O Moinho da Fonte: a antiga povoação, a fábrica de papel e o rio Almonda – apontamentos históricos
Sociedade » 2021-04-13
A pequena povoação do Moinho da Fonte (freguesia de Pedrógão) já era nos anos 30 e hoje seria ainda, não fosse a expansão da fábrica de papel, a mais bonita aldeia do concelho de Torres Novas (na foto).
Alcandorada numa encosta que antecede o arrife, a escassas dezenas de metros da nascente do rio Almonda, o Moinho da Fonte era um aglomerado de casas de habitação, moinhos e um lagar, com o rio a correr entre a povoação e a outra margem, freguesia de Zibreira, onde estavam os restos de uma antiga fábrica de papel ardida em 1904. Uma espécie de paraíso.
A povoação já existia na Idade Média com o nome de Moinho da Fonte, resultante não só da existência de um moinho, o primeiro, e da “fonte”, a nascente do Almonda, ali a poucos metros (ver segunda fotografia, a "fonte" junto à nascente e antes da construção da barragem).
A construção da fábrica primitiva teve início por volta de 1820 e pertencia a Bento Ardisson, comerciante de Lisboa. Pelo Inquérito Industrial de 1890, pertencia à sociedade Freitas & Gabriel, tinha 38 trabalhadores (cerca de 20 mulheres) e no rol de indústrias de 1892, respondia pela firma Feliciano Gabriel de Freitas & Companhia.
Em 1872, entretanto, estão já assinalados os moinhos de João dos Santos Torrinha, de Ana Vieira e de Manuel Joaquim, no lugar de Moinho da Fonte, e um outro no Casal Feijão, pertencente a José dos Santos Torrinha.
A primeira aventura da primitiva fábrica de papel duraria cerca de oitenta anos, mas com muitas intermitências. Em 1893, A RENASCENÇA noticiava que “estava quase completa a reorganização da fábrica de papel”, mas a fábrica não teria vida longa, tendo ardido em 1904.
No início dos anos 20 do século XX deram-se as últimas tentativas de ressuscitar a empresa: em 1924 “o Almonda” noticiava obras que tinham alterado o curso do rio, causando prejuízos: “no Nascente do Almonda tem havido grandes prejuízos, nos moinhos, devido às obras aí executadas para a fábrica de papel que forçaram o rio para a margem oposta.”
Nada se iria passar e a fábrica mais uma vez não iria reabrir. Lembrava “o Almonda”, em 1938, que “foi vendido ao desbarato o rico material importado do estrangeiro, milhares de contos foram perdidos por falta de orientação e sua administração”.
Em 1939 uma nova sociedade, então formada recentemente, tomou conta dos restos da velha fábrica e fundou a Fábrica de Papel do Almonda, antes solicitando autorização do Governo para funcionar.
O edital da sociedade e respectivo capital seria publicado em Setembro de 1939, nove meses depois da autorização condicionada do ministro. A empresa tomava a designação oficial de Fábrica de Papel do Almonda, Lda, e foi constituída uma sociedade comercial por quotas com um capital social de 1.530.000$00.
O anúncio informava que as quotas foram integralmente realizadas em dinheiro, excepto a do sócio António da Costa Tereso. Esta particularidade seria decisiva para o futuro da Renova, já que Tereso, não se sabe por que razões, abdicaria de iniciar a laboração na sua fábrica do Casal Feijão, já na posse de autorização definitiva.
Na verdade, o despacho de 1938 autorizava António Tereso a laborar na sua fábrica do Casal Feijão (umas centenas de metros a jusante da nascente) e começara por negar as pretensões iniciais da nova empresa: “Negada autorização a Mário de Oliveira Viegas Tavares [e outros] para transferirem os maquinismos que adquiriram à Companhia Industrial de Tancos para a Fábrica de papel A Renova, sita na nascente do rio Almonda”, mas a segunda parte do despacho abria a porta ao empreendimento se a empresa optasse por dotar-se de máquinas mais de acordo com as exigências oficiais, o que acabaria por acontecer, com a licença a surgir em 1939.
