O rancor de Cavaco
Opinião » 2015-10-24 » Jorge Carreira Maia"Cavaco Silva é o homem que, de longe, mais vitórias políticas obteve no Portugal democrático. É um dos grandes responsáveis pela natureza do regime e pelo aspecto que ele tem. Mas podemos dizer que Cavaco foi de vitória em vitória até à derrota final."
O rancor de Cavaco na comunicação da indigitação de Passos Coelho incendiou os ânimos de toda a esquerda, a qual, recorde-se, obteve mais de 50% dos votos e possui, se unida, uma maioria parlamentar. O que incendiou a esquerda não foi a indicação do líder do PSD para primeiro-ministro. Isso é absolutamente constitucional e, na minha óptica, era a única coisa que Cavaco Silva devia fazer. O que fez os ânimos exaltarem-se foi o despudorado apelo à sedição e concomitante traição nas hostes dos socialistas e a exclusão na participação de soluções governativas que foi sentenciada aos representantes de quase 20% dos eleitores.
Mais que um rancor político – que também o é – a comunicação de Cavaco é o retrato de um homem derrotado, de um homem que nunca compreendeu a natureza do regime democrático (onde foi tão bem tratado). Derrotado porquê, perguntará o leitor. Cavaco Silva é o homem que, de longe, mais vitórias políticas obteve no Portugal democrático. É um dos grandes responsáveis pela natureza do regime e pelo aspecto que ele tem. Mas podemos dizer que Cavaco foi de vitória em vitória até à derrota final.
Quando se apresta para sair da vida política, depois de 10 anos em Belém, ele, que recebeu um país pacificado, vai deixar o quê? Ele passou os mandatos a falar no consenso dos partidos do arco da governação, embora nunca tenha feito nada para moderar o extremismo do governo e a ânsia de vingança que habitou a maioria absoluta de Passos Coelho e Paulo Portas. Protegeu as tropelias de Portas e as palavras torpes que foram dirigidas aos portugueses mais fracos. Protegeu todas as opções que enfraqueceram as classes médias e deitaram ao desprezo os sectores mais frágeis. O apelo ao consenso foi sempre um apelo para que os socialistas assinassem por baixo os desvarios do governo cessante. Lembram-se de o ir além da troika?
Qual vai ser o legado da magistratura de influência de Cavaco Silva, o legado do seu desprezo pela política e do seu amor à união nacional? Enumeremos o legado: as classes médias destruídas e a consequente destruição do centro político; a sua maioria (PSD+CDS), apesar de sistematicamente protegida por si, em minoria; o país completamente dividido em duas facções, ambas em fronda aberta, ambas despeitadas; um Partido Socialista, que fora sempre um moderador da política nacional, em luta para não desaparecer e, por isso, a encostar-se à sua esquerda; os dois partidos críticos dos actuais caminhos da Europa com um milhão de eleitores, com mais de 18% dos votos e às portas da governação. Este é o legado de Cavaco Silva. É obra.
O rancor de Cavaco
Opinião » 2015-10-24 » Jorge Carreira MaiaCavaco Silva é o homem que, de longe, mais vitórias políticas obteve no Portugal democrático. É um dos grandes responsáveis pela natureza do regime e pelo aspecto que ele tem. Mas podemos dizer que Cavaco foi de vitória em vitória até à derrota final.
O rancor de Cavaco na comunicação da indigitação de Passos Coelho incendiou os ânimos de toda a esquerda, a qual, recorde-se, obteve mais de 50% dos votos e possui, se unida, uma maioria parlamentar. O que incendiou a esquerda não foi a indicação do líder do PSD para primeiro-ministro. Isso é absolutamente constitucional e, na minha óptica, era a única coisa que Cavaco Silva devia fazer. O que fez os ânimos exaltarem-se foi o despudorado apelo à sedição e concomitante traição nas hostes dos socialistas e a exclusão na participação de soluções governativas que foi sentenciada aos representantes de quase 20% dos eleitores.
Mais que um rancor político – que também o é – a comunicação de Cavaco é o retrato de um homem derrotado, de um homem que nunca compreendeu a natureza do regime democrático (onde foi tão bem tratado). Derrotado porquê, perguntará o leitor. Cavaco Silva é o homem que, de longe, mais vitórias políticas obteve no Portugal democrático. É um dos grandes responsáveis pela natureza do regime e pelo aspecto que ele tem. Mas podemos dizer que Cavaco foi de vitória em vitória até à derrota final.
Quando se apresta para sair da vida política, depois de 10 anos em Belém, ele, que recebeu um país pacificado, vai deixar o quê? Ele passou os mandatos a falar no consenso dos partidos do arco da governação, embora nunca tenha feito nada para moderar o extremismo do governo e a ânsia de vingança que habitou a maioria absoluta de Passos Coelho e Paulo Portas. Protegeu as tropelias de Portas e as palavras torpes que foram dirigidas aos portugueses mais fracos. Protegeu todas as opções que enfraqueceram as classes médias e deitaram ao desprezo os sectores mais frágeis. O apelo ao consenso foi sempre um apelo para que os socialistas assinassem por baixo os desvarios do governo cessante. Lembram-se de o ir além da troika?
Qual vai ser o legado da magistratura de influência de Cavaco Silva, o legado do seu desprezo pela política e do seu amor à união nacional? Enumeremos o legado: as classes médias destruídas e a consequente destruição do centro político; a sua maioria (PSD+CDS), apesar de sistematicamente protegida por si, em minoria; o país completamente dividido em duas facções, ambas em fronda aberta, ambas despeitadas; um Partido Socialista, que fora sempre um moderador da política nacional, em luta para não desaparecer e, por isso, a encostar-se à sua esquerda; os dois partidos críticos dos actuais caminhos da Europa com um milhão de eleitores, com mais de 18% dos votos e às portas da governação. Este é o legado de Cavaco Silva. É obra.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
|
Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |