Habitação e chalupices - jorge cordeiro simões
Opinião » 2023-08-12"“A maioria dos cidadãos não têm recursos para pagar valores tão elevados na compra e arrendamento"
Na noite da passada terça-feira uma vez mais a insónia atacou e achei oportuno dar um passeio àquelas horas em que as ruas são só minhas. De sapatilhas para não ser causa de barulho e incómodo para ninguém, fui deambulando até que neste andar silencioso cheguei junto da estátua de D. Afonso em frente à tarambola.
Dando pela minha presença, D. Afonso pediu para eu explicar por que motivo agora se fala tanto na falta de casas, havendo muito alarido acerca dos seus preços demasiado elevados.
A tarambola fez-se também ouvir para num murmúrio - o reduzido caudal do rio não dá para mais - dizer que isso é um enorme problema para jovens e pessoas com poucos recursos.
Respondi que as casas estão muito caras onde há escassez de oferta e muita procura, ou seja e em especial nas maiores cidades, suas proximidades e mesmo em algumas do litoral. Acrescentei que me pareceria boa ideia fazer-se uma investigação consequente, à evolução do valor do património de quem na última dezena de anos tem tido no governo e nas principais autarquias, a tutela nas áreas da habitação e do urbanismo, pois têm sido tomadas medidas de desincentivo aos pequenos investidores no mercado de arrendamento e do alojamento local, ao contrário do que vem sucedendo aos grupos hoteleiros e fundos imobiliários a quem quase tudo tem sido permitido e facilitado. Foram sucessivas medidas que levaram à situação a que chegámos, com valores de venda e de arrendamento às vezes especulativos, situação em minha opinião difícil de explicar apenas pela incompetência dos responsáveis do sector, que foi quem levou à grande redução da quantidade de casas novas construídas em cada ano.
D. Afonso bradou: “Oh pá, alto aí. Tu estás a fazer insinuações graves”. E acrescentou que os governantes são escolhidos pela sua competência e honestidade. Eu ouvindo isto, não pude evitar uma gargalhada enquanto a tarambola mesmo que em surdina, se ria também. A espertinha é nova, mas parece já saber muito.
De seguida voltei a falar, para pedir a D. Afonso que me desse uma explicação para várias coisas, como por exemplo para a perseguição assassina feita aos investidores no alojamento local, para as cada vez maiores exigências burocráticas, impostos, taxas e taxinhas diversas, atrasos no despacho de vistorias, licenças diversas, certidões e alvarás e seus crescentes custos. E quanto a incentivos fiscais? Que conheça, só foram criados para recuperação do edificado nas zonas antigas das cidades onde, no caso das maiores urbes, os mesmos têm vindo a ser sabiamente aproveitados por fundos imobiliários estrangeiros, tornados donos de grande parte do mais valioso edificado nessas zonas das maiores cidades. Estes investidores a quem são ainda dadas mais facilidades e benefícios, uma vez feitos os restauros e adaptações, conseguem rentabilizar os seus investimentos vendendo ou arrendando a preços especulativos.
D. Afonso voltou a falar para dizer que a culpa é dos fascistas que baixaram braços, deixando de construir e de investir no setor da habitação.
E eu de pronto respondi que com esta tirada Sua Majestade D. Afonso me fazia lembrar um qualquer dos chalupas parasitas que sem alguma vez terem sentido de perto o cheiro do cimento, enxameiam os poderes, vivendo à sombra da política, sem conhecimento, experiência, trabalho ou obra útil à sociedade.
Foi a vez de D. Afonso se rir enquanto dizia que eu estava muito irritado, devia tomar um calmante e ir dormir.
Eu então tentando falar calmamente, disse ser inaceitável a situação a que temos sido conduzidos, na qual a maioria dos cidadãos a começar pelos mais jovens, não têm recursos para pagar valores tão elevados na compra e arrendamento de habitação, sendo o grande responsável pela situação o Estado esfaimado por dinheiro dos contribuintes.
Ouvi então a tarambola dizer que de facto hoje eu estava mesmo bruto.
