Um projecto de recuperação de uma casa e sua envolvência junto à nascente do rio Almonda, propriedade particular de Natércia Torrinha, pode ajudar a tornar o local mais aprazível a quem o visita, já que se pretende, também, garantir o acesso às margens do rio.

Natércia Torrinha é descendente de uma família que se confunde com a história da povoação do Moinho da Fonte desde, pelo menos, meados do século XIX: no meio de Oitocentos, há já referência ao moinho de João dos Santos Torrinha, mesmo à beira da nascente do rio Almonda, para além, de outro mais a juzante, de José dos Santos Torrinha, no Casal Feijão.

Mas é nas ruínas da medieval povoação de Moinho da Fonte, engolida pela expansão da fábrica de papel do Almonda a partir dos anos 40 do século XX, que Natércia e o marido possuem ainda uma propriedade, herança de família, que inclui a casa que querem reconstruir.

Para além da casa, a propriedade inclui uma faixa de terreno que vai até ao leito do rio Almonda (foto2), mesmo até à margem que neste momento está aos pés da barragem e onde as pessoas gostam de ir apreciar o fragor das cascatas quando o caudal vai bravo com as chuvadas de inverno.
É nesse local que se pode apreciar o modo como no início dos anos 70 do século XX a Fábrica construiu uma unidade industrial exactamente em cima do leito do rio, fazendo-o desaparecer nas suas entranhas por mais de 100 metros (foto3).

Para Natércia Torrinha, a reconstrução da casa é uma questão de princípio e quase de honra de família: ela quer perpetuar a memória da família, tão ligada ao local, e ao mesmo tempo recuperar um património que pode ajudar a tornar esteticamente menos agreste a envolvência do local, que no fundo assume um cenário industrial desqualificado, já que praticamente toda a produção da fábrica de papel foi transferida para a fábrica2, situada a pouco mais de um quilómetro dali.

O projecto de recuperação da casa de Natércia Torrinha foi já apresentado ao serviço de urbanismo da câmara de Torres Novas e o marido, António Correia, garante que um dos objectivos da sua iniciativa é continuar a proporcionar às pessoas o acesso às margens do rio e ao seu leito, atitude que contrasta com a da Renova, que, como se sabe, vedou a barragem alegadamente por motivos de segurança quando afinal há décadas que a mesma não tinha qualquer obstáculo e o acidente que ali ocorreu, há cerca de 50 anos, ocorreu em circunstâncias muito singulares.

Entretanto, a empresa vai continuar a investir na fábrica2, tendo anunciado recentemente um investimento de 35 milhões de euros na sua expansão, no âmbito de um plano de pormenor em vias de aprovação final.

Quanto às velhas instalações da fàbrica1, junto à nascente, quase desarticuladas em termos de produção, a expectativa é que a Renova devolva gradualmente a paisagem que foi alterada pela expansão da fábrica entre os anos 40 e 80 do século passado e que, sobretudo, e essa sim é a expectativa generalizada, que desmantele a unidade que construiu em cima do leito do rio, uma situação impensável já à época em que ocorreu (inícios dos anos 70) e insustentável nos dias de hoje.