O véu ideológico
Opinião » 2017-05-18 » Jorge Carreira Maia"Mais do que pôr fim à austeridade, o mérito deste governo é o de ter posto fim a uma espécie de guerra civil simbólica, mas de resultados muito reais, que o anterior tinha desencadeado."
A reivindicação pelo PSD e CDS do mérito pelo actual desempenho da economia portuguesa é não apenas uma jogada de oportunismo político mas, o que é pior, um sinal de que a direita ainda vive sob o véu ideológico que a conduziu nos anos da troika. Algumas das políticas do governo de Passos Coelho eram inevitáveis devido à situação em que nos encontrávamos e às exigências dos nossos parceiros. Houve, contudo, muitas coisas evitáveis e que qualquer governo dotado de bom senso deveria ter evitado. Era evitável o programa de ir além daquilo que a troika nos impunha. Era evitável a guerra, por motivos ideológicos, que o governo de então, com Passos Coelho na vanguarda, decidiu fazer a uma parte substancial do país, às classes populares, em primeiro lugar, e às classes médias, de seguida.
As políticas do governo suportado pelas esquerdas são muito diferentes das do governo anterior? Não e sim. A política de contenção dos gastos, de redução do défice e de cumprimento dos compromissos europeus continuam a ser aplicadas, até de forma mais eficiente. As políticas de austeridade, apesar da retórica em contrário, mantêm-se. Mesmo as devoluções de rendimentos na função pública estão muito longe de serem completas. O que mudou foi a maneira como o governo olha para o todo nacional. Mais do que pôr fim à austeridade, o mérito deste governo – com a ajuda, diga-se, do Presidente da República – é o de ter posto fim a uma espécie de guerra civil simbólica, mas de resultados muito reais, que o anterior tinha desencadeado. Quando se fala em distensão do clima político e social, o que se quer dizer é que o espírito de comunidade foi reconstruído pela actual maioria. Onde o governo anterior excluiu, as esquerdas estão, lentamente, a incluir.
E esta inclusão, muitas vezes simbólica, não é pouca coisa. Contribui para criar espírito de inclusão no todo nacional e, em vez de humilhar as pessoas, como foi feito muitas vezes pelo governo de Passos Coelho, ajuda-as à ganhar coragem para enfrentarem a difícil situação em que não deixámos de estar. Todos nos sentimos agora parte da comunidade política. Preocupante é que a direita, em vez de reconhecer a falência da sua deriva ideológica, continua saudosa do projecto de perseguição das classes populares, através de uma legislação feroz de restrição de direitos, e das classes médias, por intermédio da política fiscal. Esperemos apenas que as esquerdas não embandeirem em arco com os resultados obtidos até agora e não entreguem a governação aos que continuam dispostos a fazer de Portugal um país da América Latina.
O véu ideológico
Opinião » 2017-05-18 » Jorge Carreira MaiaMais do que pôr fim à austeridade, o mérito deste governo é o de ter posto fim a uma espécie de guerra civil simbólica, mas de resultados muito reais, que o anterior tinha desencadeado.
A reivindicação pelo PSD e CDS do mérito pelo actual desempenho da economia portuguesa é não apenas uma jogada de oportunismo político mas, o que é pior, um sinal de que a direita ainda vive sob o véu ideológico que a conduziu nos anos da troika. Algumas das políticas do governo de Passos Coelho eram inevitáveis devido à situação em que nos encontrávamos e às exigências dos nossos parceiros. Houve, contudo, muitas coisas evitáveis e que qualquer governo dotado de bom senso deveria ter evitado. Era evitável o programa de ir além daquilo que a troika nos impunha. Era evitável a guerra, por motivos ideológicos, que o governo de então, com Passos Coelho na vanguarda, decidiu fazer a uma parte substancial do país, às classes populares, em primeiro lugar, e às classes médias, de seguida.
As políticas do governo suportado pelas esquerdas são muito diferentes das do governo anterior? Não e sim. A política de contenção dos gastos, de redução do défice e de cumprimento dos compromissos europeus continuam a ser aplicadas, até de forma mais eficiente. As políticas de austeridade, apesar da retórica em contrário, mantêm-se. Mesmo as devoluções de rendimentos na função pública estão muito longe de serem completas. O que mudou foi a maneira como o governo olha para o todo nacional. Mais do que pôr fim à austeridade, o mérito deste governo – com a ajuda, diga-se, do Presidente da República – é o de ter posto fim a uma espécie de guerra civil simbólica, mas de resultados muito reais, que o anterior tinha desencadeado. Quando se fala em distensão do clima político e social, o que se quer dizer é que o espírito de comunidade foi reconstruído pela actual maioria. Onde o governo anterior excluiu, as esquerdas estão, lentamente, a incluir.
E esta inclusão, muitas vezes simbólica, não é pouca coisa. Contribui para criar espírito de inclusão no todo nacional e, em vez de humilhar as pessoas, como foi feito muitas vezes pelo governo de Passos Coelho, ajuda-as à ganhar coragem para enfrentarem a difícil situação em que não deixámos de estar. Todos nos sentimos agora parte da comunidade política. Preocupante é que a direita, em vez de reconhecer a falência da sua deriva ideológica, continua saudosa do projecto de perseguição das classes populares, através de uma legislação feroz de restrição de direitos, e das classes médias, por intermédio da política fiscal. Esperemos apenas que as esquerdas não embandeirem em arco com os resultados obtidos até agora e não entreguem a governação aos que continuam dispostos a fazer de Portugal um país da América Latina.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato |
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» Pedro Ferreira
A carne e os ossos - pedro borges ferreira |