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As laranjeiras voltaram - maria augusta torcato

Opinião  »  2022-10-09  »  Maria Augusta Torcato

"Ainda hoje sinto a textura e o aroma doce do lenço. Até os lenços de mão deixaram de se usar. Agora é tudo descartável."

 As laranjeiras voltaram à praça. À praça que foi sempre das laranjeiras, mesmo sem as ter.

O regresso das laranjeiras, com a sua flor e aroma, criou a sugestão, mesmo que efémera, de que tudo o que a praça Marechal Carmona houvera sido voltaria a ser. Mas apenas as memórias se avivaram, em cores, sons e movimentos, fluindo nas palavras trocadas entre quem viveu a praça e vive, hoje, com uma outra realidade que se sustenta de uma mescla de tristeza, nostalgia e esperança.

Os olhares que brilham e os timbres das vozes que recontam as vivências passadas transformam-se, de forma sombria e rouca, quando se percebe que o passado passou e que o presente é o presente, não se conseguindo trazer da algibeira do passado o que gostaríamos que permanecesse na algibeira do presente.

O passado apenas existe na memória. Por isso, as memórias fazem-nos. As memórias definem-nos. As memórias ajudam a identificar-nos e dizem-nos se pertencemos ou não.

As laranjeiras voltaram à praça. Mas não voltaram o mercado que se estendia até cá ao fundo, ao pé da Câmara, os cafés Avis, Facho e Luso. O café e restaurante do Sr Necas, com a D. Maria Júlia ali sempre presente. A Singer com os seus cursos de costura e bordados. Os táxis, ao cimo, junto do velho marco vermelho do correio, que lá habita ainda. O Sr. Adelino cabeleireiro com a irmã Dina, no 1.º andar que olhava docemente toda a praça e as ruas que nela desembocam. A loja do Sr. José Alexandre, coladinha ao Banco Totta, a loja de eletrodomésticos, muitos deles comprados a prestações, do Sr. “Gaguinhas”, e a loja do Sr. Aquiles. A loja do Sr Aquiles! Uma loja especial, que conjugava harmoniosamente as montras ricamente decoradas com tecidos maravilhosos e o cheirinho a café logo que transpúnhamos qualquer uma das duas portas de ferro e vidro que existiam em cada lado da longa parede.

Lembro-me de uma vez o sr. Aquiles, pai, me ter oferecido um lencinho de mão e mo ter perfumado antes de mo entregar. Ainda hoje sinto a textura e o aroma doce do lenço. Até os lenços de mão deixaram de se usar. Agora é tudo descartável. Até os lenços, que são de papel. Outra vez, em que fui fazer um recado à minha mãe e perguntei se haveria o que ela queria, eu já não me lembro o que seria, lembro-me, como se fosse hoje, da resposta do Sr. Aquiles: “Menina, aqui não se pergunta se tem. Aqui pede-se logo!” O sorriso que surgiu em mim volta a aflorar quando me lembro deste momento.

Muitas outras pessoas podiam aqui ser recordadas. Algumas tentaram resistir, outras ainda vão resistindo ao crudelíssimo tempo e ali as encontramos: o Sr. Fernando e a sua Papelaria Radar, a loja Maia Alegre …

As festas, os ajuntamentos, a música, as fogaças, o tomar café ao serão, tudo isto está mais longe ainda. Tão longe, que até a memória já tem dificuldade em resgatá-lo…

As flores das laranjeiras que voltaram, no tempo próprio, perfumarão a praça, despertarão os nossos sentidos e recordações…

Mas só isso acontecerá. Só isso! O que foi foi. O que será será!

 



 

 

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