verdade. Há muita gente, licenciada, com mestrado, doutoramento ou pós doutoramento, que é simples, autêntica e até nem tem nem valoriza os bens de ostentação e de montra social. Gosta de aprender, gosta de ser gente. Porque ser gente é o grau mais elevado que se pode atingir. Com e sem habilitações académicas.
Compreende-se, agora, melhor o motivo de se sugerir a emigração dos nossos jovens licenciados. Eles não podem vir a colocar-se no caminho dos jovens formados nas “escolas” das juventudes partidárias. A reiteração de situações destas deveria envergonhar todos os que têm alimentado este sistema ao longo dos tempos e que, sendo arautos da democracia, acabam por a condenar. Eis os exemplos dos peixes roncadores, pegadores e voadores, de que o Padre António Vieira falava. É uma boa leitura para quem precisa de voltar à escola. E também para os restantes.
Presunção de saber ou simplesmente bazófia
Opinião » 2016-11-02 » Maria Augusta TorcatoCreio que os títulos, em Portugal, estão sobrevalorizados
Sim, pior do que a ignorância é a presunção de saber e o quotidiano vai-nos mostrando como esta premissa se concretiza a nossos olhos e ouvidos.
Condenava o Padre António Vieira os peixes, porque se comiam uns aos outros, mas o que queria mesmo condenar era o comportamento dos homens que, à semelhança dos peixes, também se comiam uns aos outros.
A mensagem do pregador mantém-se atual. Tal situação, não obstante reconhecer o valor e a literariedade do texto, reconhece também o modo como a fraqueza, a hipocrisia e a crueldade humanas se mantêm. E isto não é, de modo nenhum, uma boa imagem da humanidade.
Mas, particularizando, a verdade é que os homens se continuam a comer uns aos outros, porque uns exploram outros ou porque uns se aproveitam de outros, quanto mais não seja, porque há um número considerável deles que gosta muito de comer os outros por parvos. Vejam-se os exemplos recorrentes de falsas habilitações, diga-se melhor, falsas informações acerca de habilitações, o que torna falso quem profere essas informações, falso a todos os níveis. E este tipo de falsidade mina tudo, destrói qualquer credibilidade nas instituições e nas organizações. Porque cada elemento falso destes é metonímia de todos os outros. Ora, quando a falsidade é veiculada por quem deveria primar, e tem essa responsabilidade, por um comportamento honesto, transparente, de confiança, o que acontece é que tudo e todos são postos em causa. E, os casos que têm chegado, publicamente, até nós, tornam-se mais graves, muito graves mesmo, porque põem em causa a democracia, a crença neste sistema que não é perfeito, mas que, porventura, será o mais perfeito que conhecemos.
Pessoalmente, não me interessa absolutamente nada que alguém tenha ou diga que tem uma, duas ou três licenciaturas. O que me interessa, e muito, é saber que quem tem responsabilidades políticas e de gestão efetiva da democraticidade é sério, é competente e é alguém a quem eu reconheço qualidades do ponto de vista ético e moral e capaz de fazer o que se espera que faça em prol do bem público.
Creio que os títulos, em Portugal, estão sobrevalorizados. Olhamos e avaliamos as pessoas pelo que têm e mostram e não pelo que são ou são capazes de fazer e fazer bem. Ter um carro último modelo, ter uma boa casa, frequentar os melhores restaurantes, diversificar as roupagens, seguindo as modas e evidenciando marcas são realidades que, aparentemente, conferem poder, reconhecimento e talvez até despertem a inveja alheia. Não sei porquê, associam-se este estilo de vida e esta maneira de estar a pessoas que têm uma determinada habilitação. Tal não é necessariamente verdade. Há muita gente, licenciada, com mestrado, doutoramento ou pós doutoramento, que é simples, autêntica e até nem tem nem valoriza os bens de ostentação e de montra social. Gosta de aprender, gosta de ser gente. Porque ser gente é o grau mais elevado que se pode atingir. Com e sem habilitações académicas.
Compreende-se, agora, melhor o motivo de se sugerir a emigração dos nossos jovens licenciados. Eles não podem vir a colocar-se no caminho dos jovens formados nas “escolas” das juventudes partidárias. A reiteração de situações destas deveria envergonhar todos os que têm alimentado este sistema ao longo dos tempos e que, sendo arautos da democracia, acabam por a condenar. Eis os exemplos dos peixes roncadores, pegadores e voadores, de que o Padre António Vieira falava. É uma boa leitura para quem precisa de voltar à escola. E também para os restantes.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
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