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A história de Gilberto Fernandes dos Santos, que mandou fazer a imagem de Nossa Senhora de Fátima

Sociedade  »  2017-05-09 

Comerciante torrejano teve papel destacado nos acontecimentos da Cova da Iria

Se há uma personagem difícil de definir no quadro dos intervenientes directos nos acontecimentos da Cova da Iria, ela é Gilberto Fernandes dos Santos, o “Bicancra” de alcunha e assim conhecido na vila de Torres Novas na segunda década do século passado. É verdade que, pelo seu percurso no interior da construção da narrativa dos acontecimentos, Gilberto se expôs demasiado. Era uma figura muito conhecida na vila de Torres Novas e, portanto, foi objecto de uma natural maledicência que, alegadamente, punha a nu as suas contradições e o seu papel “pouco católico” nos negócios que empreendeu associados às “aparições” de Nossa Senhora.


O seu testemunho, claramente legitimador, escrito já década de 50, era Gilberto um homem de negócios em Lisboa, também não abona na procura dos verdadeiros contornos da sua actuação: o livro, que contém algumas contradições e relevantes omissões (Gilberto omite o negócio das latas de “água de Fátima”), é uma tentativa de harmonizar as alegadas convicções do final de vida com o seu incompreendido, digamos assim, trajecto inicial, religando tudo de acordo com o desenho dos acontecimentos já entretanto fixado pela igreja a respeito do que se tinha passado na Cova de Iria a partir de 1917.


Nascido em Torres Novas em 1892, Gilberto Santos morava inicialmente com os pais no Rossio do Carmo e, à data dos acontecimentos, já tentava dar outro fôlego ao negócio de família: uma loja de mercearia e armazém grossista de secos e molhados na rua da Levada,  para além de uma casa de pasto que, dirá ele mais tarde, só lhe deram prejuízo, e outros empreendimentos que não vingaram.


O povo falava de “negócios à Bicancra” para caracterizar os empreendedorismo em que Gilberto se meteu, comparando-os àqueles em que ele se ia entretendo, aparentemente logo a partir de 1917, mas que ele situa apenas em 1920, após ter mandado fazer a imagem de Nossa Senhora de Fátima que hoje se venera na “capela das Aparições”, justificando-se com o facto de, nessa altura, ter começado a aparecer toda a sorte de gente a fazer negócios em Fátima. Então, Gilberto foi a jogo e teria começado, segundo a sua versão, pela obra maior, a oferta da imagem, e só depois poria em pratica outras ideias de negócio.


Na verdade, em Outubro de 1917, na sexta “aparição”, já tinham sido vendidos milhares de pequenas litografias com a cena de Nossa Senhora em cima de uma nuvem sobre azinheira diante dos pastorinhos. Foram impressas em Leiria, onde se encontrava na altura Benevenuto de Sousa, o padre de Outeiro Grande, Torres Novas, que teria também uma história para contar em todo o emaranhado de factos relativos às “aparições”. Curiosamente, a mesma gravura da pagela distribuída a 13 de Outubro era anunciada na edição de 11 do mesmo mês de “O Mensageiro”, semanário católico de Leiria, como estampa para quadro. O mesmo jornal, também curiosamente, fazia publicar numa das edições de Março de 1917, dois meses antes dos acontecimentos, uns versos intitulados “Oração das crianças portuguesas” que antevêem, com enorme nitidez, o enredo das “aparições” iniciadas no mês de Maio que aí vinha.


Entretanto, e voltando ao negócio das pagelas e afins, Gilberto Santos conta no seu livro, sem precisar datas, que foi algumas vezes à Cova da Iria com dois fotógrafos de Torres Novas, João Sá, que tinha estúdio no Largo do Lamego, e António Campos, fotógrafo e cineasta amador torrejano, com atelier no bairro de Valverde,  mas que dessas tentativas não resultaram clichés com a qualidade necessária.


Recorreu Gilberto a um fotógrafo de Lisboa que conseguiu, finalmente, fixar o episódio, depois de muitas tentativas, dada a irrequietude das crianças contratadas e o facto de as ovelhas também não quererem colaborar, dispersando-se ou distraindo os miúdos. Também aqui Gilberto foi tocado pelo divino: conta ele que, na altura em que decorria a sessão fotográfica, uma chuva de florinhas brancas, como neve, começou a cair no sítio onde estaria a azinheira, “uma chuva misteriosa” assim como “pétalas de flores de amendoeira” e que, chegando a cinco metros do chão, se desfaziam. Ele e a família viram tudo, mas o fotógrafo, diz Gilberto, nem por isso, talvez porque estivesse distraído a manejar a maquineta.


