Vítor Guia: “Fui visita assídua às casas de Saramago, em Lisboa e Lanzarote, e não fui mais vezes porque não pude”
Sociedade » 2015-04-10Vítor Guia é presidente da junta de freguesia de Azinhaga, aldeia que tem procurado aproveitar a figura de José Saramago para se dar a conhecer ao mundo. E, de alguma forma, tem-no conseguido, diz o autarca independente, que sublinha a vinda regular de turistas à Azinhaga para conheceram a terra natal do Nobel da literatura. Nesta entrevista, Vítor Guia fala ainda da política e, mesmo estando impedido de se recandidatar à junta, por estar a cumprir o terceiro mandado, afasta, para já, a possibilidade de concorrer à câmara da Golegã, afirmando-se “desmotivado”. A Festa do Bodo, que se realiza no final de Maio, também é aqui mencionada.
Quando aceitei integrar as listas à assembleia da freguesia de Azinhaga (nos anos 80) foi com a missão de servir a minha freguesia. Primeiro, como oposição, cumpri o mandato apresentando sugestões que considerava serem importantes, e muitas foram aceites. Houve sempre um bom entendimento com a maioria CDU, que detinha a junta. Em 1992, numas eleições intercalares, venci uma junta que era um grande bastião do Partido Comunista: até então tinha tido sempre maiorias absolutíssimas. De certa forma, aproveitei a cisão que houve no partido a nível local e venci com uma maioria absoluta de 53 por cento. Nessa altura, a minha missão era exactamente a mesma, embora as responsabilidades fossem maiores.
A partir daí, e sempre que se candidatou, conquistou maiorias mais confortáveis.
Sim, mas quero salientar que sempre foi minha preocupação conseguir um entendimento com todas as forças políticas representadas na assembleia de freguesia, após as eleições, e isso tem acontecido até à data. Posso dizer que 99 por cento das propostas apresentadas pela oposição foram aprovados por unanimidade. Algumas têm sido muito boas e quando assim é, são inseridas no orçamento e plano de actividades.
Na Azinhaga, presumo, ainda havia tudo, ou quase tudo por fazer. Nesse quadro, quais eram as suas motivações?
A Azinhaga nessa altura estava já numa situação prestigiada face a outras aldeias. Por exemplo, já tinha abastecimento de água quase a 90 por cento - hoje está a 100 por cento - e havia já infra-estruturas de saneamento, embora a ligação só tivesse sido efectivada quando entrei para a junta. As estradas tinham sido rompidas para colocação de tubagem e estavam mal reparadas e foi no meu mandato que se começaram a pavimentar. Não havia um metro de passeio e, além do jardim principal, não havia mais nenhum espaço ajardinado, situação completamente diferente hoje em dia.
Quando cheguei à câmara, em 1998, começou a notar-se, sim, o grande desenvolvimento urbanístico de Azinhaga, com a realização de muitos trabalhos de reabilitação urbana. Houve um grande volume de obras que levou à transformação da aldeia. Os habitantes ganharam uma qualidade de vida que não conheciam até então. Sinto orgulho de ter estado presente nessa grande mudança
Em 1997, já lá vão daqui a pouco 20 anos, integrou o executivo da câmara municipal da Golegã. Vê-se, no futuro, a concorrer novamente à autarquia, uma vez que está legalmente impedido de recandidatar à junta?
Muito honestamente, não. Fui muito feliz na câmara municipal e durante o tempo que lá estive fizemos um bom trabalho. Investimos quase 22 milhões de euros sem ter agravado muito a dívida da autarquia, e desenvolveu-se todo o concelho. Na altura a Golegã, pode dizer-se, era um concelho terceiro-mundista. Basta lembrar que as pessoas da Golegã, para terem água potável em casa, tinham de a ir buscar aos diversos depósitos colocados na vila. O concelho foi completamente transformad promoveu-se a reabilitação urbana das freguesias, construíram-se o Equspolis, Etares, campos de ténis, piscinas, etc. Construiu-se muita coisa… mas não me sinto motivado para voltar. Para que isso pudesse acontecer, muito mal teria de estar o meu concelho para resolver voltar às lides camarárias.
Teve responsabilidades autárquicas no período em que as autarquias no país tiveram acesso a muito dinheiro para fazer obra.
É verdade que a câmara teve acesso a muito dinheiro, mas em muitos lados também entrou muito dinheiro e foi mal gasto e, hoje, estamos todos a pagar esse excesso de endividamento. No caso da Golegã, os investimentos feitos não contribuíram em muito para o endividamento da câmara, apesar do investimento brutal.
Como vice-presidente, bateu-se por alguma em especial?
Bati-me por todas as obras que se realizaram. Definimos prioridades e no topo estava o abastecimento de água, porque achávamos que a população merecia uma qualidade de vida que lhe estava a ser negada. Com o presidente Veiga Maltez fiz milhares de quilómetros a caminho de Lisboa para reunir com o Instituto da Água, secretaria de Estado do Ambiente e Recursos Naturais, regressávamos à Golegã para tratar de coisas e no mesmo dia chegámos a ir novamente a Lisboa. O primeiro ano foi de loucos, mas conseguimos ter uma Etar nova…
Que foi inaugurada por José Sócrates...
É verdade. Batemo-nos ainda pelo Equspolis, porque entendíamos que a Golegã devia ter um museu para expor as obras do Mestre Martins Correia, bem como por um jardim. Não havia um espaço verde na Golegã, para as pessoas fazerem uma caminhada ou lerem um livro. Fez-se uma rotunda do cavalo em que a câmara não gastou um centavo e isso deve-se ao anterior presidente que, com a sua habilidade política, conseguiu convencer os criadores de cavalos a darem algum dinheiro, ficando na rotunda os seus símbolos.
Quando deixou as funções de vice-presidente, a sua relação com Veiga Maltez estava degradada. Hoje, como é a sua relação pessoal?
As razões são conhecidas. Começou a haver uma certa incompatibilidade entre mim e o presidente. Mas como sou uma pessoa de princípios e convicções, cumpri o mandato até ao fim, por que acho que os mandatos são para levar até ao fim.
Mas não foi penoso para si fazer um ano e meio de mandato sem pelouros e sem confiança política?
A confiança política foi-me retirada depois de ter entregue os pelouros. Se foi penoso? Não, acabou por ser uma surpresa agradável, apesar das divergências. Foi um final de mandato de certa forma agradável.
Hoje, como é a sua relação pessoal?
É uma relação normal.
Melhor do que a que era quando saiu da câmara?
Talvez. O dr. Maltez convidou-me para almoçar e depois da conversa desse encontro a relação passou a ser menos tensa.
O resultado das eleições há dois anos, na câmara, surpreenderam-no?
Não. Na minha opinião, o PS e a Força GAP (independentes) estavam em condições de ganhar, mas nunca com maioria absoluta. Tinha dito isso às pessoas que fizeram parte da minha equipa, e disse-o numa entrevista que dei na altura.
Ainda é militante do PS?
Pedi a suspensão de militante por tempo indeterminado em 2005, quando saí da câmara. É uma situação que se mantém
É aparentemente um homem de consensos. Foi presidente de junta pelo PS, depois foi como independente e contou com apoio declarado do PSD. Sente que é um político que colhe simpatias de um modo abrangente?
Sim, muito honestamente sinto isso! E prova disso é que quando me candidatei à junta de freguesia de Azinhaga pelo PS ganhei com maioria absoluta e quando o fiz como independente voltei a ter maioria. Quando me candidatei pelo PS, houve muita gente da CDU que votou na lista onde eu estava, e continuaram a votar sempre que me candidatei. Não tenho dúvidas de que fui buscar votos a todos os quadrantes políticos, desde a CDU ao CDS.
A Golegã, e a Azinhaga em particular, pela sua proximidade, ficaram a ganhar ou a perder com a integração do Pombalinho neste concelho?
Se alguém ficou a perder foi a freguesia do Pombalinho, por não ter vindo para a Golegã há 15 ou 20 anos atrás. Acho que hoje estaria muito melhor.
Como é a relação de vizinhança com o Pombalinho em termos institucionais? Tem havido disputa na reivindicação de apoios por parte do município ou alguma necessidade de afirmação de outro género?
Não, é uma relação sadia… se sou um homem de consensos na Azinhaga, também o sou para com os de fora.
Antes da vinda do Pombalinho para o concelho da Golegã, a Azinhaga era a única freguesia de fora da sede de concelho e agora, havendo duas, há inevitavelmente uma maior partilha de recursos, que são escassos. Ainda assim não há nenhuma necessidade de afirmação?
Não, e se tiver de haver um conflito nunca será entre as freguesias. O Pombalinho não terá a culpa se um dia a câmara der à Azinhaga 100 mil euros e não os der ao Pombalinho, ou vice-versa. Num cenário desses, nunca poderíamos estar contra a junta do Pombalinho, mas sim contra quem não foi justo na distribuição de verbas. Mas isso não tem acontecido.
Pela primeira vez desde o 25 de Abril, o executivo municipal não tem um representante de Azinhaga. Quer dizer, teve até ao afastamento de Rui Cunha pelas razões que são conhecidas. Fez esse reparo no dia em que Carlos Asseiceiro tomou posse, numa assembleia municipal. Acredita que a aldeia perde com essa falta de representação na câmara?
Pode perder, por não ter alguém que reporte nas reuniões de câmara os problemas que acontecem no dia-a-dia. É evidente que temos o cuidado de pôr a câmara ao corrente dessas situações, mas não tenho a mínima dúvida que a Azinhaga fica a perder. E tenho pena, porque parece que é a primeira vez na história que a Azinhaga não tem um representante na câmara. Isso acontecia mesmo antes do 25 de Abril.
Com a saída de Rui Cunha, o presidente devia ter optado por outra pessoa?
Devia. Legalmente reconheço que o presidente cumpriu a lei ao chamar o elemento a seguir na lista, mas toda gente sabe que há negociações que se podem fazer, nomeadamente com a renúncia do mandato para fazer entrar outro a seguir, que por acaso era da Azinhaga. Compreendo a situação, mas tenho pena de não ter um vereador da Azinhaga no executivo municipal.
A junta de freguesia de Azinhaga, ao contrário de muitas outras, parece ter alguma autonomia e capacidade para fazer algumas coisas. É uma leitura correcta que faço?
Se calhar, ao contrário de muitas juntas de freguesia, a da Azinhaga foi muito bem gerida nos últimos anos, e como bem gerida que é, paga na hora e vai tendo algum dinheiro para imprevistos que apareçam. Isso deve-se sobretudo a uma boa gestão.
A câmara também terá as suas transferências em dia, o que ajuda a essa boa saúde financeira.
A câmara tem cumprido com o protocolo de delegação de competências no que se refere à transferência das verbas. Já tivemos, inclusivamente, a oportunidade de fazer esse elogio à câmara, por escrito, como também fizemos reparos a alguns aspectos que não estão tão bem. Poderíamos estar financeiramente mais autónomos se não tivéssemos de ter suportado custos que são da responsabilidade da câmara e que estão protocolados. Para a Azinhaga ter as ruas limpas e sem ervas, tivemos de adquirir equipamento que a câmara tinha assumido. Fizemo-lo para que a Azinhaga não perca o brilho que tem tido regularmente.
Quais são os projectos mais imediatos e importantes que estão a ser desenvolvidos na Azinhaga?
O melhoramento da margem do rio, que não está a funcionar bem. Como sabe, alertei diversas vezes para a necessidade da consolidação das margens antes de se avançar para o projecto, ou corria-se o risco de tudo que se lá ia colocar, ir parar a Vila Franca num cenário de cheias. Levantei essa questão na assembleia municipal ao longo dos últimos dois anos. E a verdade é que a obra começou e parou numa altura em que não nos é agradável, porque a Festa do Bodo vem aí e o grande volume das festas realiza-se no miradouro, onde há um buraco aberto no chão e o muro está partido. Terá de ser feito ali alguma coisa para que, no mínimo, não haja nenhum acidente durante as festas. A câmara não pensou o projecto e falhou em toda a linha.
Não tem informação para quando possa ser retomada a obra de arranjo da margem?
Não, está-se à espera de orçamentos e de projectos de reforço dos taludes que já deviam ter sido feitos. Não percebo como ignoraram os avisos e alertas que foram dados. Houve uma brutal falta de senso.
”José Saramago não precisava da Azinhaga, a Azinhaga é que precisa de Saramago”
Recorda-se da primeira vez que esteve com José Saramago?
A primeira vez que estive com José Saramago foi em 1990 ou 1991, quando houve uma exposição na Azinhaga. Nessa altura, a junta de freguesia era presidida por Orlando da Cruz Alexandre, da CDU. Foi o primeiro contacto que tive com ele. Em 1998 voltei a estar com ele quando os PALOP o homenagearam, a propósito do Prémio Nobel da Literatura e fizeram questão de vir à Azinhaga, terra onde nasceu Saramago. Nessa altura, eu era vice-presidente da câmara. Voltei a estar com ele na Festa do Bodo, em 2003.
Quando regressou à junta, em 2006, reforçou essa proximidade?
Sim. Foi a partir daí que me aproximei mais de José Saramago. Pensámos em fazer a Casa Museu José Saramago na Azinhaga, e tivemos vários contactos, e com a cerimónia de lançamento do livro ”As pequenas memórias”, na Azinhaga, foi possível fortalecer essa aproximação. A partir daí fui visita assídua às casas de Saramago, em Lisboa e Lanzarote. Fui lá três vezes e não fui mais porque não pude, a vida também não mo permitiu, por questões de saúde. Foi uma pessoa com quem tive o privilégio de conversar, almoçar, jantar e até tomar o pequeno almoço. Fez parte do meu lote de amigos e não tenho dúvida de que tinha a mesma consideração por mim.
Como descreve a sua personalidade e o apego (ou falta dele) à Azinhaga, terra onde nasceu no dia 16 de Novembro de 1922?
Acho que Saramago esteve afastado da Azinhaga porque não houve ninguém que tivesse promovido essa aproximação. Ele próprio disse várias vezes, inclusivamente em público, ainda bem que eu tinha aparecido para fazer essa ponte. José Saramago veio talvez mais vezes à Azinhaga em cinco ou seis anos, do que em 40 ou 50 anos. Infelizmente, não veio mais porque entretanto morreu.
Em Novembro de 2006, no dia de aniversário de Saramago, a junta de freguesia conseguiu pôr de pé um grande operação de marketing organizando a cerimónia do lançamento do livro ”As pequenas memórias”. Foi um grande acontecimento social e cultural. Como recorda esse dia?
Não foi fácil. Era para ter sido na sede da filarmónica, com capacidade para 400 pessoas, no máximo. O editor do livro veio à Azinhaga, considerou o salão o local ideal. Pilar del Rio também veio cá, gostou, mas perguntou se não havia um espaço maior. Acabei por mostrar um pavilhão da antiga fábrica e achou que era o local ideal. Alugamos um gerador e criámos as condições necessárias para se fazer o evento espectacular que foi.
E muito mediático...
Estiveram cá todas as televisões, rádios e jornais nacionais do país, assim como a imprensa local. Até os OCS espanhóis, como o El País. Naquele dia a Azinhaga foi o centro do mundo.
No ano seguinte foi oficializada a Fundação José Saramago e, creio, que pouco tempo depois foi criado um pólo da fundação a Azinhaga. Ainda funciona?
Sim. É um espaço onde existem todos os livros de José Saramago e estão disponíveis para serem lidos. Há ainda um espaço Internet e no andar de cima há um pequeno museu com peças dos avós de Saramago, inclusivamente a célebre cama de que falou Saramago no discurso de Estocolmo. A cama onde os avós dormiam com os bácaros mais novos para os proteger do frio que se fazia sentir nos invernos rigorosos.
Mas o pólo da fundação é para ser mudado para a antiga escola primária, onde terá melhores salas e mais condições. Achamos que poderá ter muito mais impacto.
Tem tido a dinâmica que se desejava?
Sim, têm vindo à Azinhaga, de propósito, pessoas da Argentina Alemanha, França, Turquia, Brasil e sobretudo de Itália, para conhecerem o pólo da fundação José Saramago e a Azinhaga, a sua terra.
Disse há tempos, na inauguração do mural de Saramago na escola Mestre Martins Correia, que ainda não se fez tudo para tirar proveito da ligação de Saramago à Azinhaga e ao concelho da Golegã. Na sua opinião de que forma se pode explorar este filão?
Como costumo dizer, José Saramago não precisava da Azinhaga, a Azinhaga é que precisava de Saramago. Mas a Azinhaga pode e vai fazer mais, criando o percurso Saramago, dentro da freguesia. Diversos excertos do livro ”As pequenas memórias” serão colocados em diversos pontos da aldeia, exactamente nos locais onde se passaram essas histórias. Por exemplo, onde é actualmente o pólo da fundação, Saramago conta a história do tio Carlos Melrinho que foi preso por ter roubado uma galinha. É um dos pontos que pode ser focado neste percurso, ou ainda a história de um sapateiro, que tinha um nível cultural muito acima da média para aquela altura, assim como a famosa história do lagarto verde. É uma das ideias e que vamos pôr em prática, mas penso que o concelho pode tirar mais partido da ligação de José Saramago.
Nomeadamente...
A Golegã tem uma biblioteca municipal e, em 2003, salvo erro, foi aprovado, em reunião de câmara, atribuir-lhe o nome ”Biblioteca Municipal José Saramgo”. Até hoje o nome não foi lá posto, apesar de estar deliberado. Não quer dizer que seja o mais importante, mas pode por exemplo instituir-se o prémio literário José Saramago, para as escolas, ou a nível regional.
”Não sei se há em Portugal continental festas iguais às de Azinhaga”
A Festa do Bodo realiza-se de 21 a 24 de Maio e é um momento importante para a aldeia. Em que medida sr. Presidente?
É um momento importante da aldeia porque a festa faz parte da nossa identidade. São festas com muita tradição que se faziam anualmente até 1974 e depois esteve 25 anos sem se realizar. Em 1999 foi reactivada para a realizar apenas de quatro em quatro anos. Há um ano que a estamos a preparar a festa se 2015 e já temos praticamente o programa concluído, assim como os pares já estão estão todos contactados. A festa já está em adandamento.
Já existe programa. Qual é a sua expectativa: vai ser uma festa de arromba?
Esta vai ser a quinta edição e queremos que esta seja a festa da afirmação. Esta é uma festa que já se realiza pelo menos desde o início de 1500 e, embora o figurino tenha sido alterado, procuramos manter a tradição. Por exemplo, antigamente, as vacas corridas à corda eram mortas na rua, onde eram desmanchadas para a carne ser distribuída às pessoas. Hoje não pode ser assim e a carne benzida é comprada e transportada num carro frigorífico. No último a carne, o pão e vinho são distribuídos às famílias mais necessitadas, e a todas as pessoas que nos visitam é oferecido um churrasco.
A festa tem o mérito de envolver a comunidade. Essa é uma mais-valia?
É verdade, tem a participação de população que se supera. As pessoas arranjam as suas frontarias, as suas casas e enfeitam as ruas. As pessoas juntam-se a preparar a festa, a fazer as flores, por exemplo, e isso cria um espírito de união muito grande. É uma das festas mais tradicionais de Portugal.
Qual é o orçamento da festa?
O orçamento anda na casa dos 50 mil euros, mas este valor não inclui os vestidos das moças que cada mordomo veste, e cada mordomo veste a moça com três vestidos. Em cada dia do cortejo há um vestido diferente. Um cor-de-rosa, um azul celeste e um vestido branco. Esse encargo é todo do mordomo.
É uma festa do povo mas que conta com os apoios imprescindíveis das autarquias. Qual é a disponibilidade da junta para este acontecimento?
A junta dá 10 mil euros, tem sido 7.500 euros e a câmara, ainda não sabemos mas tem sido também 10 mil euros. As autarquias dão ainda apoio logístico.
Quer deixar um convite às pessoas?
Não sei se haverá em Portugal continental festas iguais às de Azinhaga. Convido, por isso, as pessoas a assistirem à Festa do Bodo que é única a nível dos cortejos, largadas e do touro à corda. Sabe que, durante muitos anos, o único sítio onde havia touros à corda em Portugal continental era na Azinhaga. E depois havia nos Açores, onde as festas do Divino Espírito Santo são semelhantes às nossas, embora com maior dimensão.
E convido ainda as pessoas a visitarem a aldeia de Azinhaga, durante todo o ano, porque há muitos motivos de interesse: desde as capelas à Igreja Matriz, que é o maior templo da Borda d’Água, ao jardim que é lindíssimo, e o pólo da Fundação José Saramago. Há ainda associações importantes como a filarmónica, que tem 118 anos e nunca parou e um rancho folclórico que é o mais antigo do Ribatejo. A Azinhaga é uma aldeia pequena mas tem tradições dignas. Em 1938 foi considerada a aldeia mais portuguesa do Ribatejo pela forma como as pessoas cuidavam das suas casas e mantinham as ruas limpas, apesar de serem de terra, e sem ervas. E isso ainda hoje se mantém. Temos uma aldeia limpa, muito arrumada, com uma piscina com uma boa qualidade de água, courts de ténis e pavilhão desportivo para as pessoas usufruírem durante o ano inteiro.
Há pouco mais de um ano foi sujeito a um transplante renal. Tem estado a correr bem?
Fez um ano no dia 7 de Fevereiro. Felizmente, desde que o rim foi ligado, está a funcionar lindamente. Ao fim de quatro dias tinha praticamente os valores normais.
Teve a felicidade de encontrar um dador 100 por cento compatível, uma pessoa que faleceu num acidente de viação. Teve alguma informação sobre a pessoa em causa?
Não sei se foi de acidente de viação ou foi outra causa. E essa é uma informação que não me deram. Apenas sei que fui chamado porque tinha aparecido um rim compatível.
Foi chamado ao hospital durante a madrugada, mas o contacto não foi fácil e só chegaram a si por intermédio da GNR.
Fui contactado às 3 horas da madrugada. Por incrível que pareça os números de telefone que tinham era o do escritório e os dois telemóveis, o meu e o da minha esposa, mas estavam na cozinha e não os ouvimos. Entretanto o médico, que foi impecável, ligou para a GNR que se prontificou a me avisar. O médico pediu ainda informações à PT sobre a existência de mais telefones na minha morada. Deram-lhe um número de uma vizinha minha que bateu à minha porta. A GNR, que já estava a caminho, foi avisada e voltaram para trás. Às 8h30 estava no hospital, fiz as análises necessárias e fui para o bloco às 15 horas, quando de lá saí já tinha meio saco de urina.
Vítor Guia: “Fui visita assídua às casas de Saramago, em Lisboa e Lanzarote, e não fui mais vezes porque não pude”
Sociedade » 2015-04-10Vítor Guia é presidente da junta de freguesia de Azinhaga, aldeia que tem procurado aproveitar a figura de José Saramago para se dar a conhecer ao mundo. E, de alguma forma, tem-no conseguido, diz o autarca independente, que sublinha a vinda regular de turistas à Azinhaga para conheceram a terra natal do Nobel da literatura. Nesta entrevista, Vítor Guia fala ainda da política e, mesmo estando impedido de se recandidatar à junta, por estar a cumprir o terceiro mandado, afasta, para já, a possibilidade de concorrer à câmara da Golegã, afirmando-se “desmotivado”. A Festa do Bodo, que se realiza no final de Maio, também é aqui mencionada.
Quando aceitei integrar as listas à assembleia da freguesia de Azinhaga (nos anos 80) foi com a missão de servir a minha freguesia. Primeiro, como oposição, cumpri o mandato apresentando sugestões que considerava serem importantes, e muitas foram aceites. Houve sempre um bom entendimento com a maioria CDU, que detinha a junta. Em 1992, numas eleições intercalares, venci uma junta que era um grande bastião do Partido Comunista: até então tinha tido sempre maiorias absolutíssimas. De certa forma, aproveitei a cisão que houve no partido a nível local e venci com uma maioria absoluta de 53 por cento. Nessa altura, a minha missão era exactamente a mesma, embora as responsabilidades fossem maiores.
A partir daí, e sempre que se candidatou, conquistou maiorias mais confortáveis.
Sim, mas quero salientar que sempre foi minha preocupação conseguir um entendimento com todas as forças políticas representadas na assembleia de freguesia, após as eleições, e isso tem acontecido até à data. Posso dizer que 99 por cento das propostas apresentadas pela oposição foram aprovados por unanimidade. Algumas têm sido muito boas e quando assim é, são inseridas no orçamento e plano de actividades.
Na Azinhaga, presumo, ainda havia tudo, ou quase tudo por fazer. Nesse quadro, quais eram as suas motivações?
A Azinhaga nessa altura estava já numa situação prestigiada face a outras aldeias. Por exemplo, já tinha abastecimento de água quase a 90 por cento - hoje está a 100 por cento - e havia já infra-estruturas de saneamento, embora a ligação só tivesse sido efectivada quando entrei para a junta. As estradas tinham sido rompidas para colocação de tubagem e estavam mal reparadas e foi no meu mandato que se começaram a pavimentar. Não havia um metro de passeio e, além do jardim principal, não havia mais nenhum espaço ajardinado, situação completamente diferente hoje em dia.
Quando cheguei à câmara, em 1998, começou a notar-se, sim, o grande desenvolvimento urbanístico de Azinhaga, com a realização de muitos trabalhos de reabilitação urbana. Houve um grande volume de obras que levou à transformação da aldeia. Os habitantes ganharam uma qualidade de vida que não conheciam até então. Sinto orgulho de ter estado presente nessa grande mudança
Em 1997, já lá vão daqui a pouco 20 anos, integrou o executivo da câmara municipal da Golegã. Vê-se, no futuro, a concorrer novamente à autarquia, uma vez que está legalmente impedido de recandidatar à junta?
Muito honestamente, não. Fui muito feliz na câmara municipal e durante o tempo que lá estive fizemos um bom trabalho. Investimos quase 22 milhões de euros sem ter agravado muito a dívida da autarquia, e desenvolveu-se todo o concelho. Na altura a Golegã, pode dizer-se, era um concelho terceiro-mundista. Basta lembrar que as pessoas da Golegã, para terem água potável em casa, tinham de a ir buscar aos diversos depósitos colocados na vila. O concelho foi completamente transformad promoveu-se a reabilitação urbana das freguesias, construíram-se o Equspolis, Etares, campos de ténis, piscinas, etc. Construiu-se muita coisa… mas não me sinto motivado para voltar. Para que isso pudesse acontecer, muito mal teria de estar o meu concelho para resolver voltar às lides camarárias.
Teve responsabilidades autárquicas no período em que as autarquias no país tiveram acesso a muito dinheiro para fazer obra.
É verdade que a câmara teve acesso a muito dinheiro, mas em muitos lados também entrou muito dinheiro e foi mal gasto e, hoje, estamos todos a pagar esse excesso de endividamento. No caso da Golegã, os investimentos feitos não contribuíram em muito para o endividamento da câmara, apesar do investimento brutal.
Como vice-presidente, bateu-se por alguma em especial?
Bati-me por todas as obras que se realizaram. Definimos prioridades e no topo estava o abastecimento de água, porque achávamos que a população merecia uma qualidade de vida que lhe estava a ser negada. Com o presidente Veiga Maltez fiz milhares de quilómetros a caminho de Lisboa para reunir com o Instituto da Água, secretaria de Estado do Ambiente e Recursos Naturais, regressávamos à Golegã para tratar de coisas e no mesmo dia chegámos a ir novamente a Lisboa. O primeiro ano foi de loucos, mas conseguimos ter uma Etar nova…
Que foi inaugurada por José Sócrates...
É verdade. Batemo-nos ainda pelo Equspolis, porque entendíamos que a Golegã devia ter um museu para expor as obras do Mestre Martins Correia, bem como por um jardim. Não havia um espaço verde na Golegã, para as pessoas fazerem uma caminhada ou lerem um livro. Fez-se uma rotunda do cavalo em que a câmara não gastou um centavo e isso deve-se ao anterior presidente que, com a sua habilidade política, conseguiu convencer os criadores de cavalos a darem algum dinheiro, ficando na rotunda os seus símbolos.
Quando deixou as funções de vice-presidente, a sua relação com Veiga Maltez estava degradada. Hoje, como é a sua relação pessoal?
As razões são conhecidas. Começou a haver uma certa incompatibilidade entre mim e o presidente. Mas como sou uma pessoa de princípios e convicções, cumpri o mandato até ao fim, por que acho que os mandatos são para levar até ao fim.
Mas não foi penoso para si fazer um ano e meio de mandato sem pelouros e sem confiança política?
A confiança política foi-me retirada depois de ter entregue os pelouros. Se foi penoso? Não, acabou por ser uma surpresa agradável, apesar das divergências. Foi um final de mandato de certa forma agradável.
Hoje, como é a sua relação pessoal?
É uma relação normal.
Melhor do que a que era quando saiu da câmara?
Talvez. O dr. Maltez convidou-me para almoçar e depois da conversa desse encontro a relação passou a ser menos tensa.
O resultado das eleições há dois anos, na câmara, surpreenderam-no?
Não. Na minha opinião, o PS e a Força GAP (independentes) estavam em condições de ganhar, mas nunca com maioria absoluta. Tinha dito isso às pessoas que fizeram parte da minha equipa, e disse-o numa entrevista que dei na altura.
Ainda é militante do PS?
Pedi a suspensão de militante por tempo indeterminado em 2005, quando saí da câmara. É uma situação que se mantém
É aparentemente um homem de consensos. Foi presidente de junta pelo PS, depois foi como independente e contou com apoio declarado do PSD. Sente que é um político que colhe simpatias de um modo abrangente?
Sim, muito honestamente sinto isso! E prova disso é que quando me candidatei à junta de freguesia de Azinhaga pelo PS ganhei com maioria absoluta e quando o fiz como independente voltei a ter maioria. Quando me candidatei pelo PS, houve muita gente da CDU que votou na lista onde eu estava, e continuaram a votar sempre que me candidatei. Não tenho dúvidas de que fui buscar votos a todos os quadrantes políticos, desde a CDU ao CDS.
A Golegã, e a Azinhaga em particular, pela sua proximidade, ficaram a ganhar ou a perder com a integração do Pombalinho neste concelho?
Se alguém ficou a perder foi a freguesia do Pombalinho, por não ter vindo para a Golegã há 15 ou 20 anos atrás. Acho que hoje estaria muito melhor.
Como é a relação de vizinhança com o Pombalinho em termos institucionais? Tem havido disputa na reivindicação de apoios por parte do município ou alguma necessidade de afirmação de outro género?
Não, é uma relação sadia… se sou um homem de consensos na Azinhaga, também o sou para com os de fora.
Antes da vinda do Pombalinho para o concelho da Golegã, a Azinhaga era a única freguesia de fora da sede de concelho e agora, havendo duas, há inevitavelmente uma maior partilha de recursos, que são escassos. Ainda assim não há nenhuma necessidade de afirmação?
Não, e se tiver de haver um conflito nunca será entre as freguesias. O Pombalinho não terá a culpa se um dia a câmara der à Azinhaga 100 mil euros e não os der ao Pombalinho, ou vice-versa. Num cenário desses, nunca poderíamos estar contra a junta do Pombalinho, mas sim contra quem não foi justo na distribuição de verbas. Mas isso não tem acontecido.
Pela primeira vez desde o 25 de Abril, o executivo municipal não tem um representante de Azinhaga. Quer dizer, teve até ao afastamento de Rui Cunha pelas razões que são conhecidas. Fez esse reparo no dia em que Carlos Asseiceiro tomou posse, numa assembleia municipal. Acredita que a aldeia perde com essa falta de representação na câmara?
Pode perder, por não ter alguém que reporte nas reuniões de câmara os problemas que acontecem no dia-a-dia. É evidente que temos o cuidado de pôr a câmara ao corrente dessas situações, mas não tenho a mínima dúvida que a Azinhaga fica a perder. E tenho pena, porque parece que é a primeira vez na história que a Azinhaga não tem um representante na câmara. Isso acontecia mesmo antes do 25 de Abril.
Com a saída de Rui Cunha, o presidente devia ter optado por outra pessoa?
Devia. Legalmente reconheço que o presidente cumpriu a lei ao chamar o elemento a seguir na lista, mas toda gente sabe que há negociações que se podem fazer, nomeadamente com a renúncia do mandato para fazer entrar outro a seguir, que por acaso era da Azinhaga. Compreendo a situação, mas tenho pena de não ter um vereador da Azinhaga no executivo municipal.
A junta de freguesia de Azinhaga, ao contrário de muitas outras, parece ter alguma autonomia e capacidade para fazer algumas coisas. É uma leitura correcta que faço?
Se calhar, ao contrário de muitas juntas de freguesia, a da Azinhaga foi muito bem gerida nos últimos anos, e como bem gerida que é, paga na hora e vai tendo algum dinheiro para imprevistos que apareçam. Isso deve-se sobretudo a uma boa gestão.
A câmara também terá as suas transferências em dia, o que ajuda a essa boa saúde financeira.
A câmara tem cumprido com o protocolo de delegação de competências no que se refere à transferência das verbas. Já tivemos, inclusivamente, a oportunidade de fazer esse elogio à câmara, por escrito, como também fizemos reparos a alguns aspectos que não estão tão bem. Poderíamos estar financeiramente mais autónomos se não tivéssemos de ter suportado custos que são da responsabilidade da câmara e que estão protocolados. Para a Azinhaga ter as ruas limpas e sem ervas, tivemos de adquirir equipamento que a câmara tinha assumido. Fizemo-lo para que a Azinhaga não perca o brilho que tem tido regularmente.
Quais são os projectos mais imediatos e importantes que estão a ser desenvolvidos na Azinhaga?
O melhoramento da margem do rio, que não está a funcionar bem. Como sabe, alertei diversas vezes para a necessidade da consolidação das margens antes de se avançar para o projecto, ou corria-se o risco de tudo que se lá ia colocar, ir parar a Vila Franca num cenário de cheias. Levantei essa questão na assembleia municipal ao longo dos últimos dois anos. E a verdade é que a obra começou e parou numa altura em que não nos é agradável, porque a Festa do Bodo vem aí e o grande volume das festas realiza-se no miradouro, onde há um buraco aberto no chão e o muro está partido. Terá de ser feito ali alguma coisa para que, no mínimo, não haja nenhum acidente durante as festas. A câmara não pensou o projecto e falhou em toda a linha.
Não tem informação para quando possa ser retomada a obra de arranjo da margem?
Não, está-se à espera de orçamentos e de projectos de reforço dos taludes que já deviam ter sido feitos. Não percebo como ignoraram os avisos e alertas que foram dados. Houve uma brutal falta de senso.
”José Saramago não precisava da Azinhaga, a Azinhaga é que precisa de Saramago”
Recorda-se da primeira vez que esteve com José Saramago?
A primeira vez que estive com José Saramago foi em 1990 ou 1991, quando houve uma exposição na Azinhaga. Nessa altura, a junta de freguesia era presidida por Orlando da Cruz Alexandre, da CDU. Foi o primeiro contacto que tive com ele. Em 1998 voltei a estar com ele quando os PALOP o homenagearam, a propósito do Prémio Nobel da Literatura e fizeram questão de vir à Azinhaga, terra onde nasceu Saramago. Nessa altura, eu era vice-presidente da câmara. Voltei a estar com ele na Festa do Bodo, em 2003.
Quando regressou à junta, em 2006, reforçou essa proximidade?
Sim. Foi a partir daí que me aproximei mais de José Saramago. Pensámos em fazer a Casa Museu José Saramago na Azinhaga, e tivemos vários contactos, e com a cerimónia de lançamento do livro ”As pequenas memórias”, na Azinhaga, foi possível fortalecer essa aproximação. A partir daí fui visita assídua às casas de Saramago, em Lisboa e Lanzarote. Fui lá três vezes e não fui mais porque não pude, a vida também não mo permitiu, por questões de saúde. Foi uma pessoa com quem tive o privilégio de conversar, almoçar, jantar e até tomar o pequeno almoço. Fez parte do meu lote de amigos e não tenho dúvida de que tinha a mesma consideração por mim.
Como descreve a sua personalidade e o apego (ou falta dele) à Azinhaga, terra onde nasceu no dia 16 de Novembro de 1922?
Acho que Saramago esteve afastado da Azinhaga porque não houve ninguém que tivesse promovido essa aproximação. Ele próprio disse várias vezes, inclusivamente em público, ainda bem que eu tinha aparecido para fazer essa ponte. José Saramago veio talvez mais vezes à Azinhaga em cinco ou seis anos, do que em 40 ou 50 anos. Infelizmente, não veio mais porque entretanto morreu.
Em Novembro de 2006, no dia de aniversário de Saramago, a junta de freguesia conseguiu pôr de pé um grande operação de marketing organizando a cerimónia do lançamento do livro ”As pequenas memórias”. Foi um grande acontecimento social e cultural. Como recorda esse dia?
Não foi fácil. Era para ter sido na sede da filarmónica, com capacidade para 400 pessoas, no máximo. O editor do livro veio à Azinhaga, considerou o salão o local ideal. Pilar del Rio também veio cá, gostou, mas perguntou se não havia um espaço maior. Acabei por mostrar um pavilhão da antiga fábrica e achou que era o local ideal. Alugamos um gerador e criámos as condições necessárias para se fazer o evento espectacular que foi.
E muito mediático...
Estiveram cá todas as televisões, rádios e jornais nacionais do país, assim como a imprensa local. Até os OCS espanhóis, como o El País. Naquele dia a Azinhaga foi o centro do mundo.
No ano seguinte foi oficializada a Fundação José Saramago e, creio, que pouco tempo depois foi criado um pólo da fundação a Azinhaga. Ainda funciona?
Sim. É um espaço onde existem todos os livros de José Saramago e estão disponíveis para serem lidos. Há ainda um espaço Internet e no andar de cima há um pequeno museu com peças dos avós de Saramago, inclusivamente a célebre cama de que falou Saramago no discurso de Estocolmo. A cama onde os avós dormiam com os bácaros mais novos para os proteger do frio que se fazia sentir nos invernos rigorosos.
Mas o pólo da fundação é para ser mudado para a antiga escola primária, onde terá melhores salas e mais condições. Achamos que poderá ter muito mais impacto.
Tem tido a dinâmica que se desejava?
Sim, têm vindo à Azinhaga, de propósito, pessoas da Argentina Alemanha, França, Turquia, Brasil e sobretudo de Itália, para conhecerem o pólo da fundação José Saramago e a Azinhaga, a sua terra.
Disse há tempos, na inauguração do mural de Saramago na escola Mestre Martins Correia, que ainda não se fez tudo para tirar proveito da ligação de Saramago à Azinhaga e ao concelho da Golegã. Na sua opinião de que forma se pode explorar este filão?
Como costumo dizer, José Saramago não precisava da Azinhaga, a Azinhaga é que precisava de Saramago. Mas a Azinhaga pode e vai fazer mais, criando o percurso Saramago, dentro da freguesia. Diversos excertos do livro ”As pequenas memórias” serão colocados em diversos pontos da aldeia, exactamente nos locais onde se passaram essas histórias. Por exemplo, onde é actualmente o pólo da fundação, Saramago conta a história do tio Carlos Melrinho que foi preso por ter roubado uma galinha. É um dos pontos que pode ser focado neste percurso, ou ainda a história de um sapateiro, que tinha um nível cultural muito acima da média para aquela altura, assim como a famosa história do lagarto verde. É uma das ideias e que vamos pôr em prática, mas penso que o concelho pode tirar mais partido da ligação de José Saramago.
Nomeadamente...
A Golegã tem uma biblioteca municipal e, em 2003, salvo erro, foi aprovado, em reunião de câmara, atribuir-lhe o nome ”Biblioteca Municipal José Saramgo”. Até hoje o nome não foi lá posto, apesar de estar deliberado. Não quer dizer que seja o mais importante, mas pode por exemplo instituir-se o prémio literário José Saramago, para as escolas, ou a nível regional.
”Não sei se há em Portugal continental festas iguais às de Azinhaga”
A Festa do Bodo realiza-se de 21 a 24 de Maio e é um momento importante para a aldeia. Em que medida sr. Presidente?
É um momento importante da aldeia porque a festa faz parte da nossa identidade. São festas com muita tradição que se faziam anualmente até 1974 e depois esteve 25 anos sem se realizar. Em 1999 foi reactivada para a realizar apenas de quatro em quatro anos. Há um ano que a estamos a preparar a festa se 2015 e já temos praticamente o programa concluído, assim como os pares já estão estão todos contactados. A festa já está em adandamento.
Já existe programa. Qual é a sua expectativa: vai ser uma festa de arromba?
Esta vai ser a quinta edição e queremos que esta seja a festa da afirmação. Esta é uma festa que já se realiza pelo menos desde o início de 1500 e, embora o figurino tenha sido alterado, procuramos manter a tradição. Por exemplo, antigamente, as vacas corridas à corda eram mortas na rua, onde eram desmanchadas para a carne ser distribuída às pessoas. Hoje não pode ser assim e a carne benzida é comprada e transportada num carro frigorífico. No último a carne, o pão e vinho são distribuídos às famílias mais necessitadas, e a todas as pessoas que nos visitam é oferecido um churrasco.
A festa tem o mérito de envolver a comunidade. Essa é uma mais-valia?
É verdade, tem a participação de população que se supera. As pessoas arranjam as suas frontarias, as suas casas e enfeitam as ruas. As pessoas juntam-se a preparar a festa, a fazer as flores, por exemplo, e isso cria um espírito de união muito grande. É uma das festas mais tradicionais de Portugal.
Qual é o orçamento da festa?
O orçamento anda na casa dos 50 mil euros, mas este valor não inclui os vestidos das moças que cada mordomo veste, e cada mordomo veste a moça com três vestidos. Em cada dia do cortejo há um vestido diferente. Um cor-de-rosa, um azul celeste e um vestido branco. Esse encargo é todo do mordomo.
É uma festa do povo mas que conta com os apoios imprescindíveis das autarquias. Qual é a disponibilidade da junta para este acontecimento?
A junta dá 10 mil euros, tem sido 7.500 euros e a câmara, ainda não sabemos mas tem sido também 10 mil euros. As autarquias dão ainda apoio logístico.
Quer deixar um convite às pessoas?
Não sei se haverá em Portugal continental festas iguais às de Azinhaga. Convido, por isso, as pessoas a assistirem à Festa do Bodo que é única a nível dos cortejos, largadas e do touro à corda. Sabe que, durante muitos anos, o único sítio onde havia touros à corda em Portugal continental era na Azinhaga. E depois havia nos Açores, onde as festas do Divino Espírito Santo são semelhantes às nossas, embora com maior dimensão.
E convido ainda as pessoas a visitarem a aldeia de Azinhaga, durante todo o ano, porque há muitos motivos de interesse: desde as capelas à Igreja Matriz, que é o maior templo da Borda d’Água, ao jardim que é lindíssimo, e o pólo da Fundação José Saramago. Há ainda associações importantes como a filarmónica, que tem 118 anos e nunca parou e um rancho folclórico que é o mais antigo do Ribatejo. A Azinhaga é uma aldeia pequena mas tem tradições dignas. Em 1938 foi considerada a aldeia mais portuguesa do Ribatejo pela forma como as pessoas cuidavam das suas casas e mantinham as ruas limpas, apesar de serem de terra, e sem ervas. E isso ainda hoje se mantém. Temos uma aldeia limpa, muito arrumada, com uma piscina com uma boa qualidade de água, courts de ténis e pavilhão desportivo para as pessoas usufruírem durante o ano inteiro.
Há pouco mais de um ano foi sujeito a um transplante renal. Tem estado a correr bem?
Fez um ano no dia 7 de Fevereiro. Felizmente, desde que o rim foi ligado, está a funcionar lindamente. Ao fim de quatro dias tinha praticamente os valores normais.
Teve a felicidade de encontrar um dador 100 por cento compatível, uma pessoa que faleceu num acidente de viação. Teve alguma informação sobre a pessoa em causa?
Não sei se foi de acidente de viação ou foi outra causa. E essa é uma informação que não me deram. Apenas sei que fui chamado porque tinha aparecido um rim compatível.
Foi chamado ao hospital durante a madrugada, mas o contacto não foi fácil e só chegaram a si por intermédio da GNR.
Fui contactado às 3 horas da madrugada. Por incrível que pareça os números de telefone que tinham era o do escritório e os dois telemóveis, o meu e o da minha esposa, mas estavam na cozinha e não os ouvimos. Entretanto o médico, que foi impecável, ligou para a GNR que se prontificou a me avisar. O médico pediu ainda informações à PT sobre a existência de mais telefones na minha morada. Deram-lhe um número de uma vizinha minha que bateu à minha porta. A GNR, que já estava a caminho, foi avisada e voltaram para trás. Às 8h30 estava no hospital, fiz as análises necessárias e fui para o bloco às 15 horas, quando de lá saí já tinha meio saco de urina.
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