Em Maio de 1940, depois de obras e aquisição de equipamentos, começava então a funcionar a nova fábrica. Num dos edifícios ficaria gravada a inscrição “Fábrica de Papel do Almonda, Lda”, a indicar que uma nova era começava desde então, e por baixo, a inscrição “A Renova” associava a “marca” que tinha pretendido recuperar a antiga fábrica.
A lógica de expansão de terrenos da empresa começou em 1955, com a compra de um terreno ao município, 6000m2 do baldio municipal n.º 42 de freguesia de Pedrógão, por 3010$, terreno esse envolvendo a nascente do rio Almonda e a escarpa até à linha do arrife, criando uma zona-tampão privada em volta de um bem público, o rio e a sua nascente. A fábrica crescia, passava de uma margem para a outra e engolia gradualmente a velha povoação de Moinho da Fonte.
A instalação da “máquina 4” em 1970 alterou por completo a bucólica paisagem do local e a própria “geografia” das águas do rio Almonda, já que o edifício onde foi implantada foi construído exactamente em cima do leito do rio, engolindo aquele troço inicial do curso do Almonda logo a seguir à barragem, algo inexplicável mesmo para os critérios da época (ver diferenças entre a terceira e a quarta foto).
Os conflitos com alguns proprietários dos moinhos vinham de trás, já que muitas vezes a potência de sucção das bombas de alimentação da turbina diminuía muito a força do caudal, impedindo os moinhos de trabalhar.
Nos anos 70 a empresa cria a Fábrica 2, a cerca de um quilómetro da nascente, e constrói uma conduta de 1,2Km para levar a água da barragem da nascente até à nova fábrica. Hoje, na fábrica antiga, apenas a velha máquina 4 está em funcionamento. No entanto, o edificado fabril cobre por completo as primeiras dezenas de metros do leito do rio (ver foto 3), expandiu-se para a outra margem, enquanto do Moinho da Fonte sobram algumas casas e ruínas de edificações várias como o lagar.
João Carlos Lopes
O Moinho da Fonte: a antiga povoação, a fábrica de papel e o rio Almonda – apontamentos históricos
Sociedade » 2021-04-13A pequena povoação do Moinho da Fonte (freguesia de Pedrógão) já era nos anos 30 e hoje seria ainda, não fosse a expansão da fábrica de papel, a mais bonita aldeia do concelho de Torres Novas (na foto).
Alcandorada numa encosta que antecede o arrife, a escassas dezenas de metros da nascente do rio Almonda, o Moinho da Fonte era um aglomerado de casas de habitação, moinhos e um lagar, com o rio a correr entre a povoação e a outra margem, freguesia de Zibreira, onde estavam os restos de uma antiga fábrica de papel ardida em 1904. Uma espécie de paraíso.
A povoação já existia na Idade Média com o nome de Moinho da Fonte, resultante não só da existência de um moinho, o primeiro, e da “fonte”, a nascente do Almonda, ali a poucos metros (ver segunda fotografia, a "fonte" junto à nascente e antes da construção da barragem).
A construção da fábrica primitiva teve início por volta de 1820 e pertencia a Bento Ardisson, comerciante de Lisboa. Pelo Inquérito Industrial de 1890, pertencia à sociedade Freitas & Gabriel, tinha 38 trabalhadores (cerca de 20 mulheres) e no rol de indústrias de 1892, respondia pela firma Feliciano Gabriel de Freitas & Companhia.
Em 1872, entretanto, estão já assinalados os moinhos de João dos Santos Torrinha, de Ana Vieira e de Manuel Joaquim, no lugar de Moinho da Fonte, e um outro no Casal Feijão, pertencente a José dos Santos Torrinha.
A primeira aventura da primitiva fábrica de papel duraria cerca de oitenta anos, mas com muitas intermitências. Em 1893, A RENASCENÇA noticiava que “estava quase completa a reorganização da fábrica de papel”, mas a fábrica não teria vida longa, tendo ardido em 1904.