Seja como for, e em que data na verdade Gilberto tenha iniciado o negócio das pagelas e dos santinhos (acaba por se descair dizendo que, quando Lúcia esteve uma temporada em casa dos seus pais, em Torres Novas, já havia uma pequena imagem de Nossa Senhora de Fátima no oratório, não explicando se impressa se esculpida), o que deu maior brado foi o empreendimento da “água de Fátima”. As chapas litografadas talvez fossem encomendadas no Porto e chegavam a Torres Novas, onde o latoeiro Lourenço Nunes Clemente, o “Bolas”, com oficina na rua da Levada, onde hoje é a ervanária, as fechava e chumbava depois de enchidas com água da fonte do Bom Amor, localizada à saída de Torres Novas. Gilberto Foi um visionário: a venda que se faz actualmente de garrafinhas de “ar de Fátima” deve muito à inovação de Gilberto, há quase cem anos, de imaginar e concretizar elegantes latinhas de água de Fátima, embora água fosse aquilo que de mais raro havia na altura naquele descampado inóspito da Cova da Iria onde nem um poço se vislumbrava num raio de quilómetros.


Diz-se que esta associação empresarial com o “Bolas”, latoeiro torrejano, pacífica a princípio, se entornou, e que tanto ele como outro latoeiro da vila, José Grego, quiseram autonomamente prosseguir o negócio em paralelo, dada a facilidade de conseguir a matéria-prima. Não há provas de que tenham sido convencidos a deixar o monopólio nas mãos de Gilberto a troco de uma razoável compensação financeira, mas pode muito bem ter assim acontecido. Os negócios “civis” de Gilberto eram, segundo ele dirá, um fiasco e, mais tarde, quando conseguiu comprar uma loja e um andar em Lisboa ao pé da Igreja de Nossa Senhora de Fátima para prosseguir, longe da Cova da Iria e do bispo de Leiria, a venda de artigos religiosos, o pé de meia amealhado com a venda de pagelas, medalhas, santinhos e água, terá sido fundamental.


Os negócios de Gilberto na capital também se devem, claro está, a algo que roça o providencial, como diria o próprio. Andava ele a cirandar na avenida de Berna, isto já nos anos 30, e quem é encontraria por ali? O seu “amigo e conterrâneo” padre Manuel Canastreiro, torrejano, na altura pároco da freguesia de Nossa Senhora de Fátima e que lhe indicou, como auspiciosos, a loja e o andar ali muito próximos da igreja, para vender “artigos religiosos”. E, nestes Gilberto teve êxito confirmado. A má língua torrejana dizia que Gilberto foi, no início das “aparições”, aquilo que Tomás da Fonseca chamou “um recebedor”.

Mais se contava na vila que as primeiros “sacas de dinheiro” vindas da romarias iniciais chegavam a Torres Novas sob a responsabilidade do dr. Carlos de Azevedo Mendes para as verbas serem contadas e daqui seguiam para o patriarcado e que, entretanto, um ou outro elemento do grupo empreeendedor “se ia aproveitando”. Tudo suspeições sem fundamento ou prova provada, típicas da inveja e do espanto da vizinhança, que não percebendo súbitos sinais de riqueza, entrava logo a matar com  um  prevísivel despeito. Foi assim  também com o primeiro prédio de apartamentos a ser construído na vila, um grande empreendimento para a época (falamos já de mais de duas décadas após os acontecimentos da Cova da Iria) e que, em Torres Novas, a tradição oral atribuía, mais uma vez e sem qualquer prova ou fundamento, às "sacas de dinheiro que vinham de Fátima" só porque o promotor era membro dos Servitas de Fátima, organização fundada pelo dr. Carlos de Azevedo Mendes, "O senhor de Fátima".


