2016-2017
Opinião » 2016-12-28 » Jorge Carreira Maia"O país foi governado a partir de uma maioria de esquerda e, nem por um instante, os compromissos de Portugal, com a União Europeia e a NATO, foram postos em causa."
O ano de 2016, do ponto de vista da política interna, foi marcado pela descoberta, por muita gente, da inexistência em Portugal de organizações políticas radicais e extremistas. Aquilo que para alguns, muito poucos, já era claro – o facto de tanto o BE como o PCP perseguirem na prática, para além da retórica discursiva para consumo interno dos respectivos partidos, objectivos políticos moderados e de pendor social-democrata – tornou-se agora patente. O país foi governado a partir de uma maioria de esquerda e, nem por um instante, os compromissos de Portugal, com a União Europeia e a NATO, foram postos em causa. O que se assistiu foi a uma recomposição tímida do tecido social destruído pela intervenção da troika e pelos governos de Sócrates e de Passos Coelho.
É verdade que a direita política e, fundamentalmente, a direita presente nos blogues e colunas de opinião, tanto nos jornais como nas televisões, não se cansa de gritar que somos governados pela extrema-esquerda ou pela esquerda radical. O fascínio que o mantra provoca nesses grupos é tanto que não têm percebido duas coisas fundamentais. A primeira é que fora desses círculos ninguém leva o mantra a sério e, mais do que isso, ninguém tem medo, nas actuais circunstâncias, da aproximação ao poder do BE e do PCP. Como arma eleitoral não funciona. A segunda, mais grave para a direita, é que ela não percebeu que o governo de Passos Coelho, cego pelo delírio neoliberal, abandonou o centro (aquele centro que tanto Sá Carneiro como Cavaco Silva disputaram com êxito à esquerda) e entregou-o de mão beijada não só ao PS mas ao BE e ao PCP.
O ano de 2017 será diferente, por razões externas e internas. Externamente, devido à vitória de Donald Trump nos EUA e ao realinhamento geopolítico que isso vai implicar, independentemente do que se passar nas eleições em França e na Alemanha. É possível que se assista a uma reconfiguração dos processos de globalização e da pressão que esta tem exercido sobre a vida política dos Estados-Nação. Internamente, as actuais movimentações no PSD para defenestrar Passos Coelho são um sintoma de que a direita percebeu que a aventura passista lhe alienou o centro. Neste momento, procura um condottiero que a reconduza à disputa do centro e ao poder. Rui Rio parece ter as qualidades necessárias para ser esse chefe da direita. Estas duas hipotéticas alterações trazem novos desafios à esquerda. Se ela quiser continuar a determinar a evolução política do país, tem de olhar para o que vem aí e deixar os fantasmas de Passos e da sua governação na casa assombrada que é a deles.
Um bom ano de 2017.
2016-2017
Opinião » 2016-12-28 » Jorge Carreira MaiaO país foi governado a partir de uma maioria de esquerda e, nem por um instante, os compromissos de Portugal, com a União Europeia e a NATO, foram postos em causa.
O ano de 2016, do ponto de vista da política interna, foi marcado pela descoberta, por muita gente, da inexistência em Portugal de organizações políticas radicais e extremistas. Aquilo que para alguns, muito poucos, já era claro – o facto de tanto o BE como o PCP perseguirem na prática, para além da retórica discursiva para consumo interno dos respectivos partidos, objectivos políticos moderados e de pendor social-democrata – tornou-se agora patente. O país foi governado a partir de uma maioria de esquerda e, nem por um instante, os compromissos de Portugal, com a União Europeia e a NATO, foram postos em causa. O que se assistiu foi a uma recomposição tímida do tecido social destruído pela intervenção da troika e pelos governos de Sócrates e de Passos Coelho.
É verdade que a direita política e, fundamentalmente, a direita presente nos blogues e colunas de opinião, tanto nos jornais como nas televisões, não se cansa de gritar que somos governados pela extrema-esquerda ou pela esquerda radical. O fascínio que o mantra provoca nesses grupos é tanto que não têm percebido duas coisas fundamentais. A primeira é que fora desses círculos ninguém leva o mantra a sério e, mais do que isso, ninguém tem medo, nas actuais circunstâncias, da aproximação ao poder do BE e do PCP. Como arma eleitoral não funciona. A segunda, mais grave para a direita, é que ela não percebeu que o governo de Passos Coelho, cego pelo delírio neoliberal, abandonou o centro (aquele centro que tanto Sá Carneiro como Cavaco Silva disputaram com êxito à esquerda) e entregou-o de mão beijada não só ao PS mas ao BE e ao PCP.
O ano de 2017 será diferente, por razões externas e internas. Externamente, devido à vitória de Donald Trump nos EUA e ao realinhamento geopolítico que isso vai implicar, independentemente do que se passar nas eleições em França e na Alemanha. É possível que se assista a uma reconfiguração dos processos de globalização e da pressão que esta tem exercido sobre a vida política dos Estados-Nação. Internamente, as actuais movimentações no PSD para defenestrar Passos Coelho são um sintoma de que a direita percebeu que a aventura passista lhe alienou o centro. Neste momento, procura um condottiero que a reconduza à disputa do centro e ao poder. Rui Rio parece ter as qualidades necessárias para ser esse chefe da direita. Estas duas hipotéticas alterações trazem novos desafios à esquerda. Se ela quiser continuar a determinar a evolução política do país, tem de olhar para o que vem aí e deixar os fantasmas de Passos e da sua governação na casa assombrada que é a deles.
Um bom ano de 2017.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |