Negócio fechado - carlos paiva
Opinião » 2021-03-08 » Carlos Paiva"Lá para os confins do império, na fronteira com Tomar, um indivíduo resolveu vedar a sua propriedade e impediu o acesso a uma linha de água"
Fomos bafejados pela sorte. Bruxelas tinha no cardápio dos financiamentos a construção de ciclovias. E pronto, cá vamos nós pedalar. Sugiro que baptizem a ciclovia de “Pedal Frenético” (P.F.). Não sei bem que solução vão engendrar para a colocação da plaquinha com o nome. Alguma coisa se há-de arranjar, filha de pai incógnito não vai ficar. Para gerar negócio local e aparentar planeamento consolidado, fica a faltar uma daquelas lojas de artigos desportivos que vende bicicletas e todos os acessórios. Ah… espera…
Se em vez de ciclovias o financiamento disponível fosse para transportes marítimos, estávamos tramados. Ia custar uma pipa de massa trazer o mar até aqui. Não deixava de ter uma pinta do caraças ir das Tufeiras ao Titó de ferry ou hovercraft. Mas que ia dar uma trabalheira monumental, ia. E caro, muito caro. Embora a componente financeira não aparente ser problema para a Câmara. Bom, talvez eu esteja a fazer uma leitura errada e, na realidade, o problema resida na incompreensão da mecânica do processo negocial e não no à vontade financeiro.
Estão tão habituados a negociar com o dinheiro dos outros que, quando o vendedor pede 38 mil pelo bem, a Câmara propõe 40. O vendedor esclarece que são 38 e não 40. Perante o esclarecimento, a Câmara contrapropõe 50. O vendedor perplexo, diz: “Acho que não estão a perceber. O preço é de 38 mil euros”. Ao qual a Câmara responde: “Então, está bem, 60 mil. Mas olhe que já não dá para subir muito mais…” O vendedor já exasperado, com o polegar e o indicador da mão direita na cana do nariz, replica: “Há alguma falha na comunicação. Agora devagarinho, como se os senhores fossem muito estúpidos: o preço que estou a pedir são t-r-i-n-t-a e o-i-t-o mil euros. Três oito.” Ao que a Câmara, sorridente, responde: “Ok. 61 mil e não se fala mais nisso.” Negócio fechado.
Se a avaliação do bem, em 38 mil euros, não partisse do próprio município, não sei muito bem onde iria parar o valor. Assim, salvaguardando a coerência e a óbvia vantagem financeira, ficou por ali. Vá lá. Talvez por terem esgotado a capacidade de argumentação com esta negociação e sem fôlego pelo esforço despendido, a maioria governante decidiu abster-se na votação de uma obra, necessária, proposta por um partido da oposição. Graças a isso, a obra foi aprovada. É curioso que, quando o chefe se cala e fica quietinho, se façam coisas e se avance.
Noutra obra, também ela necessária, a competência exibida obrigou a intervenção logo a seguir à inauguração. Intervenção de manutenção e não correctiva. Talvez este facto se deva a não existir consenso acerca do local. Uns dizem que é na Beselga, outros na Bezelga. E depois a malta queixa-se que os CTT funcionam mal. Pudera. Mas mais dilemas se perfilam no horizonte. Lá para os confins do império, na fronteira com Tomar, um indivíduo resolveu vedar a sua propriedade e, como consequência lateral, impediu o acesso a uma linha de água que, em tempo de chuva, forma uma pequena cascata bonita de se ver. A malta não gostou. Calculo que entre auditoria, avaliação e decisão, passe tempo suficiente para construir ali uma fábrica de papel. Então será tarde, pois colocaria em causa uma série de postos de trabalho, de salário mínimo, vitais para o desenvolvimento da região. Não é tão rebuscado quanto isso, há precedente.
Entretanto, o Ministério Público decidiu investigar os casos das inoculações com as sobras das vacinas contra a Covid-19. Independentemente das conclusões que possam resultar dessa investigação, acho estranho o MP consumir tempo e recursos a investigar casos de altruísmo e ingénua boa vontade. Uma dica para o MP: não investigue. Negoceie. Vai ficar surpreendido com os resultados.
