Rio Almonda a morrer pelo caminho
Sociedade » 2023-09-04
Não é inédito, já no ano passado aconteceu, e nos últimos anos o fenómeno tem sido mais frequente do que há duas ou três décadas: o leito do rio Almonda seca cada vez mais para juzante e as águas já não cumprem o seu destino, que é chegarem à Azinhaga e alimentarem o Tejo.
Os verões sempre foram períodos muito sensíveis para a ecologia e o equilíbrio do rio Almonda, em virtude das captações da água para as indústrias e também para a agricultura. Nessas alturas os caudais eram mínimos, mas o rio conseguia atravessar a Azinhaga, última povoação ribeirinha do seu curso, e embrenhar-se no Tejo.
A imagem de um leito completamente seco na Azinhaga não deixa de ser chocante e premonitória: o extractivismo predador de algumas actividades industriais (as captações para a agricultura já pouco contam em termos globais), a somar à inequívoca alteração dos caudais resultantes das alterações climáticas, deixam antever que a vida do rio Almonda, tal como a conhecemos, pode durar menos do que as expectativas mais pessimistas anunciam. Isto se não forem tomadas medidas que contrariem o actual estado de coisas.
“A agricultura usa hoje a água de formas mais eficientes”, segundo o engenheiro Mário Antunes, dirigente da OngaTejo, associação não governamental na área do ambiente e que agrupa os agricultores participantes na gestão da Reserva Natural do Paul do Boquilobo. Em declarações ao nosso colega “O Riachense”, o dirigente não minimiza os riscos das alterações climáticas e do consequente aquecimento global, que considera serem as causas principais destas secas continuadas na região mediterrânea, de que o Almonda não escapa. “A falta de água, diz, parece ser o futuro mais previsível, embora muita coisa se possa fazer para minorar o problema”. Mas Para Mário Antunes, ainda em declarações a “O Riachense”, ”a acusação comum ao mau uso da água por parte dos agricultores, na rega dos campos, já não se justifica, sendo coisa do passado”, defendendo o técnico a construção de uma barragem no troço final do Almonda para reter parte da água dos caudais de Inverno, o que se afigura difícil atendendo à inexistência de um encaixe topográfico compatível, embora a alternativa de dois ou três açudes seja de ter em conta.
Cidade: o rio é um engano
Quem vê o rio Almonda na cidade de Torres Novas é levado ao engano, parecendo o rio pujante nos espelhos de água que atravessam a urbe. Pura ilusão: não fora a existência de açudes e, mesmo na avenida, o rio não passaria actualmente de um charco com um fio de água a correr no meio do leito. O espelho de água da avenida, que a acompanha até final da via, é devido à existência do açude real. Depois, a pouca água que havia junto à Central do Caldeirão e à tarambola devia-se à existência de uma pequena represa de pedras, antes da Bácora, represa essa que foi basicamente reparada por volta do ano 2000 e que se encontra praticamente desarticulada. Tratava-se apenas de sobreposição e junção de pedra, sem qualquer outro material. Depois, a partir daí, o rio transformava-se num charco e no Lamego andava-se a pé por todo o leito durante os meses de Verão, com um pequeno fio de água a correr junto à margem esquerda. Por isso, dizer, como disseram alguns que viram os seus muros caírem de velhice, que os muros que caíram por causa da limpeza do rio, no ano 2000, que deixou as estacas ao sol durante muito tempo, é uma falsidade: durante décadas, séculos, as estacas dos muros e das casas ficavam fora de água a apanhar sol durante meses.
Esta situação só foi alterada com a construção do novo açude junto ao Moinho dos Gafos, no final dos anos 90. A partir daí, o troço do rio entre a Bácora e os Gafos passou a ter espelho de água nos meses de verão. Para juzante, o rio volta a ter pouca água, que se junta um pouco perto da Cova, exactamente por causa do açude aí existente. A partir daqui vai perdendo força e quando passa à ponte dos Mesiões já é um modesto riacho, difícil de descortinar em resultado do caos que ali se verifica por falta de limpeza do leito, mas margens e das levadas.
O rio e o colapso global
Agora, mesmo para os negacionismos, já é difícil negar a caminhada triunfal da humanidade (melhor, dos interesses do extrativismo predatório) em direcção ao colapso ecológico global. Guterres, em nome do planeta, diz que já não estamos na era do aquecimento global mas da ebulição total, o papa Francisco diz que é preciso decrescer, que temos [o Ocidente] de ficar um bocadinho mais pobres consumindo menos, e que a economia actual assenta num “capitalismo que mata”).
Por conseguinte, também inegável que, às medidas de carácter global teremos de associar o que localmente podemos fazer para salvar recursos e ecossistemas. E aí entra o futuro do rio Almonda. E a evidência de que, se queremos um rio para as gerações vindouras, temos de repensar o modo como é encarada a extracção de água, sem limite, e politicamente perguntar por que razão se viabilizaram há poucos anos projectos de expansão industrial que implicam mais gastos de água, mais deposição de efluentes, mais expansão de aterros e consequente contaminação dos solos, numa actividade que, obtendo milhões de euros de lucros anuais, bem poderia manter-se num nível sensato de laboração ao invés de persistir nos crescimento, que é afinal o crescimento de esgotamento de recursos, o crescimento da pegada poluente em prol do crescimento, sim, dos lucros de accionistas para quem o rio, o ambiente e a comunidade não passam de figuras de retórica.
