Conjunto arqueológico monumental descoberto na aldeia da Mata
Sociedade » 2019-09-06São 45 “poços” alinhados numa das ruas da povoação
A designação de “poços” utilizada no ante-título é meramente ilustrativa: trata-se de quase cinco dezenas de estruturas escavadas, de forma cilíndrica, descobertas durante os trabalhos de saneamento da aldeia. Desconhece-se ainda a função e datação deste conjunto, inédito no país na sua tipologia.
Na aldeia de Mata, freguesia de Chancelaria, têm estado a decorrer trabalhos de saneamento realizados pela empresa Águas do Ribatejo e todas as ruas e ruelas da povoação foram esventradas. Na rua do Cabo, que desce da aldeia em direcção ao Covão, na estrada do Alvorão, num alinhamento de cerca de 200 metros foram postos a descoberto, pela equipa arqueológica que acompanha os trabalhos, 45 estruturas escavadas na rocha calcária com a forma cilíndrica.
A princípio, julgou tratar-se de silos, abundantes em qualquer núcleo urbano como é o caso de Torres Novas, onde foram localizadas algumas dezenas nas ruas do centro histórico, só que estas estruturas são normalmente arredondadas na base e mais fechadas na boca, por onde se começava a escavar para depois se ir alargando a forma interior até fechar em base côncava. Serviam para armazenar e conservar cereais, vinho ou azeite, por exemplo.
Na Mata, não são esses silos as estruturas encontradas. Na base, o acabamento das paredes permanece num ângulo perfeito (dir-se-ia característica próprio da técnica de cantaria romana), enquanto a boca mantém o diâmetro global. São 45 “poços”, com diâmetros que vão do 1,20m a 1,60 e profundidade variada até cerca dos 2 metros.
À partida, pela tipologia (diferente dos silos) e pela quantidade, estamos na presença de um conjunto arqueológico monumental. Inédito, tanto quanto se sabe, no país e em contextos como o de uma pequena aldeia. Os materiais depositados nas estruturas têm sido enviados para análise, mas ainda não há evidências quanto à origem e datação dos “poços”. No entanto, pela quantidade, estarão certamente ligados à produção de qualquer exploração agrícola de grandes dimensões, até porque é pouco provável que só existam estes 45 “poços” em toda a zona. A quantidade e características podem remeter para uma actividade agro-industrial muito antiga.
Parece estranha a hipótese de as estruturas serem tardo-medievais ou modernas. Por uma lado, na Idade Média a Mata era um pequeníssimo povoado de poucas dezenas de moradores, não sendo possível atribuir a uma povoação tão pequena a necessidade de ter existido tal número de estruturas. Mais tarde, nos Inquéritos Paroquiais de 1758, o pároco da freguesia não faz referência a qualquer tema relacionado com as “covas”, nem refere haver delas memória, sinal de que as estruturas já estavam apagadas da memória colectiva dos moradores há muitos séculos. Também na toponímia não há sinal de hipotética ligação aos monumentos.
A Mata insere-se numa zona onde a tradição diz ter existido a cidade romana de Malhada, e no princípio do século passado foram encontrados vestígios inequívocos da presença romana na zona: restos de construção e telhões que apontam para a mais que provável existência, não de uma “cidade”, como diz a tradição, mas de uma villa romana de razoável dimensão, que certamente produzia vinho e azeite e tinha muito perto os férteis terrenos da várzea da ribeira do Alvorão. Aparentemente, só a presença romana e a actividade agrícola intensiva que caracterizava as villae romanas poderiam explicar um conjunto desta dimensão, mas a equipa arqueológica não pode adiantar quaisquer dados.
De qualquer modo, o JT falou com um arqueólogo especialista em investigação do período romano, João Marques, de Vila Franca de Xira, que confirma estarmos em presença de um notável e raro conjunto arqueológico, inédito em contextos como o que surge na Mata. Algumas características dos “poços” encontrados na Mata são compatíveis com a tipologia de estruturas romanas semelhantes e assim identificadas pela existência de vestígios materiais do tempo da ocupação romana. É isso que falta, no caso da Mata, embora fosse relativamente fácil estabelecer o elo entre os “poços” e a presença romana acaso aparecesse qualquer achado inequivocamente romano, como vidros ou mesmo restos de qualquer utensílio (metais, adornos de vestuário, etc).
