Já só faltam dois anos para começar a campanha das próximas autárquicas, mas o fim de ciclo Rodrigues/Ferreira, que dura há 30 anos, vai dar lugar a um cenário potencialmente dinâmico: surpreendentemente, António Rodrigues diz que muito provavelmente será candidato.

 Em entrevista concedida à RCA-Ribatejo, transmitida no passado dia 22 de Setembro, o candidato derrotado pela lista do PS nas autárquicas torrejanas em 2021, assumiu que poderá voltar a ser candidato ao cargo de presidente da Câmara de Torres Novas nas próximas autárquicas.

Recorde-se que António Rodrigues tinha intenção de liderar a lista do PS nas eleições de 2021, mas uma decisão da direcção nacional do PS com efeitos vinculativos impediu esse cenário, não abrindo mão dos presidentes que se recandidatavam, como era o caso de Pedro Ferreira em Torres Novas.

António Rodrigues foi presidente da Câmara durante cerca de vinte anos e cinco mandatos autárquicos, todos eles (à excepção do primeiro) na sequência de vitórias eleitorais com maioria absoluta, e nesses 20 anos Pedro Ferreira foi sempre a sua sombra como número dois dos executivos socialistas.

Impedido Rodrigues de concorrer em 2013 pela lei da limitação de mandatos, Pedro Ferreira avançou como candidato, embora Rodrigues tenha sempre garantido, publicamente, que fizera um pacto com Pedro Ferreira segundo o qual este também não se candidataria, o que o actual presidente da Câmara nunca desmentiu publicamente. No entanto, Pedro Ferreira acabou mesmo por avançar em 2013, tal como em 2017 e em 2021, cumprindo agora o seu último mandato, que culminará num longo período de 32 anos com funções autárquicas executivas.

Na entrevista à radio ribatejana, Rodrigues diz que não se revê na actual gestão autárquica, considera que Torres Novas está a perder o protagonismo face a outros concelhos da região e que a política de captação de empresas tem sido desastrosa, ao contrário do que aconteceu durante a sua gestão, em que conseguiu “a vinda para Torres Novas de empresas de vários países europeus” que garantiram, segundo as suas palavras, “cerca de 2000 postos de trabalho”.

 PS pode recuperar Rodrigues

O JT contactou o actual vereador do movimento PNT no sentido de saber se a eventual candidatura será em nome do Movimento PNT ou pelo Partido Socialista, se as estruturas nacionais do PS já foram por si informadas da sua intenção e se avançará mesmo que o PS, de uma de outra forma, não viabilize o seu nome para liderar a lista socialista. António Rodrigues não quis responder a nenhuma das questões, mas o JT sabe que há movimentações internas no PS no sentido de recuperar, para candidaturas, alguns autarcas que estiveram impedidos de concorrer pela lei de limitação de mandatos ou que de alguma forma ficaram afastados das listas socialistas, e que António Rodrigues é um caso a ponderar atendendo ao cenário que se apresenta em Torres Novas, em que há dúvidas de que exista uma outra candidatura claramente ganhadora ou uma figura com perfil para vencer.

 Pedro Ferreira deverá ficar até ao fim

Luís Silva, actual vice-presidente da Câmara e líder da concelhia socialista até amanhã, dia 8 quando vai deixar de o ser (ver peça sobre as eleições na concelhia socialista), é visto como potencial candidato, mas alguns sectores do PS não acreditam na sua capacidade de vencer, se surgir um nome forte dos lados da oposição. Por outro lado, o sector que dirige na Câmara, o urbanismo, é o mais visado pela ira popular e sobre esse sector pendem várias demandas judiciais e investigações das autoridades inspectivas a alguns processos. Até há alguns meses, tem-se sucedido rumores de que Pedro Ferreira iria abdicar do cargo a meio do mandato para deixar a cama quente a Luís Silva, mas o actual presidente continua, tanto se pode observar, a gostar de passear no BMW do município, a aparecer nas fotografias e a viajar pelo estrangeiro (mesmo agora está mais uma vez por terras de França), pelo que deverá mesmo acabar o mandato e deixar Luís Silva a ver passar os aviões do novo aeroporto de Casével, ele que, com o seu chefe, tinham sido os principais entusiastas do aeroporto internacional de Pias Longas, o tal dos 400 voos por semana e 4000 postos de trabalho ali por cima do Casal da Pena.

 Luís Silva: para falar, não abre a boca

 Tal como António Rodrigues, Luís Silva também não quis falar com o JT, nomeadamente para comentar o anúncio do seu antigo chefe, segundo o qual este pondera seriamente recandidatar-se à Câmara de Torres Novas nas próximas autárquicas, nem justificar o facto de não se recandidatar a líder da concelhia, mas essa opção é uma manobra clássica da gestão estratégica: à frente da estrutura ficará um homem de mão de Luís Silva, que organizará a tarefa da “escolha” do candidato. Mas há quem diga que o futuro mestre de cerimónias tem pretensões a cheirar o poder local, já que o Governo de maioria absoluta socialista pode não durar até ao fim e, avizinhando-se borrasca quase pela certa, chegue ou não ao fim a legislatura, convém estar-se a salvo e no quentinho autárquico.

 Trincão Marques não rejeita em definitivo

 O actual presidente da Assembleia Municipal, José Trincão Marques, também pertencente à estrutura dirigente local do PS, é um nome que alguns sectores socialistas locais veriam com bons olhos numa candidatura à Câmara de Torres Novas, até porque a sua subtil equidistância, que ultimamente tem cultivado, entre o desempenho do cargo e o órgão exectivo municipal, poderia render alguma simpatia a eleitorado de partidos da oposição, vendo na sua figura uma hipótese de colocar um fim a um ciclo de dirigentes autárquicos cuja fama vem de longe. Trincão Marque vai concluir dois mandatos à frente da AM, mas Rodrigues, Ferreira e Silva, uns mais que outros, andam nos corredores do poder exectutivo há décadas.

“A candidatura à Concelhia do Partido Socialista é um direito que assiste a qualquer militante que se sinta com motivação e disponibilidade para o fazer”, diz Trincão Marques, acrescentando que, do que sabe, a candidatura de Dinis às eleições locais socialistas “surgiu há vários meses de forma natural e com um elevado nível consensualidade interna”. Aliás, Trincão Marques vai continuar a integrar a direcção socialista local.

Confrontado com o facto de o seu nome aparecer em conversas de bastidores como personalidade que alguns sectores do PS local gostariam de ver como próximo candidato à CM, José Trincão Marques diz que a candidatura à Câmara Municipal de Torres Novas é um assunto sobre o qual ainda não reflectiu, nem ponderou suficientemente. Mas é claro: “Neste momento não a posso rejeitar em definitivo”.

Contudo, disse ainda ao JT, já tomou a decisão de não se recandidatar à Assembleia Municipal. “No final deste mandato serei presidente da mesma há mais de dez anos. Considero que os titulares de cargos políticos não se devem arrastar e eternizar muito tempo nos mesmos lugares, porque a rotina nos desqualifica e acomoda a todos, porque devemos dar o lugar a outras pessoas com novas ideias e métodos de trabalho, porque devemos ter a consciência que não somos o centro do mundo nem os salvadores da pátria, porque no respeito dos princípios republicanos devemos saber sair dos cargos públicos que exercemos no tempo certo”- remata o advogado socialista.

 O factor Elvira

 Mantendo desde o início desta aventura ferreirista uma agenda própria, Elvira Sequeira alimenta secretamente (embora já alimentasse mais) a possibilidade de sobre ela recair a hipótese, ainda que mais que remota, a escolha do PS para a cabeça da candidatura, um cargo que exige cabeça. A vereadora vem cultivando, com convicção, diga-se, uma popularidade que pouco se distancia de um populismo simpático e moderado, qual Evita dos descamisados das terras do Almonda, com uns toque de madre Teresa de Calcutá, acorrendo a tudo o que é festas e festanças, dramas e tristezas, a outra face, se quisermos dizer assim, do regime caritativo/assistencialista/populista do chefe da orquestra, uma orquestra em que cada um toca para seu lado e ainda por cima em desafinação. Música de vanguarda, no fundo, que está para lá do entendimento dos melómanos comuns.