A passagem dos 50 anos da morte do General Humberto Delgado assinalam-se hoje, sexta-feira, dia 13 de Fevereiro, com a realização de uma cerimónia evocativa (18h30), promovida pela câmara municipal de Torres Novas, Associação para a Defesa do Património Histórico e Natural da Região de Riachos (ADPHNRR) e União de freguesias de Brogueira, Parceiros e Alcorochel.

A efeméride realiza-se numa altura em que a casa memorial está fechada, desde 2011, embora se realizem visitas por marcação. A falta de verba é o grande entrave à possibilidade de se manter aquele espaço museológico aberto diariamente. A Casa Memorial Humberto Delgado, recorde-se, fechou as suas portas em 2011, numa altura em que tinha terminado o contrato de emprego inserção com a funcionária que lá estava e, como a entidade que tutela aquele pequeno museu - dedicado à memória de um dos mais destemidos opositores ao regime fascista -, não tinha capacidade para suportar as despesas inerentes à presença de um funcionário a tempo inteiro, decidiu fechar a porta.

Mas as dificuldades em manter o projecto, que nasceu em 1996, fizeram-se sentir anos depois, tendo a Associação da Casa Memorial Humberto Delgado ”entregue” a gestão do ”museu” à Associação para a Defesa do Património Histórico e Natural da Região de Riachos, em Outubro de 2009 - entidade que também tutela o Museu Agrícola de Riachos.

Abel Resina de Sousa, ex-presidente da junta de freguesia da Brogueira, lamenta que a casa memorial esteja fechada, situação que, em sua opinião, levou a alguma perda de dinâmica ao longo dos últimos anos.

 

Casa Memorial

A casa memorial Humberto Delgado encontra-se no largo principal do Boquilobo, onde nasceu o General, tendo sido ali constituído um espaço museológico dedicado à sua acção política em defesa da democracia e da liberdade em Portugal. O projecto nasceu da vontade de alguns dos seus conterrâneos que, desta forma, quiseram prestar uma homenagem a um dos mais sérios opositores do regime fascista que dominava o país. As suas ideologias democráticas e o desejo pela liberdade valeram-lhe a morte a 13 de Fevereiro de 1965, em Espanha, tendo sido assassinado pela PIDE.

Cartas escritas por Humberto Delgado a diversas personalidades, a asa e a hélice de um avião, documentos das eleições e um comunicado emitido pela PIDE onde se justificava a legitimidade dos resultados das eleições de 1958, são alguns dos principais objectos do espólio de Humberto Delgado expostos no Boquilobo.

O primeiro passo com vista à instalação da casa memorial, só foi possível depois de um grupo de admiradores da vida do general terem conseguido recuperar o imóvel, que estava em estado avançado de degradação. Essa reconstrução foi possível graças ao financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian e da Força Aérea.

 

Humberto Delgado

Nasceu no Boquilobo, concelho de Torres Novas, em 1906 e entrou para a escola do Exército em 1922, onde fez os cursos de artilharia, de piloto, de observador e do Estado-Maior. Aos 46 anos foi promovido a brigadeiro, tornando-se no ano seguinte o mais jovem general do seu tempo, representando Portugal em acordos com o governo inglês. Nas presidenciais de 1958 tornou-se candidato opositor a Américo Tomás. Segundo os dados oficiais conseguiu apenas 25 por cento dos votos, mas houve fortes indícios de se ter tratado de uma eleição fraudulenta. Acabou por ser expulso da Força Aérea, esteve exilado no Brasil, onde constituiu um movimento de oposição ao governo salazarista. Mais tarde, instala-se em Argel e quanto tenta regressar a Portugal, clandestinamente, em 1965, foi assassinado, perto da fronteira, a 13 de Fevereiro. Após o 25 de Abril de 1974 foi readmitido na Força Aérea, em 1980 foi agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e em 1990, os seus restos mortais foram transladados para o Panteão Nacional.

 

Biografia reduzida assinala 50 anos da morte de Humberto Delgado

A passagem dos 50 anos da morte de Humberto Delgado, que foi alvo de uma emboscada assassinado por um grupo de agentes da PIDE, liderado por Rosa Casaco, vai ser assinalada com a publicação de uma versão reduzida da obra ”Humberto Delgado, Biografia do General Sem Medo” (2010), da autoria de Frederico Delgado Rosa, neto do general, que revela factos novos, pormenores intimistas e lança novas pistas sobre o assassinato do seu avô.

Esta biografia ”desvenda factos totalmente desconhecidos até hoje, relata pormenores intimistas vedados aos historiadores e faz surpreendentes revelações sobre o assassinato, lançando uma nova luz sobre o «Caso Delgado»”, refere a sinopse do livro editado pela Esfera dos Livros.

Em Lisboa a data também vai ser celebrada, com diversas iniciativas na câmara municipal e no cinema São Jorge, com a projecção do filme ”Operação Outono”, de Bruno Almeida