Vítor Dias, outro arqueólogo contactado pelo JT e com vasta experiência em trabalhos arqueológicos por todo o país, reconhece a singularidade e raridade de um conjunto desta dimensão, adiantando que a datação para o período romano teria de suportar-se em vestígios materiais inequívocos associados à construção destas estruturas negativas, que poderão ser de um período medieval muito antigo, assim se explicando que tenha desaparecido da memória colectiva qualquer “rasto” da sua existência.
No entanto, estas estruturas encontradas na Mata também se assemelham, de forma perturbadora, a silos hispânicos pré-romanos (por exemplo aos do conhecido complexo de Girona): “poços” exactamente assim, como rebordos acima do solo, tapados depois com enormes testos de barro, destinados ao armazenamento de cereais. As próprias fontes romanas, na descrição destes silos dos povos “ibéricos”, afirmavam que os grãos conservados nestas estruturas duravam muitas décadas.
A situação está a preocupar alguns moradores da Mata, que não se conformam com a eventual destruição das estruturas. Uma troika formada por Sérgio Poupado, Laura Santos e Jorge Duque, tem tentado estabelecer contactos com a autarquia (a obra é da Águas do Ribatejo, por conta da Câmara de Torres Novas, que é o principal accionista da empresa), no sentido de estabelecer um acordo que permita continuar a investigação arqueológica. Referem que a obra de saneamento da aldeia nunca parou por causa das escavações e que está em causa, apenas, uma rua entre dezenas, pelo que o trabalho da empresa pode continuar perfeitamente no resto dos arruamentos.
Enquanto isto, a Mata já está na mapa dos monumentos arqueológicos do país, seja a que for a origem e datação das estruturas, e o concelho tem à vista um conjunto de estruturas que pode ser precioso para a identificação de um período relevante seu passado histórico.
Conjunto arqueológico monumental descoberto na aldeia da Mata
Sociedade » 2019-09-06São 45 “poços” alinhados numa das ruas da povoação
A designação de “poços” utilizada no ante-título é meramente ilustrativa: trata-se de quase cinco dezenas de estruturas escavadas, de forma cilíndrica, descobertas durante os trabalhos de saneamento da aldeia. Desconhece-se ainda a função e datação deste conjunto, inédito no país na sua tipologia.
Na aldeia de Mata, freguesia de Chancelaria, têm estado a decorrer trabalhos de saneamento realizados pela empresa Águas do Ribatejo e todas as ruas e ruelas da povoação foram esventradas. Na rua do Cabo, que desce da aldeia em direcção ao Covão, na estrada do Alvorão, num alinhamento de cerca de 200 metros foram postos a descoberto, pela equipa arqueológica que acompanha os trabalhos, 45 estruturas escavadas na rocha calcária com a forma cilíndrica.
A princípio, julgou tratar-se de silos, abundantes em qualquer núcleo urbano como é o caso de Torres Novas, onde foram localizadas algumas dezenas nas ruas do centro histórico, só que estas estruturas são normalmente arredondadas na base e mais fechadas na boca, por onde se começava a escavar para depois se ir alargando a forma interior até fechar em base côncava. Serviam para armazenar e conservar cereais, vinho ou azeite, por exemplo.
Na Mata, não são esses silos as estruturas encontradas. Na base, o acabamento das paredes permanece num ângulo perfeito (dir-se-ia característica próprio da técnica de cantaria romana), enquanto a boca mantém o diâmetro global. São 45 “poços”, com diâmetros que vão do 1,20m a 1,60 e profundidade variada até cerca dos 2 metros.
