Perigo! PS e Presidente da República em manobras - josé alves pereira
Opinião » 2021-11-09 » José Alves Pereira" “O medo do retorno da direita não pode constituir o cimento aglutinador necessário a uma alternativa de esquerda, tolhendo a reflexão e aceitando qualquer coisa como ideia de programa."
A rejeição do O.E. e o seu desmedido empolamento, arrastaram na ventania da pressão mediática gente, mesmo de esquerda, que perdeu o bom senso e a serenidade. Importa, pois, voltar a 2015, relembrando factos. Para fazer face ao retrocesso da governação PSD/CDS de ir além da troika na retirada de direitos e rendimentos, formou-se um governo minoritário do PS. Não era de incidência parlamentar ou de maioria de esquerda, nem havia sequer um compromisso de aprovações orçamentais. Visava, tão somente, reverter as medidas gravosas do anterior governo, na base de um documento escrito e calendarizado, acordado com o PCP/BE e PEV e que se foram concretizando ao longo da legislatura até 2019. Recorde-se que nenhuma das medidas implementadas fazia parte do programa com que o PS se apresentou às eleições que incluía, isso sim, a manutenção do corte dos salários da Função Pública e o congelamento das pensões.
Sem esse compromisso escrito, o PS sabia que não teria o apoio da restante esquerda e que portanto não seria governo. Muitos dos passos positivos de que o PS se ufana hoje, foram sendo implementados a contra gosto e com grande reserva mental. Com a as eleições legislativas de 2019, o PS pensou que chegaria à maioria absoluta, o que não se verificou. Tomou então como método de acção o balanceamento, ora com o PCP/BE/PEV, ora com o PSD/CDS e seus sucedâneos, sendo que aos partidos à sua esquerda estava reservado o papel de muleta e adorno a quem impunha a obrigatoriedade de aprovação dos orçamentos, sob a chantagem de um retorno ao passado de má memória. Durante o resto do ano, entendia-se com a direita na aprovação de medidas de retrocesso social.
E chegou-se ao orçamento para 2022. Depois de horas e horas de discussões, foi-lhe pedido que concretizasse por escrito, com calendarização, a aceitação das medidas já acordadas. Recusou fazê-lo. O motivo saltava à vista: queria ficar com as mãos livres para as não concretizar, como fizera nos últimos dois anos. Aprova-se, faz-se propaganda, iludem-se as pessoas e na realidade fica tudo na gaveta, em cativações, desculpas e omissões. Ou calendariza-se para um dia, lá mais para diante, a submeter à Assembleia da República e ser rejeitada pelos votos do mesmo PS com toda a direita.
Quando as propostas parecem irrecusáveis, utiliza uma técnica que exemplifico de um modo geográfico: um partido à sua esquerda apresenta uma medida que implica ir de Lisboa ao Porto; o PS diz que aprova e publicita que até vai ao seu encontro. Em letras pequeninas, como nos contratos maliciosos, anuncia para este ano a ida até Alverca, para o ano ao Carregado e assim sucessivamente, chegando ao Porto daqui a dez anos … se ainda for governo e não arranjar entretanto outro alibi. É a sonsice para “engonhar” a proposta.
Nestes dias assistimos a um processo de mistificação, dramatização e chantagem por vários protagonistas, com relevo para a lamentável intromissão no debate exercida pelo Presidente da República, tendo subjacente uma estratégia, implícita, com o primeiro-ministro, para provocar eleições antecipadas que possam levar os seus correligionários da direita ao poder ou conceder uma maioria absoluta ao PS, que o desobrigue de compromissos à esquerda. Este comportamento é que deve preocupar e indignar qualquer democrata.
Evitando discutir a substância do que estava em debate, os habituais analistas de serviço envolvem-se em especulações que outra coisa não visam que profetizar responsáveis por uma crise inexistente. A direita vai escondendo as suas ideias sob uma discurso desagregador, porque não pode dizer ao que vem. O PS praticando uma política de paliativos sociais, anunciando migalhas para iludir incautos, acobertado num palavrório que auto designam de esquerda. A esquerda em que me insiro nunca acalentou quaisquer ilusões sobre os objectivos do governo e do PS. Só os ingénuos ou desmemoriados poderiam ter a estultícia de acreditar que poderia ser outra coisa.