Na tradição popular torrejana, Gilberto teria maquinado o “teatro das aparições” com um espelho de guarda-vestidos, onde desenhou uma boneca e depois, com umas lanternas, “enganou os cachopos”. A má língua popular também inscreveu a teoria de que Gilberto até era inicialmente anarquista, e que esteve no primeiro grupo que colocou bombas na Cova da Iria. E que virou o bico ao prego das suas convicções só com a mira do negócio que anteviu antes de toda a gente. Esta tese do “teatrinho” foi avançada por Tomás da Fonseca: os cachopos viram uma senhora, sim, mas não era senão a mulher do coronel Genipro, que ali andava em missão cartográfica – para além disto, diz Tomás da Fonseca, os pastorinhos viram depois “o que a lanterna mágica projectava sobre a azinheira”.


É verdade que Gilberto, ele próprio o admitiu, estava longe de ser um católico fervoroso e praticante, mas também nunca tinha sido anarquista, defendeu-se. Talvez não, é bem provável. Mas contam os mais velhos que era rapaz de acompanhar fadistagens e petiscos pelas tabernas da vila e chegou a fazer complot num grupo de convivas onde despontava o muito jovem Faustino Bretes, figura principal do activismo político torrejano, que cedo professou ideias libertárias e anarco.sindicalistas.


Não terá havido bombas em 1917, como inventou o povo, elas só rebentariam em 1922 levando pelos ares o telhado da capelinha, mas na noite de 23 para 24 de Outubro, escassos dias após o “milagre do sol”, ainda em 1917, “jacobinos de Santarém e de Vila Nova de Ourém”, diz o “Bicancra”, foram à Cova da Iria, arrancaram uma azinheira e fizeram com ela “uma paródia”, mas ter-se-ão enganado: não levaram a azinheira onde tinha aparecido a Senhora, mas outra ao lado. Não foi um engano providencial, como defende Gilberto: em Outubro de 1917, na sexta “aparição”, já não havia sinais da referida azinheira, que os devotos tinham arrancado e levado aos bocados, mas apenas um paupérrimo altar feito de três tábuas onde se pendurava um par de lanternas.


Os negócios domésticos de Gilberto, em Torres Novas, não correriam sobre rodas, a crer nas suas palavras, mas não foi por isso que o comerciante torrejano não deixaria de meter em ombros um investimento que ficaria para a história dos acontecimentos da Cova da Iria: Nossa Senhora de Fátima, a imagem de Nossa Senhora de Fátima que está capelinha das Aparições, ídolo conhecido em todo o mundo, aquela que tem incrustada uma bala da tentativa de assassinato de João Paulo II, foi mandada fazer por Gilberto Santos em 1920 e levada de carroça para a Cova da Iria poucos dias antes do dia 13 de Maio desse ano, não sem que tivesse passado por atribuladas peripécias de milagrosa linhagem, isto porque no livro de Gilberto Santos o “milagre” de Fátima replica-se numa série de episódios da sua vida pessoal. Gilberto Santos, deduz-se do seu relato dos anos 50, já era um visionário.


A imagem de Nossa Senhora de Fátima fez a sua inicial e secreta peregrinação de comboio, da estação de Braga até à estação de Torres Novas, à quinta do Minhoto, hoje estação de Riachos/TorresNovas/Golegã. Daqui, veio para a loja de Gilberto Santos, na vila de Torres Novas, até ser levada de carroça para a igreja paroquial de Fátima velha e depois para a capelinha, onde estava sempre, mais tarde, nas romarias de cada dia 13.


Sigamos a adjudicação da imagem. Depois de viagens a Lisboa e de muito matutar sobre o tipo de imagem que deveria comprar para oferecer à capelinha, já entretanto construída (fora concluída em Junho de 1919) e por inspiração do seu Anjo da Guarda, diz convictamente, Gilberto escolheu mandar fazer uma imagem própria a partir do relato dos pastorinhos. Foi a Aljustrel, a casa deles, e colheu o relato de como era a Senhora, de cada um isoladamente, e que transcreve no seu livro: nesta altura, a saia de Nossa Senhora já era até aos pés e não pouco abaixo do joelho, como constava nos primeiras versões contadas por Lúcia. Contactou a Casa Fânzeres, de Braga, e optou por uma imagem de cerca de um metro de altura, para caber no nicho da capelinha, feita no melhor pau de cedro do Brasil.


A verdade é que Gilberto não poderia ter falado com os três pastorinhos nesta precisa altura, já que Francisco tinha morrido antes de estar concluída a capela e Jacinta estava por este tempo internada em Lisboa às portas da morte, morrendo em 20 de Fevereiro de 1920. Talvez Gilberto tivesse ouvido estas informações de Lúcia, quando esta veio passar uma temporada a casa dos seus pais, no Rossio do Carmo, já depois das instruções do cónego Nunes Formigão acerca da paramenta e atributos da Senhora da azinheira.