Rio Almonda a morrer pelo caminho
Sociedade » 2023-09-04Não é inédito, já no ano passado aconteceu, e nos últimos anos o fenómeno tem sido mais frequente do que há duas ou três décadas: o leito do rio Almonda seca cada vez mais para juzante e as águas já não cumprem o seu destino, que é chegarem à Azinhaga e alimentarem o Tejo.
Os verões sempre foram períodos muito sensíveis para a ecologia e o equilíbrio do rio Almonda, em virtude das captações da água para as indústrias e também para a agricultura. Nessas alturas os caudais eram mínimos, mas o rio conseguia atravessar a Azinhaga, última povoação ribeirinha do seu curso, e embrenhar-se no Tejo.
A imagem de um leito completamente seco na Azinhaga não deixa de ser chocante e premonitória: o extractivismo predador de algumas actividades industriais (as captações para a agricultura já pouco contam em termos globais), a somar à inequívoca alteração dos caudais resultantes das alterações climáticas, deixam antever que a vida do rio Almonda, tal como a conhecemos, pode durar menos do que as expectativas mais pessimistas anunciam. Isto se não forem tomadas medidas que contrariem o actual estado de coisas.
“A agricultura usa hoje a água de formas mais eficientes”, segundo o engenheiro Mário Antunes, dirigente da OngaTejo, associação não governamental na área do ambiente e que agrupa os agricultores participantes na gestão da Reserva Natural do Paul do Boquilobo. Em declarações ao nosso colega “O Riachense”, o dirigente não minimiza os riscos das alterações climáticas e do consequente aquecimento global, que considera serem as causas principais destas secas continuadas na região mediterrânea, de que o Almonda não escapa. “A falta de água, diz, parece ser o futuro mais previsível, embora muita coisa se possa fazer para minorar o problema”. Mas Para Mário Antunes, ainda em declarações a “O Riachense”, ”a acusação comum ao mau uso da água por parte dos agricultores, na rega dos campos, já não se justifica, sendo coisa do passado”, defendendo o técnico a construção de uma barragem no troço final do Almonda para reter parte da água dos caudais de Inverno, o que se afigura difícil atendendo à inexistência de um encaixe topográfico compatível, embora a alternativa de dois ou três açudes seja de ter em conta.
Cidade: o rio é um engano
Quem vê o rio Almonda na cidade de Torres Novas é levado ao engano, parecendo o rio pujante nos espelhos de água que atravessam a urbe. Pura ilusão: não fora a existência de açudes e, mesmo na avenida, o rio não passaria actualmente de um charco com um fio de água a correr no meio do leito. O espelho de água da avenida, que a acompanha até final da via, é devido à existência do açude real. Depois, a pouca água que havia junto à Central do Caldeirão e à tarambola devia-se à existência de uma pequena represa de pedras, antes da Bácora, represa essa que foi basicamente reparada por volta do ano 2000 e que se encontra praticamente desarticulada. Tratava-se apenas de sobreposição e junção de pedra, sem qualquer outro material. Depois, a partir daí, o rio transformava-se num charco e no Lamego andava-se a pé por todo o leito durante os meses de Verão, com um pequeno fio de água a correr junto à margem esquerda. Por isso, dizer, como disseram alguns que viram os seus muros caírem de velhice, que os muros que caíram por causa da limpeza do rio, no ano 2000, que deixou as estacas ao sol durante muito tempo, é uma falsidade: durante décadas, séculos, as estacas dos muros e das casas ficavam fora de água a apanhar sol durante meses.
Esta situação só foi alterada com a construção do novo açude junto ao Moinho dos Gafos, no final dos anos 90. A partir daí, o troço do rio entre a Bácora e os Gafos passou a ter espelho de água nos meses de verão. Para juzante, o rio volta a ter pouca água, que se junta um pouco perto da Cova, exactamente por causa do açude aí existente. A partir daqui vai perdendo força e quando passa à ponte dos Mesiões já é um modesto riacho, difícil de descortinar em resultado do caos que ali se verifica por falta de limpeza do leito, mas margens e das levadas.
O rio e o colapso global
Agora, mesmo para os negacionismos, já é difícil negar a caminhada triunfal da humanidade (melhor, dos interesses do extrativismo predatório) em direcção ao colapso ecológico global. Guterres, em nome do planeta, diz que já não estamos na era do aquecimento global mas da ebulição total, o papa Francisco diz que é preciso decrescer, que temos [o Ocidente] de ficar um bocadinho mais pobres consumindo menos, e que a economia actual assenta num “capitalismo que mata”).
Por conseguinte, também inegável que, às medidas de carácter global teremos de associar o que localmente podemos fazer para salvar recursos e ecossistemas. E aí entra o futuro do rio Almonda. E a evidência de que, se queremos um rio para as gerações vindouras, temos de repensar o modo como é encarada a extracção de água, sem limite, e politicamente perguntar por que razão se viabilizaram há poucos anos projectos de expansão industrial que implicam mais gastos de água, mais deposição de efluentes, mais expansão de aterros e consequente contaminação dos solos, numa actividade que, obtendo milhões de euros de lucros anuais, bem poderia manter-se num nível sensato de laboração ao invés de persistir nos crescimento, que é afinal o crescimento de esgotamento de recursos, o crescimento da pegada poluente em prol do crescimento, sim, dos lucros de accionistas para quem o rio, o ambiente e a comunidade não passam de figuras de retórica.
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