Perante o agravamento das dificuldades e do descontentamento com o SNS, da precarização das relações laborais, da pobreza que se manifesta em pensionistas e reformados e mesmo em pessoas que trabalham, a manutenção de uma percepção pública de que a esquerda no seu conjunto era a responsável, deixava o campo aberto às aventuras reaccionárias da direita e extrema-direita. Não aprovar este orçamento significou, pois, resistir à chantagem, deixando o PS entregue à sua ambição de poder absoluto e à assunção das suas responsabilidades. À restante esquerda, resta continuar a propositura de medidas, batendo-se por elas e esclarecendo, mantendo a chama da esperança de que uma política alternativa é não só possível mas cada vez mais necessária.
O medo do retorno da direita não pode constituir o cimento aglutinador necessário a uma alternativa de esquerda, tolhendo a reflexão e aceitando qualquer coisa como ideia de programa com o fito de subir votos no curto prazo, mas defraudando expectativas e anseios. Será bom não esquecer que anos e anos de políticas de direita levadas a cabo pelos governos do PS/PSD/CDS, por separado ou em coligações, serviram para privatizar empresas, entregando-as ao capital nacional e estrangeiro, desinvestindo em sectores estratégicos, beneficiando clientelas, destruindo importantes núcleos industriais e produtivos, permitindo a fuga de capitais para offshores e a existência de empresas que, trabalhando em Portugal, têm as sedes e pagam impostos no estrangeiro. No essencial, é isto que este orçamento pretende continuar, acobertado por uma ladainha progressista. Ser de esquerda implica, além da postura política e ideológica, um pensamento quotidiano autónomo e independente que resista ao cerco, à pressão, e à desinformação de jornais, canais televisivos e comentadores ao serviço da casta dominante. Quem leva alguns anos de avanço já assistiu a manobras semelhantes e conhece, de experiência adquirida, os objectivos e as intenções dos seus protagonistas. Sempre os pilriteiros deram pilritos.
Perigo! PS e Presidente da República em manobras - josé alves pereira
Opinião » 2021-11-09 » José Alves Pereira“O medo do retorno da direita não pode constituir o cimento aglutinador necessário a uma alternativa de esquerda, tolhendo a reflexão e aceitando qualquer coisa como ideia de programa.
A rejeição do O.E. e o seu desmedido empolamento, arrastaram na ventania da pressão mediática gente, mesmo de esquerda, que perdeu o bom senso e a serenidade. Importa, pois, voltar a 2015, relembrando factos. Para fazer face ao retrocesso da governação PSD/CDS de ir além da troika na retirada de direitos e rendimentos, formou-se um governo minoritário do PS. Não era de incidência parlamentar ou de maioria de esquerda, nem havia sequer um compromisso de aprovações orçamentais. Visava, tão somente, reverter as medidas gravosas do anterior governo, na base de um documento escrito e calendarizado, acordado com o PCP/BE e PEV e que se foram concretizando ao longo da legislatura até 2019. Recorde-se que nenhuma das medidas implementadas fazia parte do programa com que o PS se apresentou às eleições que incluía, isso sim, a manutenção do corte dos salários da Função Pública e o congelamento das pensões.
Sem esse compromisso escrito, o PS sabia que não teria o apoio da restante esquerda e que portanto não seria governo. Muitos dos passos positivos de que o PS se ufana hoje, foram sendo implementados a contra gosto e com grande reserva mental. Com a as eleições legislativas de 2019, o PS pensou que chegaria à maioria absoluta, o que não se verificou. Tomou então como método de acção o balanceamento, ora com o PCP/BE/PEV, ora com o PSD/CDS e seus sucedâneos, sendo que aos partidos à sua esquerda estava reservado o papel de muleta e adorno a quem impunha a obrigatoriedade de aprovação dos orçamentos, sob a chantagem de um retorno ao passado de má memória. Durante o resto do ano, entendia-se com a direita na aprovação de medidas de retrocesso social.
