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Êxodos de ontem e de hoje

Opinião  »  2015-09-10  »  Maria Augusta Torcato

"DO RIO E DAS MARGENS"

Os tempos que foram e os tempos que são têm marcas gravadas em si que perdurarão. Entre essas marcas estão os êxodos. Os tempos que virão, porventura, continuarão a tatuar no seu corpo o que representa qualquer êxodo: a fuga à pobreza; a fuga à guerra; a fuga aos extremismos religiosos ou políticos; a fuga às ditaduras e opressões; a fuga à miséria; a fuga à morte física ou psicológica.

Olha-se para o passado e para o presente e o paralelismo que se lhes encontra é tão acentuado que quase magoa. Os refugiados e migrantes que atravessam agora o mar Mediterrâneo lembram a fuga dos hebreus do Egito. O mar, porém, para aqueles, não se abre, para lhes permitir a passagem e a libertação, antes, enrola-os nos seus braços e adormece-os, como a precaver o sofrimento que ainda advirá. Todos os que chegam ou desejam chegar à Europa, na busca de uma vida, lembram os judeus durante a segunda guerra mundial, os que conseguiram escapar, os que morreram e os que foram enviados para os campos de concentração nazis. Revivem-se as fugas ou as tentativas de fuga; a restrição a espaços, aparentemente, de ninguém; o depósito em campos; a construção de muros e barreiras de arame farpado; os comboios apinhados; os acantonamentos, os magotes de gente cansada, suja, com fome e sede que traz a vida em sacos de plástico ou mochilas. Revivem-se os polícias armados, algumas vozes compassivas, mas que não têm eco, a indiferença, o alheamento e a incapacidade de decisão dos que, tendo responsabilidades políticas, sociais e humanas, receosos da alteração à ordem estabelecida, adiam as ações, como se uma vida humana, seja de um adulto ou de uma criança, se compadecesse com esperas.

Por muita pena que se tenha, por muito solidário que se seja, o que se percebe é que, para a maioria das pessoas, o melhor era fazer-se alguma coisa, mas longe, quanto mais longe melhor. Longe da vista, longe do coração. O grande problema é que só não vê quem não quer mesmo.

Toda a estrutura social que nós conhecemos e integramos terá, inevitavelmente, de ser reformulada. As divisões, as desigualdades, as discriminações, o ódio por povos, culturas e religiões diferentes são inaceitáveis e não contribuem, de todo, para a melhoria da vida humana. Muito pelo contrário, confluem, precisamente, para os êxodos, logo, são responsáveis pelas suas causas.

Diz-se que os perigos são reais, mas o medo é uma escolha. Quem arrisca a vida, dispondo-a para a morte, aparentemente de modo tão fácil, na travessia de um mar num bote inseguro, no salto para um comboio em movimento, num rastejar sob arame farpado, num esconderijo sem ar, na confiança depositada num criminoso, parece ter escolhido não ter medo. Resta perceber o quanto lhe custou chegar a esse estado em que a morte parece ser melhor do que a vida. Paradoxalmente, é a ânsia, desejo e busca de uma outra vida que parece justificar o risco e perigo de morte. Tudo valerá a pena se…se se chegar a um espaço que permita ser pessoa. Paradoxalmente, qualquer pessoa tem direito a um espaço onde possa ser pessoa. Paradoxalmente, nem todas as pessoas conseguem ser pessoas, ou reconhecidas como tal, mesmo num espaço de pessoas.

O pior êxodo é o que o ser humano faz de si próprio, quando faz emigrar de si toda a empatia e humanismo. E este tipo de êxodo, curiosamente, parece estar a assolar aqueles que não cumprem os requisitos de integração num êxodo e que são os arquétipos dos que personificam os êxodos.

Quanto vale, para cada um de nós, uma vida humana? Será que há vidas e vidas? E nós? Em quais vidas nos incluímos?

 

 

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