Foi providencial o facto, conta Gilberto, de o seu grande amigo Cónego Nunes Formigão ter sabido da encomenda da escultura e, mais ainda, de andar por Braga naquele altura: o “Visconde de Montelo” teve assim oportunidade, explica Gilberto, de “contar os detalhes da Aparição” ao santeiro, os quais eram semelhantes aos que recolhera da boca dos miúdos. José Ferreira Thedim, um experiente escultor da casa, foi o autor da escultura, que chegou pelo comboio à estação de Torres Novas na primeira semana de Maio, foi transportada pelos Claras até à garagem e daí para casa de Abel das Neves mesmo em frente, à rua da Trindade, antes de seguir para a casa dos pais de Gilberto, no Rossio do Carmo.


A administração do concelho e as autoridades terão tido conhecimento da vinda da imagem e de uma alegada intenção de Gilberto fazer com ela uma grande procissão até Fátima. Mais uma vez, os prodígios estariam ao lado de Gilberto. Na madrugada que Bicancra escolhera para levar a imagem, uma ronda da GNR andava para “cima e para baixo” junto ao seu portão, n.º 47 do Rossio, a dois passos da porta de armas do quartel de cavalaria, mas na altura em que a pequena carroça saiu, com o caixote de madeira e um molho de feno por cima, os guardas, tocados pela graça, “providencialmente”, diz Gilberto, perfilaram como que a fazerem guarda de honra à imagem, que seguiu pacificamente rumo à serra de Aire, tendo chegado à igreja paroquial de Fátima velha pelas 10 horas da manhã, onde ficou à guarda do pároco, Manuel Bento Moreira.


No preciso momento em que o padre guardava a caixa com a imagem, apareceu “providencialmente” no largo da igreja a vidente Lúcia, que morava em Aljustrel, ainda algo retirado dali, que ao ver a escultura disse que estava muito bem, muito parecida, embora “a Senhora fosse mais bonita”. A ideia de Gilberto era a imagem ser transportada daí a dias, a 13 de maio, da igreja paroquial de Fátima para a Cova da Iria. E nesse dia, chegou ele a Fátima, acompanhado do padre Cruz, a quem escrevera antecipadamente, para que fosse este “santo padre” a benzer a imagem. O padre Cruz chegara a Torres Novas na véspera, dia 12, e de madrugada a comitiva arrancou de charrete pela estrada velha da serra, mas chegada a Fátima, dá-se uma ocorrência que Gilberto não sabe explicar no seu livro (algum desígnio? Alguma norma do direito canónico? - pergunta-se). Seria o padre de Fátima a chegar-se à frente para benzer a imagem, ficando o carismático padre Cruz de mãos a abanar.


Por estas alturas, um pouco mais adiante, terá começado o frisson entre o clero de Fátima/Leiria e Gilberto. Diz-se que foi por ordens expressas do bispo de Leiria, entretanto nomeado, que o “Bicancra” foi obrigado a abandonar o negócio da “água de Nossa Senhora de Fátima”. Isto porque, nesta altura, D. José Alves Correia da Silva já havia providenciado a abertura de um poço na Cova da Iria, de onde se começou a fazer o negócio oficial da venda de latinhas de água. Seja como for, e embora Gilberto tenha depois estabelecido tenda na Cova da Iria, é certo que a opção de mudar o negócio para Lisboa, ainda que em ramo similar, se verificou finalmente satisfatória.


Gilberto Fernandes dos Santos, que em 1920 viu mais longe ao pensar que uma imagem de Nossa Senhora, com presença frequente na capelinha pobre e rudimentar, seria fundamental para dar colorido às romarias e alegrar os negócios que por ali já floresciam, raramente é lembrado com o devido destaque pela historiografia oficial de Fátima. Como se a sua visão e o seu gesto tivessem apoucado a génese dos acontecimentos da Cova da Iria. Como pode aquela imagem, adorada por milhões de pessoas e venerada por papas, ter saído um dia de carroça de um armazém de um obscuro comerciante de Torres Novas? A imagem, na imaginação popular construída com a omissão do gesto do comerciante da rua da Levada, também ela desceu do céu, pairou uns momentos numa nuvenzinha, como se vê nas pagelas de Gilberto e de outros empreendedores do tempo, até aterrar na “capelinha das aparições”. É uma injustiça. Gilberto Santos, o “Bicancra”, o visionário comerciante torrejano que deu um ânimo quase determinante à devoção da Cova da Iria com a oferta da imagem de Nossa Senhora, é figura praticamente esquecida, em toda a sua dimensão, pela história oficial de Fátima.

A conexão torrejana

O interesse da revisitação e da revisão de como os acontecimentos se passaram no terreno e em toda a sua crueza, não se esgota nem limita à figura e ao percurso de Gilberto Fernandes dos Santos: uma espécie de conexão torrejana dos acontecimentos da Cova da Iria, ainda não de todo descrita e analisada no contexto mais geral, surge com particular evidência. Carlos de Azevedo Mendes, “O Senhor de Fátima”, formado no colégio jesuíta de S.Fiel e depois activista do CADC onde encontraria Salazar, de quem se tornaria amigo próximo, foi advogado, político, deputado, autarca, o homem mais poderoso do século XX torrejano. Um dos primeiros testemunhos validados de conversas com Lúcia, que passaria por sua casa, em Torres Novas, são dele, que viria a fundar em Fátima os “Servitas”, organização de ajuda aos doentes e peregrinos.


Alberto Dinis da Fonseca, “O servo de Deus”, também ele um homem do CADC, assentaria banca de advogado em Torres Novas cerca de 1910, onde criou uma tipografia de onde saiu, fora da órbita do bispo de Leiria, “A Voz de Fátima”, transformada depois na oficial “A Voz da Fátima”. Dinis da Fonseca, que seria deputado católico nos anos 20, terá financiado as primeiras acções de propaganda de Fátima a partir de Torres Novas, escreveu hinos e versos, diz-se que financiou as actividades de Gilberto Santos.


Benevenuto de Sousa, o grande percursor, que trouxe o culto de Lourdes para o Outeiro Grande, Torres Novas, onde em Julho de 1910 inaugurou com pompa e circunstância o santuário à semelhança do que vira em França, foi preso a seguir ao 5 de Outubro e, solto pouco tempo depois, foi impedido de pisar o território torrejano, tendo seguido para Leiria. Acompanhou de perto tudo o que se passou antes e depois de Maio de 1917 e é tido, pelos adversários republicanos da época, como um dos protagonistas principais dos acontecimentos da Cova da Iria.


A estes e a outras personagens menores se junta Gilberto Santos em toda uma história que ainda encontra ecos, já quase desvanecidos, na tradição popular torrejana, mas que é relevante actualizar para se compreender melhor a verdadeira natureza dos acontecimentos da Cova da Iria em 1917.


João Carlos Lopes

 

 Referências bibliográficas


Santos, Gilberto F., Os Grandes Fenómenos da Cova da Iria e a história da primeira imagem de Nossa Senhora de Fátima, Braga, Tipografia M. Oliveira, 1956
Ramos, Rui, História de Portugal, Lisboa, Campo das Letras, 1994, direcção de José Mattoso, sexto volume
Documentaçãp Crítica de Fátima, Fátima, Santuário de Fátima, 1992, I/II
Fonseca, Tomaz da, Na Cova dos Leões, Lisboa, Antígona, 2009
Oliveira, Mário de, Fátima Nunca Mais, Porto Campo das Letras, 2000
Montelo, Visconde de, [Cónego Nunes Formigão], Os Episódios Maravilhosos de Fátima, Guarda, Veritas, 1921
Carvalho, Patrícia, Fátima, Milagre ou construção, Porto, Porto Editora, 2017
Bennett, Jeffrey S., Quando o sol dançou - Fátima e Portugal, Lisboa, Guerra e Paz, 2017
Marujo, António, Cruz, Rui Paulo da, A Senhora de Maio – Todas as perguntas sobre Fátima,Lisboa, Temas&Debates, 2017

Periódicos: Jornal Torrejano, Torres Novas [1884-1915]; O Torrejano, Torres Novas [1915-1918]; O Almonda, Torres Novas [1918 - ]; O Petardo, Porto, [1901-1910]; O Mensageiro, Leiria [1917]

FOTOS

As latas de água de Fátima comercializadas por Gilberto Santos; as suas instalações comerciais na rua da Levada, em Torres Novas: casa recuada (n.º 94), armazém (n.º 96) e loja (n.º 98).

 

 

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