Orçamento, um triste espectáculo - jorge carreira maia
Opinião » 2021-10-31 » Jorge Carreira Maia"Num mundo global não existe lugar algum, a não ser o inferno, como alternativa àquele onde se está"
A questão do próximo orçamento de Estado – independentemente, do que vier a acontecer – tem sido ocasião privilegiada para um verdadeiro espectáculo político dado pela esquerda. Um triste espectáculo, diga-se. Aquilo que se vê – um cortejo de penosas seduções e de ameaças veladas entre as partes – não é apenas degradante, mas oculta uma realidade inquietante. A esquerda não consegue produzir uma plataforma conjunta de governação para o país, um programa estratégico partilhado pelas diversas forças. Tivesse a esquerda um programa comum, as negociações seriam dentro de casa e nenhuma das partes teria necessidade de recorrer ao drama de faca e alguidar a que se tem assistido.
Vale a pena lembrar dois acontecimentos. O primeiro é o caso Syriza, na Grécia. Chegou ao poder para introduzir um conjunto de rupturas com o Euro, a União Europeia, etc. No momento em que tiveram de tomar uma decisão de rompimento, os dirigentes perceberam que a alternativa seria uma catástrofe para os gregos, muito pior do que as exigências de Bruxelas. Tiveram o bom-senso de compreender a realidade e de se adequar à máxima de que a política é a arte do possível. Num mundo global não existe lugar algum, a não ser o inferno, como alternativa àquele onde se está. Essa ideia do socialismo como alternativa ao capitalismo está morta há muito. A certidão de óbito foi passada em 1989, e nessa altura há muito que o cadáver cheirava mal.
O segundo acontecimento é recente e passou-se em Lisboa, nas eleições autárquicas. A divisão das esquerdas ofereceu a câmara da capital à direita, dando-lhe uma plataforma para reanimação e, muito possivelmente, saída do estado catatónico em que se encontrava. Existe em largos sectores da esquerda a crença ilusória de que ela será sempre maioritária no país, que haverá sempre uma geringonça para evitar dores de cabeça. É uma crença falsa. Os eleitores cansam-se e procuram novos caminhos. É a virtude da democracia.
O triste espectáculo actual em torno do orçamento pode muito bem ser o prelúdio de que as coisas estão a mudar e não há vontade nem imaginação para encontrar um caminho sólido à esquerda. Os socialistas esperam que os dinheiros de Bruxelas os ajudem a manter-se no poder. Não aprenderam com Lisboa. À sua esquerda parece não haver uma política para o país, mas apenas um conjunto de reivindicações sectoriais e linhas vermelhas que servem para a barganha orçamental, uma tentativa de segurar eleitorados, mas não são uma ideia realista para Portugal. Tudo isto se paga.
Orçamento, um triste espectáculo - jorge carreira maia
Opinião » 2021-10-31 » Jorge Carreira MaiaNum mundo global não existe lugar algum, a não ser o inferno, como alternativa àquele onde se está
A questão do próximo orçamento de Estado – independentemente, do que vier a acontecer – tem sido ocasião privilegiada para um verdadeiro espectáculo político dado pela esquerda. Um triste espectáculo, diga-se. Aquilo que se vê – um cortejo de penosas seduções e de ameaças veladas entre as partes – não é apenas degradante, mas oculta uma realidade inquietante. A esquerda não consegue produzir uma plataforma conjunta de governação para o país, um programa estratégico partilhado pelas diversas forças. Tivesse a esquerda um programa comum, as negociações seriam dentro de casa e nenhuma das partes teria necessidade de recorrer ao drama de faca e alguidar a que se tem assistido.
Vale a pena lembrar dois acontecimentos. O primeiro é o caso Syriza, na Grécia. Chegou ao poder para introduzir um conjunto de rupturas com o Euro, a União Europeia, etc. No momento em que tiveram de tomar uma decisão de rompimento, os dirigentes perceberam que a alternativa seria uma catástrofe para os gregos, muito pior do que as exigências de Bruxelas. Tiveram o bom-senso de compreender a realidade e de se adequar à máxima de que a política é a arte do possível. Num mundo global não existe lugar algum, a não ser o inferno, como alternativa àquele onde se está. Essa ideia do socialismo como alternativa ao capitalismo está morta há muito. A certidão de óbito foi passada em 1989, e nessa altura há muito que o cadáver cheirava mal.
O segundo acontecimento é recente e passou-se em Lisboa, nas eleições autárquicas. A divisão das esquerdas ofereceu a câmara da capital à direita, dando-lhe uma plataforma para reanimação e, muito possivelmente, saída do estado catatónico em que se encontrava. Existe em largos sectores da esquerda a crença ilusória de que ela será sempre maioritária no país, que haverá sempre uma geringonça para evitar dores de cabeça. É uma crença falsa. Os eleitores cansam-se e procuram novos caminhos. É a virtude da democracia.
O triste espectáculo actual em torno do orçamento pode muito bem ser o prelúdio de que as coisas estão a mudar e não há vontade nem imaginação para encontrar um caminho sólido à esquerda. Os socialistas esperam que os dinheiros de Bruxelas os ajudem a manter-se no poder. Não aprenderam com Lisboa. À sua esquerda parece não haver uma política para o país, mas apenas um conjunto de reivindicações sectoriais e linhas vermelhas que servem para a barganha orçamental, uma tentativa de segurar eleitorados, mas não são uma ideia realista para Portugal. Tudo isto se paga.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
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» 2024-03-18
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» 2024-03-08
» Jorge Carreira Maia
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» 2024-03-08
» Pedro Ferreira
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