O QUE A CÂMARA QUER DESTRUIR: O porto da Bácora, atentado patrimonial - por J. Júlio Antunes
Sociedade » 2020-10-22
O “Jornal Torrejano”, como já nos habituou, tomou a iniciativa de denunciar o atentado patrimonial da destruição do porto da Bácora e tapar o acesso pedonal ao rio. Nos tempos medievais ali existia um acesso desde a muralha da cerca até ao rio, evidenciado também durante as últimas obras na rua da Levada. Atentado este que não estará no projecto da obra municipal e que serve de remendo a erros de cálculo da dimensão da nova ponte ali colocada.
Nos anos sessenta do século passado, o porto da Bácora era a praia dos jovens e das crianças que viviam no centro da cidade ou em casas próximas do campo de jogos do Almonda Parque. Ali existiam duas tarambolas, a da horta das Pedras, e a outra que levava água para regar o jardim de João Clara. Em início dos anos sessenta, a primeira tarambola desmoronou-se, por desuso, deixando a segunda a funcionar junto a uma pequena ilha no meio do rio e bordejada de choupos onde todos nós nos deliciávamos ora apanhando banhos de sol, praticando natação ou pescando uns bordalos e umas bogas.
De salientar que a maioria de nós não tinha férias de praia e poucos só lá iam um dia por ano em alguma excursão. A referida ilha situava-se ao lado da vala que ladeava o muro do jardim de João Clara e que era o final da grande levada que começava na ponte Pedrinha ou da Levada, na margem direita do rio, que fazia rodar as mós dos desaparecidos moinhos ali existentes. Nessa vala, despejávamos diariamente vários tijolos onde as enguias se escondiam e que nós, no dia seguinte apanhávamos, tapando os buracos com as duas mãos. A segunda tarambola também teve fatal destino!
No porto da Bácora estavam colocadas diversas pedras apropriadas para a lavagem da roupa, tarefa a que as nossas mães se dedicavam com bastante esmero, ora lavando para casa ou para clientes de fora. A roupa lavada era estendida numa pequena língua de terra onde crescia erva, adjacente à garagem do Moiteiro. Terminada a tarefa, parte da roupa já ia para casa seca e dobrada.
Em vésperas dos jogos no Almonda Parque, com as pedras da lavagem da roupa fazíamos uma passagem que atravessava o rio, que ali era pouco fundo, por onde alguns se escapuliam entrando de borla nos jogos do Torres Novas. Mas o Gregório, guarda do campo, estava atento e quando se apercebia desta situação, lá se descalçava para destruir todo o nosso trabalho. E depois também ouvíamos as lavadeiras que, no dia seguinte, teriam de reconstruir o seu local de lavagem de roupa.
E tudo isto durou até ao início dos anos setenta, tendo ali sido construída uma ponte pedonal, para acesso ao novo mercado semanal depois da saída do campo de jogos para o recentemente inaugurado Estádio Municipal. E a passagem para o jardim de João Clara também foi construída nos anos setenta e numa altura em que o rio estava impraticável pela poluição industrial. Já ninguém ali lavava roupa ou tomava banho (já havia as novas piscinas), e o local foi transformado em vazadouro de lixo que os moradores locais atiravam das varandas.
Toda esta situação se manteve até que as célebres limpezas do rio desencadeadas pela gestão Rodrigues na câmara municipal destruíram a aprazível ilha que ali existia e a língua de terra encostava à garagem do Moiteiro, pelo que agora no local se depositam toda as espécie de lixos e ramagens que as cheias trazem de montante.
A estupidez de aprovar a passagem para o jardim de João Clara, parte dela assente em muro público, e agora de tapar o porto da Bácora, são obstáculos para que se impeça o secular acesso pedonal ao rio e a recolha manual de ramos e troncos de árvores que anualmente ali se depositam. É que o porto da Bácora é mesmo preciso!
Para todos os efeitos, estamos perante uma desafectação de uma via pública, que é o caminho de acesso ao Rio Almonda no porto da Bácora. Por acaso foi feita alguma consulta pública ou tomada alguma deliberação que altere o projecto das obras do Almonda Parque?
É preciso corrigir o erro ali cometido e repor o secular porto da Bácora!
