As eleições em Loures
Opinião » 2017-09-07 » Jorge Carreira Maia"Num momento em que a esquerda centralizou em si a agenda social-democrata, será uma grande tentação para o PSD – (...) – deixar o seu discurso resvalar para o que há de pior."
De todas as eleições municipais, a mais importante é a de Loures. Isso deve-se à mobilização por André Ventura (PSD) de temas que têm estado afastados da vida política nacional. As suas declarações sobre os ciganos geraram um enorme burburinho, repúdio por parte da generalidade do mainstream político, mas também apoio em certas franjas da direita que habita nas redes sociais. Passos Coelho, contrariamente a Assunção Cristas, recusou-se a retirar o apoio ao candidato, o que tem um óbvio significado político sobre a procura de uma agenda, por parte do PSD, que permita afirmar-se contra a esquerda. As eleições de Loures, onde a direita, nas últimas autárquicas, teve uma votação marginal, podem dizer-nos muito sobre a evolução do debate político nacional.
André Ventura, de forma estridente, possivelmente racista, ao focar os ciganos, e populista, coloca uma questão fundamental. Como controla o Estado o conjunto de prestações sociais que atribui? O problema da suspeita da existência de subsídios injustamente atribuídos – seja o chamado rendimento mínimo, ou o subsídio de desemprego, ou o de doença, etc. – não se restringe aos ciganos, havendo um rancor social larvar alimentado por uma persistente suspeita de injustiça. A única maneira de conter esse rancor é assegurar que as prestações sociais são justa e adequadamente atribuídas, com um controlo eficaz. Do ponto de vista popular, o ressentimento com estas situações é sentido de forma muito mais aguda do que a corrupção de alto nível e a grande subsidiação às elites. Uma sondagem mostra que 68% dos portugueses – tanto da esquerda como da direita – está de acordo com André Ventura. Isto é um aviso sobre o que pode vir aí, se o Estado e os agentes políticos se demitirem de encarar o problema de frente.
Se André Ventura tiver uma votação modesta, ainda que um pouco superior à obtida pelo PSD, nas últimas autárquicas, a coisa, por enquanto, morre por aí. Se obtiver uma votação espectacular em Loures, temos um problema enorme entre mãos. Num momento em que a esquerda centralizou em si a agenda social-democrata, será uma grande tentação para o PSD – um partido até aqui exemplar neste tipo de questões – deixar o seu discurso resvalar para o que há de pior. A esquerda, nomeadamente o PCP, se não está muito preocupada, deveria estar. Em França foi este tipo de discurso vindo da Frente Nacional que liquidou o PCF. Pior do que isso, Portugal corre o risco de trocar a discussão sobre o seu futuro pela algazarra populista à volta de uma agenda fundada no ressentimento e na inveja.
As eleições em Loures
Opinião » 2017-09-07 » Jorge Carreira MaiaNum momento em que a esquerda centralizou em si a agenda social-democrata, será uma grande tentação para o PSD – (...) – deixar o seu discurso resvalar para o que há de pior.
De todas as eleições municipais, a mais importante é a de Loures. Isso deve-se à mobilização por André Ventura (PSD) de temas que têm estado afastados da vida política nacional. As suas declarações sobre os ciganos geraram um enorme burburinho, repúdio por parte da generalidade do mainstream político, mas também apoio em certas franjas da direita que habita nas redes sociais. Passos Coelho, contrariamente a Assunção Cristas, recusou-se a retirar o apoio ao candidato, o que tem um óbvio significado político sobre a procura de uma agenda, por parte do PSD, que permita afirmar-se contra a esquerda. As eleições de Loures, onde a direita, nas últimas autárquicas, teve uma votação marginal, podem dizer-nos muito sobre a evolução do debate político nacional.
André Ventura, de forma estridente, possivelmente racista, ao focar os ciganos, e populista, coloca uma questão fundamental. Como controla o Estado o conjunto de prestações sociais que atribui? O problema da suspeita da existência de subsídios injustamente atribuídos – seja o chamado rendimento mínimo, ou o subsídio de desemprego, ou o de doença, etc. – não se restringe aos ciganos, havendo um rancor social larvar alimentado por uma persistente suspeita de injustiça. A única maneira de conter esse rancor é assegurar que as prestações sociais são justa e adequadamente atribuídas, com um controlo eficaz. Do ponto de vista popular, o ressentimento com estas situações é sentido de forma muito mais aguda do que a corrupção de alto nível e a grande subsidiação às elites. Uma sondagem mostra que 68% dos portugueses – tanto da esquerda como da direita – está de acordo com André Ventura. Isto é um aviso sobre o que pode vir aí, se o Estado e os agentes políticos se demitirem de encarar o problema de frente.
Se André Ventura tiver uma votação modesta, ainda que um pouco superior à obtida pelo PSD, nas últimas autárquicas, a coisa, por enquanto, morre por aí. Se obtiver uma votação espectacular em Loures, temos um problema enorme entre mãos. Num momento em que a esquerda centralizou em si a agenda social-democrata, será uma grande tentação para o PSD – um partido até aqui exemplar neste tipo de questões – deixar o seu discurso resvalar para o que há de pior. A esquerda, nomeadamente o PCP, se não está muito preocupada, deveria estar. Em França foi este tipo de discurso vindo da Frente Nacional que liquidou o PCF. Pior do que isso, Portugal corre o risco de trocar a discussão sobre o seu futuro pela algazarra populista à volta de uma agenda fundada no ressentimento e na inveja.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
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» 2024-03-18
» Hélder Dias
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» 2024-03-08
» Pedro Ferreira
A carne e os ossos - pedro borges ferreira |