Respondi aos dois em tom de pergunta: Ah é? Então vocês acham aceitável que por cada 1000 € pagos pelo inquilino, 280 € sejam para IRS e em média mais cerca de 100 € para o IMI, além duma despesa média de 100 € para condomínio e manutenção dos imóveis? Ou seja, acham bem que por cada 1000 € pagos por um inquilino, na verdade o senhorio só fica com cerca de metade desse valor? E isto se as coisas correrem bem, ou seja se o inquilino não deixar de pagar o valor da renda forçando a despesas de tribunal, ou que não cause danos graves no imóvel, forçando a ainda mais despesas por parte do dono. Conclui dizendo que por um lado o moribundo mercado de arrendamento ainda é um bom negócio para o Estado e que agora só se investe nisso por gosto, ou por dificuldade em fazer contas.
El-rei respondeu que sendo assim, os responsáveis são “chalupas”.
E eu, ouvido isto, respondi que não era assim, que eles não são “chalupas” mas antes sabem o que fazem e conhecem as consequências das decisões que tomam, pelo que podem haver outras razões que os motivam.
Depois despedi-me e segui o meu caminho.
.
Habitação e chalupices - jorge cordeiro simões
Opinião » 2023-08-12“A maioria dos cidadãos não têm recursos para pagar valores tão elevados na compra e arrendamento
Na noite da passada terça-feira uma vez mais a insónia atacou e achei oportuno dar um passeio àquelas horas em que as ruas são só minhas. De sapatilhas para não ser causa de barulho e incómodo para ninguém, fui deambulando até que neste andar silencioso cheguei junto da estátua de D. Afonso em frente à tarambola.
Dando pela minha presença, D. Afonso pediu para eu explicar por que motivo agora se fala tanto na falta de casas, havendo muito alarido acerca dos seus preços demasiado elevados.
A tarambola fez-se também ouvir para num murmúrio - o reduzido caudal do rio não dá para mais - dizer que isso é um enorme problema para jovens e pessoas com poucos recursos.
Respondi que as casas estão muito caras onde há escassez de oferta e muita procura, ou seja e em especial nas maiores cidades, suas proximidades e mesmo em algumas do litoral. Acrescentei que me pareceria boa ideia fazer-se uma investigação consequente, à evolução do valor do património de quem na última dezena de anos tem tido no governo e nas principais autarquias, a tutela nas áreas da habitação e do urbanismo, pois têm sido tomadas medidas de desincentivo aos pequenos investidores no mercado de arrendamento e do alojamento local, ao contrário do que vem sucedendo aos grupos hoteleiros e fundos imobiliários a quem quase tudo tem sido permitido e facilitado. Foram sucessivas medidas que levaram à situação a que chegámos, com valores de venda e de arrendamento às vezes especulativos, situação em minha opinião difícil de explicar apenas pela incompetência dos responsáveis do sector, que foi quem levou à grande redução da quantidade de casas novas construídas em cada ano.
D. Afonso bradou: “Oh pá, alto aí. Tu estás a fazer insinuações graves”. E acrescentou que os governantes são escolhidos pela sua competência e honestidade. Eu ouvindo isto, não pude evitar uma gargalhada enquanto a tarambola mesmo que em surdina, se ria também. A espertinha é nova, mas parece já saber muito.
De seguida voltei a falar, para pedir a D. Afonso que me desse uma explicação para várias coisas, como por exemplo para a perseguição assassina feita aos investidores no alojamento local, para as cada vez maiores exigências burocráticas, impostos, taxas e taxinhas diversas, atrasos no despacho de vistorias, licenças diversas, certidões e alvarás e seus crescentes custos. E quanto a incentivos fiscais? Que conheça, só foram criados para recuperação do edificado nas zonas antigas das cidades onde, no caso das maiores urbes, os mesmos têm vindo a ser sabiamente aproveitados por fundos imobiliários estrangeiros, tornados donos de grande parte do mais valioso edificado nessas zonas das maiores cidades. Estes investidores a quem são ainda dadas mais facilidades e benefícios, uma vez feitos os restauros e adaptações, conseguem rentabilizar os seus investimentos vendendo ou arrendando a preços especulativos.