José Júlio Antunes
NA FOTO, datada de 1965, pode ver-se a entrada do rio no porto da Bácora (a seguir à roupa estendida, esquerda, na imagem), os miúdos José Júlio Antunes e João Antunes com um amigo entre eles a brincarem na língua de terra que fazia a levada para uma das tarambolas e as mulhes a lavar roupa, ao fundo
O QUE A CÂMARA QUER DESTRUIR: O porto da Bácora, atentado patrimonial - por J. Júlio Antunes
Sociedade » 2020-10-22O “Jornal Torrejano”, como já nos habituou, tomou a iniciativa de denunciar o atentado patrimonial da destruição do porto da Bácora e tapar o acesso pedonal ao rio. Nos tempos medievais ali existia um acesso desde a muralha da cerca até ao rio, evidenciado também durante as últimas obras na rua da Levada. Atentado este que não estará no projecto da obra municipal e que serve de remendo a erros de cálculo da dimensão da nova ponte ali colocada.
Nos anos sessenta do século passado, o porto da Bácora era a praia dos jovens e das crianças que viviam no centro da cidade ou em casas próximas do campo de jogos do Almonda Parque. Ali existiam duas tarambolas, a da horta das Pedras, e a outra que levava água para regar o jardim de João Clara. Em início dos anos sessenta, a primeira tarambola desmoronou-se, por desuso, deixando a segunda a funcionar junto a uma pequena ilha no meio do rio e bordejada de choupos onde todos nós nos deliciávamos ora apanhando banhos de sol, praticando natação ou pescando uns bordalos e umas bogas.
De salientar que a maioria de nós não tinha férias de praia e poucos só lá iam um dia por ano em alguma excursão. A referida ilha situava-se ao lado da vala que ladeava o muro do jardim de João Clara e que era o final da grande levada que começava na ponte Pedrinha ou da Levada, na margem direita do rio, que fazia rodar as mós dos desaparecidos moinhos ali existentes. Nessa vala, despejávamos diariamente vários tijolos onde as enguias se escondiam e que nós, no dia seguinte apanhávamos, tapando os buracos com as duas mãos. A segunda tarambola também teve fatal destino!
No porto da Bácora estavam colocadas diversas pedras apropriadas para a lavagem da roupa, tarefa a que as nossas mães se dedicavam com bastante esmero, ora lavando para casa ou para clientes de fora. A roupa lavada era estendida numa pequena língua de terra onde crescia erva, adjacente à garagem do Moiteiro. Terminada a tarefa, parte da roupa já ia para casa seca e dobrada.
Em vésperas dos jogos no Almonda Parque, com as pedras da lavagem da roupa fazíamos uma passagem que atravessava o rio, que ali era pouco fundo, por onde alguns se escapuliam entrando de borla nos jogos do Torres Novas. Mas o Gregório, guarda do campo, estava atento e quando se apercebia desta situação, lá se descalçava para destruir todo o nosso trabalho. E depois também ouvíamos as lavadeiras que, no dia seguinte, teriam de reconstruir o seu local de lavagem de roupa.
E tudo isto durou até ao início dos anos setenta, tendo ali sido construída uma ponte pedonal, para acesso ao novo mercado semanal depois da saída do campo de jogos para o recentemente inaugurado Estádio Municipal. E a passagem para o jardim de João Clara também foi construída nos anos setenta e numa altura em que o rio estava impraticável pela poluição industrial. Já ninguém ali lavava roupa ou tomava banho (já havia as novas piscinas), e o local foi transformado em vazadouro de lixo que os moradores locais atiravam das varandas.
Toda esta situação se manteve até que as célebres limpezas do rio desencadeadas pela gestão Rodrigues na câmara municipal destruíram a aprazível ilha que ali existia e a língua de terra encostava à garagem do Moiteiro, pelo que agora no local se depositam toda as espécie de lixos e ramagens que as cheias trazem de montante.
A estupidez de aprovar a passagem para o jardim de João Clara, parte dela assente em muro público, e agora de tapar o porto da Bácora, são obstáculos para que se impeça o secular acesso pedonal ao rio e a recolha manual de ramos e troncos de árvores que anualmente ali se depositam. É que o porto da Bácora é mesmo preciso!
Para todos os efeitos, estamos perante uma desafectação de uma via pública, que é o caminho de acesso ao Rio Almonda no porto da Bácora. Por acaso foi feita alguma consulta pública ou tomada alguma deliberação que altere o projecto das obras do Almonda Parque?
É preciso corrigir o erro ali cometido e repor o secular porto da Bácora!
José Júlio Antunes
NA FOTO, datada de 1965, pode ver-se a entrada do rio no porto da Bácora (a seguir à roupa estendida, esquerda, na imagem), os miúdos José Júlio Antunes e João Antunes com um amigo entre eles a brincarem na língua de terra que fazia a levada para uma das tarambolas e as mulhes a lavar roupa, ao fundo
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