Antigo porto da Bácora destruído pela calada
Sociedade » 2020-10-10Atentado contra o património da cidade
Umas carradas de terra e uma placa de cimento por cima: assim se destrói uma das mais antigas entradas do rio, o multisecular porto da Bácora. Desgraçadamente, num projecto que visava “aproximar os cidadãos do rio”. A vaga destruidora, sem freio, vai arrasando aos poucos o que restava da antiga vila.
Citado nos textos medievais, descrito por Artur Gonçalves no inventário dos portos do rio Almonda, o porto da Bácora era uma das últimas entradas do rio na zona histórica de Torres Novas. Ainda na memória de muitos também com o nome de “porto das lavadeiras”, por ser aquele local um dos de maior concentração de mulheres a lavar roupa nas águas do Almonda, local aprazível com a grande tarambola da Horta das Pedras numa margem, a outra tarambola mesmo em frente, agarrada ao muro de um quintal, era agora o acesso que restava ao rio Almonda em todo o troço que vai da Ponte da Levada até à ponte do Nogueiral, destruído que foi o porto das Bonitinhas durante a construção do Edifício Parque e deixado em seu lugar um pestilento mijadouro de superfície que é uma das emblemáticas vergonhas do centro da cidade.
Chegados ao fim da travessa que desemboca no rio, na Bácora, o porto estava (e está, ainda que aterrado) à direita de quem desce, encostado ao último edifício cujo quintal não tinha acesso ao pequeno largo e muito menos acesso directo para a entrada de carros no quintal.
Era a casa de João Clara (o “patrão João”, como o povo lhe chamava), e como todas as casas deste troço do rio só tinha entrada para o quintal a partir das portas da própria casa. Acontece que, por volta dos anos 50, a casa de João Clara foi vendida e o novo proprietário terá pedido para construir um pequeno passadiço em direcção ao quintal, onde abriu um portão para dar entrada a carros.
O passadiço passava por cima do porto da Bácora, foi uma clara decisão de lesa património (nenhum dos outros quintais tinha ou tem acesso a carros, não havia razão nenhuma para que as autoridades locais cedessem à pretensão), mas ainda assim a estrutura ficou intocada, permanecia o acesso ao rio, livre de obstáculos e, dada a altura do passadiço, podia-se caminhar de pé até à entrada do rio. Continuou por ali durante alguns anos a actividade das lavadeiras e as pescarias do Nabiça, que ali amarrava os barcos.
Com a construção da pequena ponte da Bácora para acesso ao antigo mercado municipal no Almonda Parque, já nos anos 70 e após o mercado ter deixado a praça 5 de Outubro, o acesso dos carros pelo portão do quintal e pelo passadiço não encontrou problemas, pois a ponte não impedia a manobra dos carros.
Mas, com o novo projecto para o agora denominado “parque Almonda”, a nova ponte da Bácora assume dimensões e área de implantação das guardas muito além das dimensões da velha ponte e, azar dos azares, travava o acesso de carros ao quintal em causa.
A decisão camarária, em sede de projecto não se atrapalhou: tapa-se o porto da Bácora, prega-se uma placa de cimento por cima para o carro passar e já está. Assim foi, pela calada, de modo a que não se desse pelo caso, e os cidadãos mais atentos não atrapalhassem as obras.
Mas o azar ainda não tinha acabado. Mesmo com a placa de cimento que tapou o porto da Bácora, o desenvolvimento da implantação da ponte (guardas, etc), parece impedir ou tornará quase impossível a saída dos carros do quintal, porque vai fechando até não haver ângulo para dobrar a esquina. A coisa está preta e só se resolve com uma trapalhada em que nem é bom pensar. Isto se houver solução. Se alguém pedisse uma salganhada para aquele local, dificilmente se poderia imaginar o que a fotografia documenta.
O bom senso mandava que, durante a concepção do projecto, fossem tidos em conta todos os pormenores que poderiam estar em causa e que o local merecesse um tratamento particular em virtude da existência do porto da Bácora.
Podia-se, inclusivamente, negociar com o proprietário do quintal a cedência de lugares gratuitos no parque de estacionamento, ali a dois passos, como forma de compensar eventuais direitos adquiridos, solução que ainda poderá ser tentada. Até porque os quintais fronteiros ao rio não têm acesso para carros, só aquele o tem, cedido em condições que hoje nunca seriam atendidas.
Resolvido esse problema, poder-se-ia encontrar uma solução que viabilizasse não só a implantação da ponte que está projectada, mas também, de algum modo, a valorização patrimonial do porto da Bácora, memória multi-secular da cidade.
O mínimo que a gestão socialista pode fazer, se quiser respeitar a memória da cidade e o seu património, é emendar a mão, retirar a placa de cimento que vergonhosamente aplicou em cima da entrada do rio, reabilitar o porto e encontrar uma solução de consenso com o proprietário, que também não se pode opôr ao interesse público, quando ele é avassaladoramente maior que um pequeno “direito” particular. E que é o caso.
