Um outubro de todas as cores e todos os sentidos - maria augusta torcato
Opinião » 2021-11-01 » Maria Augusta Torcato"“Pela pele, recebo a frescura de uma tarde de domingo ausente de sol e batizada por pingos de chuva, como se de uma bênção se tratasse."
Enquanto ouço poesia, o meu olhar embrenha-se na serra, a serra-mãe como lhe chamo, e fascina-me a mancha de névoa que de mansinho se movimenta, dando-me a entender que ora se prende ora se desprende do cume, numa viagem ao céu de ida e vinda. Tão lá em cima, o cinzento mescla e despido das pedras abraça-se ao verde da vegetação, que me parece escassa e rasteira, talvez pela altura, em oposição ao arvoredo que me rodeia cá em baixo.
A verdade é que todos os meus sentidos estão em ação e, ao contrário do que se possa imaginar, eu estou tão sossegada, tão tranquila!
Pelos ouvidos, ouço poesia, cuja temática – Paixão – impõe à razão a reflexão sobre algo que deixa de o ser só de o pensar. Como dizia Pessoa, “se escutarmos, cala / Por ter havido escutar…”. Mas também pelos ouvidos ouço um rumorejar de água serena que não sai do lugar. E ouço o silêncio. Um silêncio onde se ancora a voz da poesia. Sim, a voz da poesia! Como ela nos sussurra! Como ela nos fala! Como ela nos grita! Como ela nos afaga! Só podia pertencer ao género feminino a palavra poesia (e não há nada de discriminação de género nesta apreciação, juro!), pela sua capacidade de multiplicação, pela sua capacidade de fazer nascer, como um ventre materno que dá e alimenta vida.
Pelos olhos, não vale a pena repetir, ou talvez valha, a névoa, o cinzento das pedras e do tempo, o verde das árvores e dos musgos e os rostos humanos em roda, numa cumplicidade e entendimento que as palavras oferecem.
Pela pele, recebo a frescura de uma tarde de domingo ausente de sol e batizada por pingos de chuva, como se de uma bênção se tratasse. Não há vento, talvez porque quis ser simpático com quem gosta de poesia ou talvez porque o espaço natural e construído é, de facto, um abrigo. E o quente da manta, também cinzenta, atravessada por uma listra verde (desenho das mantas de Minde), aconchega-me e acentua, por contraste, o fresco suave.
Pela boca, as trufas especiais e o vinho, generosamente oferecidos, amalgamam-se-me no palato. Até as palavras se lhes misturam, provando a química com ou da poesia.
Pelo nariz, o aroma do vinho, das trufas e da terra húmida inebria-me. Porém, inebriada já eu estava com as palavras ditas, sentidas, pensadas. Que bem este estado, bem a propósito, com a temática da paixão. Como não estarmos apaixonados? Viver é mesmo uma paixão.
Estamos em outubro. O outubro rosa, como se vê e lê em todo o lado e se sente, de forma mais acutilante, por quem sabe o que realmente significa. Que o outubro rosa seja, para mim e para quem lhe dá significação, um outubro de todas as cores e todos os sentidos. E que todos os meses de todos os anos o sejam também.
Um outubro de todas as cores e todos os sentidos - maria augusta torcato
Opinião » 2021-11-01 » Maria Augusta Torcato“Pela pele, recebo a frescura de uma tarde de domingo ausente de sol e batizada por pingos de chuva, como se de uma bênção se tratasse.
Enquanto ouço poesia, o meu olhar embrenha-se na serra, a serra-mãe como lhe chamo, e fascina-me a mancha de névoa que de mansinho se movimenta, dando-me a entender que ora se prende ora se desprende do cume, numa viagem ao céu de ida e vinda. Tão lá em cima, o cinzento mescla e despido das pedras abraça-se ao verde da vegetação, que me parece escassa e rasteira, talvez pela altura, em oposição ao arvoredo que me rodeia cá em baixo.
A verdade é que todos os meus sentidos estão em ação e, ao contrário do que se possa imaginar, eu estou tão sossegada, tão tranquila!
Pelos ouvidos, ouço poesia, cuja temática – Paixão – impõe à razão a reflexão sobre algo que deixa de o ser só de o pensar. Como dizia Pessoa, “se escutarmos, cala / Por ter havido escutar…”. Mas também pelos ouvidos ouço um rumorejar de água serena que não sai do lugar. E ouço o silêncio. Um silêncio onde se ancora a voz da poesia. Sim, a voz da poesia! Como ela nos sussurra! Como ela nos fala! Como ela nos grita! Como ela nos afaga! Só podia pertencer ao género feminino a palavra poesia (e não há nada de discriminação de género nesta apreciação, juro!), pela sua capacidade de multiplicação, pela sua capacidade de fazer nascer, como um ventre materno que dá e alimenta vida.
Pelos olhos, não vale a pena repetir, ou talvez valha, a névoa, o cinzento das pedras e do tempo, o verde das árvores e dos musgos e os rostos humanos em roda, numa cumplicidade e entendimento que as palavras oferecem.
Pela pele, recebo a frescura de uma tarde de domingo ausente de sol e batizada por pingos de chuva, como se de uma bênção se tratasse. Não há vento, talvez porque quis ser simpático com quem gosta de poesia ou talvez porque o espaço natural e construído é, de facto, um abrigo. E o quente da manta, também cinzenta, atravessada por uma listra verde (desenho das mantas de Minde), aconchega-me e acentua, por contraste, o fresco suave.
Pela boca, as trufas especiais e o vinho, generosamente oferecidos, amalgamam-se-me no palato. Até as palavras se lhes misturam, provando a química com ou da poesia.
Pelo nariz, o aroma do vinho, das trufas e da terra húmida inebria-me. Porém, inebriada já eu estava com as palavras ditas, sentidas, pensadas. Que bem este estado, bem a propósito, com a temática da paixão. Como não estarmos apaixonados? Viver é mesmo uma paixão.
Estamos em outubro. O outubro rosa, como se vê e lê em todo o lado e se sente, de forma mais acutilante, por quem sabe o que realmente significa. Que o outubro rosa seja, para mim e para quem lhe dá significação, um outubro de todas as cores e todos os sentidos. E que todos os meses de todos os anos o sejam também.
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