E chegou-se ao orçamento para 2022. Depois de horas e horas de discussões, foi-lhe pedido que concretizasse por escrito, com calendarização, a aceitação das medidas já acordadas. Recusou fazê-lo. O motivo saltava à vista: queria ficar com as mãos livres para as não concretizar, como fizera nos últimos dois anos. Aprova-se, faz-se propaganda, iludem-se as pessoas e na realidade fica tudo na gaveta, em cativações, desculpas e omissões. Ou calendariza-se para um dia, lá mais para diante, a submeter à Assembleia da República e ser rejeitada pelos votos do mesmo PS com toda a direita.
Quando as propostas parecem irrecusáveis, utiliza uma técnica que exemplifico de um modo geográfico: um partido à sua esquerda apresenta uma medida que implica ir de Lisboa ao Porto; o PS diz que aprova e publicita que até vai ao seu encontro. Em letras pequeninas, como nos contratos maliciosos, anuncia para este ano a ida até Alverca, para o ano ao Carregado e assim sucessivamente, chegando ao Porto daqui a dez anos … se ainda for governo e não arranjar entretanto outro alibi. É a sonsice para “engonhar” a proposta.
Nestes dias assistimos a um processo de mistificação, dramatização e chantagem por vários protagonistas, com relevo para a lamentável intromissão no debate exercida pelo Presidente da República, tendo subjacente uma estratégia, implícita, com o primeiro-ministro, para provocar eleições antecipadas que possam levar os seus correligionários da direita ao poder ou conceder uma maioria absoluta ao PS, que o desobrigue de compromissos à esquerda. Este comportamento é que deve preocupar e indignar qualquer democrata.
Evitando discutir a substância do que estava em debate, os habituais analistas de serviço envolvem-se em especulações que outra coisa não visam que profetizar responsáveis por uma crise inexistente. A direita vai escondendo as suas ideias sob uma discurso desagregador, porque não pode dizer ao que vem. O PS praticando uma política de paliativos sociais, anunciando migalhas para iludir incautos, acobertado num palavrório que auto designam de esquerda. A esquerda em que me insiro nunca acalentou quaisquer ilusões sobre os objectivos do governo e do PS. Só os ingénuos ou desmemoriados poderiam ter a estultícia de acreditar que poderia ser outra coisa.
Perante o agravamento das dificuldades e do descontentamento com o SNS, da precarização das relações laborais, da pobreza que se manifesta em pensionistas e reformados e mesmo em pessoas que trabalham, a manutenção de uma percepção pública de que a esquerda no seu conjunto era a responsável, deixava o campo aberto às aventuras reaccionárias da direita e extrema-direita. Não aprovar este orçamento significou, pois, resistir à chantagem, deixando o PS entregue à sua ambição de poder absoluto e à assunção das suas responsabilidades. À restante esquerda, resta continuar a propositura de medidas, batendo-se por elas e esclarecendo, mantendo a chama da esperança de que uma política alternativa é não só possível mas cada vez mais necessária.
O medo do retorno da direita não pode constituir o cimento aglutinador necessário a uma alternativa de esquerda, tolhendo a reflexão e aceitando qualquer coisa como ideia de programa com o fito de subir votos no curto prazo, mas defraudando expectativas e anseios. Será bom não esquecer que anos e anos de políticas de direita levadas a cabo pelos governos do PS/PSD/CDS, por separado ou em coligações, serviram para privatizar empresas, entregando-as ao capital nacional e estrangeiro, desinvestindo em sectores estratégicos, beneficiando clientelas, destruindo importantes núcleos industriais e produtivos, permitindo a fuga de capitais para offshores e a existência de empresas que, trabalhando em Portugal, têm as sedes e pagam impostos no estrangeiro. No essencial, é isto que este orçamento pretende continuar, acobertado por uma ladainha progressista. Ser de esquerda implica, além da postura política e ideológica, um pensamento quotidiano autónomo e independente que resista ao cerco, à pressão, e à desinformação de jornais, canais televisivos e comentadores ao serviço da casta dominante. Quem leva alguns anos de avanço já assistiu a manobras semelhantes e conhece, de experiência adquirida, os objectivos e as intenções dos seus protagonistas. Sempre os pilriteiros deram pilritos.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
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