Negócio fechado - carlos paiva
Opinião » 2021-03-08 » Carlos PaivaLá para os confins do império, na fronteira com Tomar, um indivíduo resolveu vedar a sua propriedade e impediu o acesso a uma linha de água
Fomos bafejados pela sorte. Bruxelas tinha no cardápio dos financiamentos a construção de ciclovias. E pronto, cá vamos nós pedalar. Sugiro que baptizem a ciclovia de “Pedal Frenético” (P.F.). Não sei bem que solução vão engendrar para a colocação da plaquinha com o nome. Alguma coisa se há-de arranjar, filha de pai incógnito não vai ficar. Para gerar negócio local e aparentar planeamento consolidado, fica a faltar uma daquelas lojas de artigos desportivos que vende bicicletas e todos os acessórios. Ah… espera…
Se em vez de ciclovias o financiamento disponível fosse para transportes marítimos, estávamos tramados. Ia custar uma pipa de massa trazer o mar até aqui. Não deixava de ter uma pinta do caraças ir das Tufeiras ao Titó de ferry ou hovercraft. Mas que ia dar uma trabalheira monumental, ia. E caro, muito caro. Embora a componente financeira não aparente ser problema para a Câmara. Bom, talvez eu esteja a fazer uma leitura errada e, na realidade, o problema resida na incompreensão da mecânica do processo negocial e não no à vontade financeiro.
Estão tão habituados a negociar com o dinheiro dos outros que, quando o vendedor pede 38 mil pelo bem, a Câmara propõe 40. O vendedor esclarece que são 38 e não 40. Perante o esclarecimento, a Câmara contrapropõe 50. O vendedor perplexo, diz: “Acho que não estão a perceber. O preço é de 38 mil euros”. Ao qual a Câmara responde: “Então, está bem, 60 mil. Mas olhe que já não dá para subir muito mais…” O vendedor já exasperado, com o polegar e o indicador da mão direita na cana do nariz, replica: “Há alguma falha na comunicação. Agora devagarinho, como se os senhores fossem muito estúpidos: o preço que estou a pedir são t-r-i-n-t-a e o-i-t-o mil euros. Três oito.” Ao que a Câmara, sorridente, responde: “Ok. 61 mil e não se fala mais nisso.” Negócio fechado.
Se a avaliação do bem, em 38 mil euros, não partisse do próprio município, não sei muito bem onde iria parar o valor. Assim, salvaguardando a coerência e a óbvia vantagem financeira, ficou por ali. Vá lá. Talvez por terem esgotado a capacidade de argumentação com esta negociação e sem fôlego pelo esforço despendido, a maioria governante decidiu abster-se na votação de uma obra, necessária, proposta por um partido da oposição. Graças a isso, a obra foi aprovada. É curioso que, quando o chefe se cala e fica quietinho, se façam coisas e se avance.
Noutra obra, também ela necessária, a competência exibida obrigou a intervenção logo a seguir à inauguração. Intervenção de manutenção e não correctiva. Talvez este facto se deva a não existir consenso acerca do local. Uns dizem que é na Beselga, outros na Bezelga. E depois a malta queixa-se que os CTT funcionam mal. Pudera. Mas mais dilemas se perfilam no horizonte. Lá para os confins do império, na fronteira com Tomar, um indivíduo resolveu vedar a sua propriedade e, como consequência lateral, impediu o acesso a uma linha de água que, em tempo de chuva, forma uma pequena cascata bonita de se ver. A malta não gostou. Calculo que entre auditoria, avaliação e decisão, passe tempo suficiente para construir ali uma fábrica de papel. Então será tarde, pois colocaria em causa uma série de postos de trabalho, de salário mínimo, vitais para o desenvolvimento da região. Não é tão rebuscado quanto isso, há precedente.
Entretanto, o Ministério Público decidiu investigar os casos das inoculações com as sobras das vacinas contra a Covid-19. Independentemente das conclusões que possam resultar dessa investigação, acho estranho o MP consumir tempo e recursos a investigar casos de altruísmo e ingénua boa vontade. Uma dica para o MP: não investigue. Negoceie. Vai ficar surpreendido com os resultados.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
|
Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |