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Maria Sarmento: “Um jardim de criação de futuros”

Cultura  »  2022-12-04 

Torrejana radicada em Évora há décadas, Maria Sarmento lançou no sábado, em Torres Novas, mais um livro da sua já considerável carreira literária. “Alma d’Hybris”, um belo livro de poesia, foi apresentado por António Mário Santos, historiador e poeta torrejano. É esse texto que publicamos aqui:

«Começo a minha intervenção pela leitura dum texto da poeta Maria Sarmento

Poesia é mistério, é respiração e é trânsito. É ponte e é silêncio que busca e reinventa o indizível Mistério que existe em cada coisa que Há. É como que a escuta de uma melodia antiquíssima que se lembra vagamente da fonte, sendo ela mesma eco do seu som. É errância e via: errância dentro e fora de si mesma, via e trânsito entre mundos. O poeta é, neste sentido, o Processo, o Vaso e a Obra de uma Alquimia Saudosa. Por isso mesmo, um texto nasce e morre no mais alto e fundo grito, e sussurra, em silêncio sagrado, o som de tudo quanto houve, há e haverá.

 Creio que Maria Sarmento sintetiza  neste texto poético com que encerra o seu livro Alma  d’Hybris  todo um caminho , uma demanda, numa pesquisa de si mesma na vivência da sua vida, como da contínua interpretação do mundo que a envolve numa  aura mística e mítica,  em que o real  se transfigura e a irrealidade anuncia  os  múltiplos rostos da transcendència que a memória vai metamorfoseando na busca do indizível onde se pressente um acontecimento único, inominável, um eco de algo que se toca e se perde , que é grito e silêncio,  sombra e luz.

O poema arde no fogo da sua própria linguagem.

A Poesia é, para Maria Sarmento,  o seu vaso alquímico, o jardim onde os diversos jardins nascem da experiência, da observação,  da matéria  única  que é a palavra , esse  centro de tudo, casca e semente, fruto e raiz, voz e eco. A vida é, desde o nascimento, um elo com o outro,  uma melodia indistinta que percorre o labirinto do desconhecido  com  a  ferramenta intuitiva dos sons que, ramo a ramo, se transfiguram em  árvore  onde a palavra  se desvenda e o conhecinemto  se abre em  folhas e frutos e pássaros e ventos e sol .

E a linguagem descobre-se como memória anterior à própria descoberta de si. E os tempos , do ver, do sentir, do pensar,do descobtir, do amar, do sofrer, da descoberta da finitude no seu tecer o manto da revolta  na escrita  da infinitude,  a  casa onde  se descobre em cada vocábulo  a essência do universo e dos mitos e símbolos  que  a memória cultiva na  sua peregrinação interior, no seu regresso  a uma saudade de algo tão vago e denso como a teia da aranha onde a geometria é profética e o sagrado assume a transgressão do sacrifcio e da perda.

A Poeta sabe como as rosas do seu jardim dependem do  cuidado do ajardinamento.

Alma  d’Hybris-1, assim titulou  o primeiro volume do seu tríptico  em que o transecendente e o imanennte reflectem na sua dualidade a unidade da matéria prima – a palavra poética. A poeta, que se  auto-define como a Rosa, na sua cor vermelha,  pedra filosofal  criadora da esperança dum olhar com  que o espítito criativo busca na matéria comum  a unidade do universo.

O que sou? O que é o mundo? O que é a vida?O que é a morte? O que é o caminho? Onde começa? Onde acaba?  Que é Deus? Criador ou criação?O que é o tempo?

Através dum domínio profundo da linguagem, Maria Sarmento , através da ligação entre tudo o que Há, cultiva  a palavra, esse rosto e rasto de algo ctistalino e sombrio, essa dualidade do visível e do invisível, da pele e da semente que nela germina, transfigurando o sentido num  apelo  ao inusitado, como uma tela onde as cores se misturam e separam até ao puro ouro da grande obra.

Jardim de saudades, jardim de criação de futuros, Jardim da alma, da transfiguração do tempo na areia  do corpo, jardim de jardins, onde  a transparência e o mistério do que se esconde no que é visível cresce em imagens, símbolos, signos e metáforas , como fonte que cria a sede quanto a dessedenta.

Aprendizagem, sim , da poeta, mas também do leitor, na necessidade da exigência de se integrar, na peregrinação interior em que o passado se reinventa, não como  solução , mas como hybris, a desmesura de se sentir a criar um novo paraíso, enfrentando o ciúme divino, sofrendo as suas ameaças e perseguições, transformando a sua dor em doação para o aperfeiçoamento moral da humanidade.

De facto, assuma-se:

Toda a literatura  é um desafio às regras estabelecidas do viver comum. Toda a experiência  é aquisição dum conhecimento escondido sob a casca do diferente.

Mas a poeta é também leitora.O livro é a música dum piano que a persegue desde a adolescência,  o mapa dos locais em que se guarda e que aguarda o sopro misterioso da floresta dos símbolos que as letras guardam na sua sacralidade geométrica.  Ler implica, para  Maria Sarmento  ser-se o  outro, o leitor do seu  texto  que se transforma  numa música de afectos e partilhas, que  se sente, se vê,  se constitui  em obra de muitos vozes, que ao se darem a ler, se lêem sempre como uma memória que a sensibilidade e a intuição redescobrem como suas.

Leitura que não é imitação, mas recriação.No idêntico sentido que  a escritora Gabriela Llansol,  em carta a Euardo  Prado Coelho,desvenda: « tenho-(me) norteado pelo princípio de que o texto precisa de encontrar, não o leitor abstracto, mas o leitor real, aquele a que,mais tarde, acabei por chamar legente – que não o tome  nem por ficção, nem por verdade, mas por caminho transitável»  

Ñão há escrita sem o outro, não há jardim sem jardineiro,  as flores não são apenas as que o jardineiro colhe  pelos veredas do mundo, mas também  as  doutros jardins que a  poeta  foi visitando. Templos, chamar-lhes-á a poeta, e no diálogo a palavra ultrapassa o silêncio, transforma-se em ave libertadora, entregue à aprendizagem das suas asas  entre os  quatros ventos, terra, ar, fogo, água, que o seu voo descobre, no  encontro  com essas outras aves, a linguagem órfica que lhe vem, como a autora escreve , «do futuro do passado», esse lugar que a sua  Hybris tenrou roubar à fonte sagrada da criação, pelo desejo de conhecer os mistérios da origem do Tudo  que no Nada se inserem.

Não se estranha, assim,  que Maria Sarmento, na busca das flores para os canteiros do seu jardim, recue ao primeiro  conhecido escrito da demanda da flor da eternidade, ao Gilgamesh sumério, se reveja na  Grécia, esse lugar do sagrado e do profano que passou, entre outros, por Platão, Hesíodo, Heraclito, pelos mitos da criação e  do sofrimento como o de Prometeu, em revolta contra a tirania divina.E persiga,  na Renascença, com  Dante, a descida aos infernos em busca da Amada,  para a ascenção  das diversas fases do conhecimento aré ao cume da montanha e ao reencontro do todo da divindade. Sem esquecer o papel primordial da mulher, da dualidade, da tragédia feminina da sujeição, na sua aprendizagem do ser-se o outro rosto da unidade do ser.

E, nesse ajardinamento, na língua pátria há  todo um caminho , desde o surrealismo, substiuído pelo simbolismo, o onírico, o visionário, o esotérico, o saudosisno, o realismo mágico. Alta  poesia, com gavinhas nos ramos duma literatura e arte portuguesas, onde sobressaem , Pessoa, Pascoais, Pessanha, Vergílio Ferreira, Sophia, Gabriela Llansol, Herberto Helder, o seu «mestre» Lima de Freitas. E, entre outros,estrangeiros, Holderlin, Rilke, Paul Celan,  os pintores Munch, Magritte.

Um último pormenorm que  atraiu a minha tentativa de legente : o conceito de Deus, a queda dos anjos rebeldes, a inveja divina do conhecimento que os primeiros seres, o homem e a mulher, adquiriram pela astúcia da serpente.

Publicou recentemente a poeta um texto, de que cito dois versos :

Sou pagã para os deuses e para os homens.

Tenho um ventre de terra.Posso parir mundos.

 Maria  Sarmento debate e provoca constantemente esse sentido da origem, onde perpassa a saudade de algo que se perdeu , mas é possível ressuscitar. A  sua ideia do Espírito Santo como anunciador do «Passado do Futuro», a elevação pelo sonho, pelo  coração, pela unidade com tudo o que vive, condu-la à intuição, expressa nas Páginas do seu livro , «não sei  se a minha alma é mais antiga  que a de deus»; « quantas vezes morrerei ainda/ antes que a dor sossegue/ e o coração se una aos quatro pontos cardeais/do círculo que é o mundo»; ou, mais cônscia da mudança do ser-se na onda do tempo «E a Menina nascida, de si mesmo morta, acorda  enfim de ser,para ser o que não pode ser, nem deixar de ser».

Como não recordar Pessoa : «Nasce um Deus. Outros morrem,/ a Verdade nem veio nem se foi...um novo deus é uma só palavra./ Não procures , nem creias; tudo é oculto».

Concluamos.

 Ler Alma d’Hybris é como entrar num templo cósmico. O desconhecido avisa-nos que o lugar é duplamente profano e sagrado, revela-se no que se esconde ou esconde-se no que se revela. A leitura dos seus textos poéticos, dos seus poenas, leva-nos a uma viagem pela música da linguagem, pelos  pelos segredos da grande arte.

Maria Sarmento é, afirmo-o, uma voz rara e obrigatória na poesia portuguesa. que nos leva  a aguardar com o maior entusiano, os dois outros livros, que promete,  do triâmgulo mágico da sua concepção de vida e de mundo.

Eis a proposta do legente, a partir do que a poeta  nos diz.

Eu estou em vós. A Voz liga-nos.  A palavra é a ponte. Eis o caminho.

 Parabéns, Maria».

 

 

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