À partida, pela tipologia (diferente dos silos) e pela quantidade, estamos na presença de um conjunto arqueológico monumental. Inédito, tanto quanto se sabe, no país e em contextos como o de uma pequena aldeia. Os materiais depositados nas estruturas têm sido enviados para análise, mas ainda não há evidências quanto à origem e datação dos “poços”. No entanto, pela quantidade, estarão certamente ligados à produção de qualquer exploração agrícola de grandes dimensões, até porque é pouco provável que só existam estes 45 “poços” em toda a zona. A quantidade e características podem remeter para uma actividade agro-industrial muito antiga.
Parece estranha a hipótese de as estruturas serem tardo-medievais ou modernas. Por uma lado, na Idade Média a Mata era um pequeníssimo povoado de poucas dezenas de moradores, não sendo possível atribuir a uma povoação tão pequena a necessidade de ter existido tal número de estruturas. Mais tarde, nos Inquéritos Paroquiais de 1758, o pároco da freguesia não faz referência a qualquer tema relacionado com as “covas”, nem refere haver delas memória, sinal de que as estruturas já estavam apagadas da memória colectiva dos moradores há muitos séculos. Também na toponímia não há sinal de hipotética ligação aos monumentos.
A Mata insere-se numa zona onde a tradição diz ter existido a cidade romana de Malhada, e no princípio do século passado foram encontrados vestígios inequívocos da presença romana na zona: restos de construção e telhões que apontam para a mais que provável existência, não de uma “cidade”, como diz a tradição, mas de uma villa romana de razoável dimensão, que certamente produzia vinho e azeite e tinha muito perto os férteis terrenos da várzea da ribeira do Alvorão. Aparentemente, só a presença romana e a actividade agrícola intensiva que caracterizava as villae romanas poderiam explicar um conjunto desta dimensão, mas a equipa arqueológica não pode adiantar quaisquer dados.
De qualquer modo, o JT falou com um arqueólogo especialista em investigação do período romano, João Marques, de Vila Franca de Xira, que confirma estarmos em presença de um notável e raro conjunto arqueológico, inédito em contextos como o que surge na Mata. Algumas características dos “poços” encontrados na Mata são compatíveis com a tipologia de estruturas romanas semelhantes e assim identificadas pela existência de vestígios materiais do tempo da ocupação romana. É isso que falta, no caso da Mata, embora fosse relativamente fácil estabelecer o elo entre os “poços” e a presença romana acaso aparecesse qualquer achado inequivocamente romano, como vidros ou mesmo restos de qualquer utensílio (metais, adornos de vestuário, etc).
Vítor Dias, outro arqueólogo contactado pelo JT e com vasta experiência em trabalhos arqueológicos por todo o país, reconhece a singularidade e raridade de um conjunto desta dimensão, adiantando que a datação para o período romano teria de suportar-se em vestígios materiais inequívocos associados à construção destas estruturas negativas, que poderão ser de um período medieval muito antigo, assim se explicando que tenha desaparecido da memória colectiva qualquer “rasto” da sua existência.
No entanto, estas estruturas encontradas na Mata também se assemelham, de forma perturbadora, a silos hispânicos pré-romanos (por exemplo aos do conhecido complexo de Girona): “poços” exactamente assim, como rebordos acima do solo, tapados depois com enormes testos de barro, destinados ao armazenamento de cereais. As próprias fontes romanas, na descrição destes silos dos povos “ibéricos”, afirmavam que os grãos conservados nestas estruturas duravam muitas décadas.
A situação está a preocupar alguns moradores da Mata, que não se conformam com a eventual destruição das estruturas. Uma troika formada por Sérgio Poupado, Laura Santos e Jorge Duque, tem tentado estabelecer contactos com a autarquia (a obra é da Águas do Ribatejo, por conta da Câmara de Torres Novas, que é o principal accionista da empresa), no sentido de estabelecer um acordo que permita continuar a investigação arqueológica. Referem que a obra de saneamento da aldeia nunca parou por causa das escavações e que está em causa, apenas, uma rua entre dezenas, pelo que o trabalho da empresa pode continuar perfeitamente no resto dos arruamentos.
Enquanto isto, a Mata já está na mapa dos monumentos arqueológicos do país, seja a que for a origem e datação das estruturas, e o concelho tem à vista um conjunto de estruturas que pode ser precioso para a identificação de um período relevante seu passado histórico.
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