No início dos anos 20 do século XX deram-se as últimas tentativas de ressuscitar a empresa: em 1924 “o Almonda” noticiava obras que tinham alterado o curso do rio, causando prejuízos: “no Nascente do Almonda tem havido grandes prejuízos, nos moinhos, devido às obras aí executadas para a fábrica de papel que forçaram o rio para a margem oposta.”
Nada se iria passar e a fábrica mais uma vez não iria reabrir. Lembrava “o Almonda”, em 1938, que “foi vendido ao desbarato o rico material importado do estrangeiro, milhares de contos foram perdidos por falta de orientação e sua administração”.
Em 1939 uma nova sociedade, então formada recentemente, tomou conta dos restos da velha fábrica e fundou a Fábrica de Papel do Almonda, antes solicitando autorização do Governo para funcionar.
O edital da sociedade e respectivo capital seria publicado em Setembro de 1939, nove meses depois da autorização condicionada do ministro. A empresa tomava a designação oficial de Fábrica de Papel do Almonda, Lda, e foi constituída uma sociedade comercial por quotas com um capital social de 1.530.000$00.
O anúncio informava que as quotas foram integralmente realizadas em dinheiro, excepto a do sócio António da Costa Tereso. Esta particularidade seria decisiva para o futuro da Renova, já que Tereso, não se sabe por que razões, abdicaria de iniciar a laboração na sua fábrica do Casal Feijão, já na posse de autorização definitiva.
Na verdade, o despacho de 1938 autorizava António Tereso a laborar na sua fábrica do Casal Feijão (umas centenas de metros a jusante da nascente) e começara por negar as pretensões iniciais da nova empresa: “Negada autorização a Mário de Oliveira Viegas Tavares [e outros] para transferirem os maquinismos que adquiriram à Companhia Industrial de Tancos para a Fábrica de papel A Renova, sita na nascente do rio Almonda”, mas a segunda parte do despacho abria a porta ao empreendimento se a empresa optasse por dotar-se de máquinas mais de acordo com as exigências oficiais, o que acabaria por acontecer, com a licença a surgir em 1939.
Em Maio de 1940, depois de obras e aquisição de equipamentos, começava então a funcionar a nova fábrica. Num dos edifícios ficaria gravada a inscrição “Fábrica de Papel do Almonda, Lda”, a indicar que uma nova era começava desde então, e por baixo, a inscrição “A Renova” associava a “marca” que tinha pretendido recuperar a antiga fábrica.
A lógica de expansão de terrenos da empresa começou em 1955, com a compra de um terreno ao município, 6000m2 do baldio municipal n.º 42 de freguesia de Pedrógão, por 3010$, terreno esse envolvendo a nascente do rio Almonda e a escarpa até à linha do arrife, criando uma zona-tampão privada em volta de um bem público, o rio e a sua nascente. A fábrica crescia, passava de uma margem para a outra e engolia gradualmente a velha povoação de Moinho da Fonte.
A instalação da “máquina 4” em 1970 alterou por completo a bucólica paisagem do local e a própria “geografia” das águas do rio Almonda, já que o edifício onde foi implantada foi construído exactamente em cima do leito do rio, engolindo aquele troço inicial do curso do Almonda logo a seguir à barragem, algo inexplicável mesmo para os critérios da época (ver diferenças entre a terceira e a quarta foto).
Os conflitos com alguns proprietários dos moinhos vinham de trás, já que muitas vezes a potência de sucção das bombas de alimentação da turbina diminuía muito a força do caudal, impedindo os moinhos de trabalhar.
Nos anos 70 a empresa cria a Fábrica 2, a cerca de um quilómetro da nascente, e constrói uma conduta de 1,2Km para levar a água da barragem da nascente até à nova fábrica. Hoje, na fábrica antiga, apenas a velha máquina 4 está em funcionamento. No entanto, o edificado fabril cobre por completo as primeiras dezenas de metros do leito do rio (ver foto 3), expandiu-se para a outra margem, enquanto do Moinho da Fonte sobram algumas casas e ruínas de edificações várias como o lagar.
João Carlos Lopes
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