Antigo porto da Bácora destruído pela calada
Sociedade » 2020-10-10Atentado contra o património da cidade
Umas carradas de terra e uma placa de cimento por cima: assim se destrói uma das mais antigas entradas do rio, o multisecular porto da Bácora. Desgraçadamente, num projecto que visava “aproximar os cidadãos do rio”. A vaga destruidora, sem freio, vai arrasando aos poucos o que restava da antiga vila.
Citado nos textos medievais, descrito por Artur Gonçalves no inventário dos portos do rio Almonda, o porto da Bácora era uma das últimas entradas do rio na zona histórica de Torres Novas. Ainda na memória de muitos também com o nome de “porto das lavadeiras”, por ser aquele local um dos de maior concentração de mulheres a lavar roupa nas águas do Almonda, local aprazível com a grande tarambola da Horta das Pedras numa margem, a outra tarambola mesmo em frente, agarrada ao muro de um quintal, era agora o acesso que restava ao rio Almonda em todo o troço que vai da Ponte da Levada até à ponte do Nogueiral, destruído que foi o porto das Bonitinhas durante a construção do Edifício Parque e deixado em seu lugar um pestilento mijadouro de superfície que é uma das emblemáticas vergonhas do centro da cidade.
Chegados ao fim da travessa que desemboca no rio, na Bácora, o porto estava (e está, ainda que aterrado) à direita de quem desce, encostado ao último edifício cujo quintal não tinha acesso ao pequeno largo e muito menos acesso directo para a entrada de carros no quintal.
Era a casa de João Clara (o “patrão João”, como o povo lhe chamava), e como todas as casas deste troço do rio só tinha entrada para o quintal a partir das portas da própria casa. Acontece que, por volta dos anos 50, a casa de João Clara foi vendida e o novo proprietário terá pedido para construir um pequeno passadiço em direcção ao quintal, onde abriu um portão para dar entrada a carros.
O passadiço passava por cima do porto da Bácora, foi uma clara decisão de lesa património (nenhum dos outros quintais tinha ou tem acesso a carros, não havia razão nenhuma para que as autoridades locais cedessem à pretensão), mas ainda assim a estrutura ficou intocada, permanecia o acesso ao rio, livre de obstáculos e, dada a altura do passadiço, podia-se caminhar de pé até à entrada do rio. Continuou por ali durante alguns anos a actividade das lavadeiras e as pescarias do Nabiça, que ali amarrava os barcos.
Com a construção da pequena ponte da Bácora para acesso ao antigo mercado municipal no Almonda Parque, já nos anos 70 e após o mercado ter deixado a praça 5 de Outubro, o acesso dos carros pelo portão do quintal e pelo passadiço não encontrou problemas, pois a ponte não impedia a manobra dos carros.
Mas, com o novo projecto para o agora denominado “parque Almonda”, a nova ponte da Bácora assume dimensões e área de implantação das guardas muito além das dimensões da velha ponte e, azar dos azares, travava o acesso de carros ao quintal em causa.
A decisão camarária, em sede de projecto não se atrapalhou: tapa-se o porto da Bácora, prega-se uma placa de cimento por cima para o carro passar e já está. Assim foi, pela calada, de modo a que não se desse pelo caso, e os cidadãos mais atentos não atrapalhassem as obras.
Mas o azar ainda não tinha acabado. Mesmo com a placa de cimento que tapou o porto da Bácora, o desenvolvimento da implantação da ponte (guardas, etc), parece impedir ou tornará quase impossível a saída dos carros do quintal, porque vai fechando até não haver ângulo para dobrar a esquina. A coisa está preta e só se resolve com uma trapalhada em que nem é bom pensar. Isto se houver solução. Se alguém pedisse uma salganhada para aquele local, dificilmente se poderia imaginar o que a fotografia documenta.
O bom senso mandava que, durante a concepção do projecto, fossem tidos em conta todos os pormenores que poderiam estar em causa e que o local merecesse um tratamento particular em virtude da existência do porto da Bácora.
Podia-se, inclusivamente, negociar com o proprietário do quintal a cedência de lugares gratuitos no parque de estacionamento, ali a dois passos, como forma de compensar eventuais direitos adquiridos, solução que ainda poderá ser tentada. Até porque os quintais fronteiros ao rio não têm acesso para carros, só aquele o tem, cedido em condições que hoje nunca seriam atendidas.
Resolvido esse problema, poder-se-ia encontrar uma solução que viabilizasse não só a implantação da ponte que está projectada, mas também, de algum modo, a valorização patrimonial do porto da Bácora, memória multi-secular da cidade.
O mínimo que a gestão socialista pode fazer, se quiser respeitar a memória da cidade e o seu património, é emendar a mão, retirar a placa de cimento que vergonhosamente aplicou em cima da entrada do rio, reabilitar o porto e encontrar uma solução de consenso com o proprietário, que também não se pode opôr ao interesse público, quando ele é avassaladoramente maior que um pequeno “direito” particular. E que é o caso.
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Pode parecer duro o título escolhido para esta apreciação à proposta de revisão do Plano Diretor Municipal. Numa primeira vista de olhos, a proposta de plano traz uma espécie de bondade voluntariosa na definição do desenho e do regulamento do PDM, muito para muitos em muitos lados. |
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