D. Afonso voltou a falar para dizer que a culpa é dos fascistas que baixaram braços, deixando de construir e de investir no setor da habitação.
E eu de pronto respondi que com esta tirada Sua Majestade D. Afonso me fazia lembrar um qualquer dos chalupas parasitas que sem alguma vez terem sentido de perto o cheiro do cimento, enxameiam os poderes, vivendo à sombra da política, sem conhecimento, experiência, trabalho ou obra útil à sociedade.
Foi a vez de D. Afonso se rir enquanto dizia que eu estava muito irritado, devia tomar um calmante e ir dormir.
Eu então tentando falar calmamente, disse ser inaceitável a situação a que temos sido conduzidos, na qual a maioria dos cidadãos a começar pelos mais jovens, não têm recursos para pagar valores tão elevados na compra e arrendamento de habitação, sendo o grande responsável pela situação o Estado esfaimado por dinheiro dos contribuintes.
Ouvi então a tarambola dizer que de facto hoje eu estava mesmo bruto.
Respondi aos dois em tom de pergunta: Ah é? Então vocês acham aceitável que por cada 1000 € pagos pelo inquilino, 280 € sejam para IRS e em média mais cerca de 100 € para o IMI, além duma despesa média de 100 € para condomínio e manutenção dos imóveis? Ou seja, acham bem que por cada 1000 € pagos por um inquilino, na verdade o senhorio só fica com cerca de metade desse valor? E isto se as coisas correrem bem, ou seja se o inquilino não deixar de pagar o valor da renda forçando a despesas de tribunal, ou que não cause danos graves no imóvel, forçando a ainda mais despesas por parte do dono. Conclui dizendo que por um lado o moribundo mercado de arrendamento ainda é um bom negócio para o Estado e que agora só se investe nisso por gosto, ou por dificuldade em fazer contas.
El-rei respondeu que sendo assim, os responsáveis são “chalupas”.
E eu, ouvido isto, respondi que não era assim, que eles não são “chalupas” mas antes sabem o que fazem e conhecem as consequências das decisões que tomam, pelo que podem haver outras razões que os motivam.
Depois despedi-me e segui o meu caminho.
.
![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
![]() |
![]() |
![]() Deveria seguir-se a demolição do prédio que foi construído em cima do rio há mais de cinquenta anos e a libertação de terrenos junto da fábrica velha Estamos em tempo de cheias no nosso Rio Almonda. |
![]() Enquanto penso em como arrancar com este texto, só consigo imaginar o fartote que Joana Marques, humorista, faria com esta notícia. Tivesse eu jeito para piadas e poderia alvitrar já aqui duas ou três larachas, envolvendo papel higiénico e lavagem de honra, que a responsável pelo podcast Extremamente Desagradável faria com este assunto. |
![]() Chegou o ano do eleitorado concelhio, no sistema constitucional democrático em que vivemos, dizer da sua opinião sobre a política autárquica a que a gestão do município o sujeitou. O Partido Socialista governa desde as eleições de 12 de Dezembro de 1993, com duas figuras que se mantiveram na presidência, António Manuel de Oliveira Rodrigues (1994-2013), Pedro Paulo Ramos Ferreira (2013-2025), com o reforço deste último ter sido vice-presidente do primeiro nos seus três mandatos. |
![]() Coloquemos a questão: O que se está a passar no mundo? Factualmente, temos, para além da tragédia do Médio Oriente, a invasão russa da Ucrânia, o sólido crescimento internacional do poder chinês, o fenómeno Donald Trump e a periclitante saúde das democracias europeias. |
![]() Nos últimos dias do ano veio a revelação da descoberta de mais um trilho de pegadas de dinossauros na Serra de Aire. Neste canto do mundo, outras vidas que aqui andaram, foram deixando involuntariamente o seu rasto e na viagem dos tempos chegaram-se a nós e o passado encontra-se com o presente. |
![]() É um banco, talvez, feliz! Era uma vez um banco. Não. É um banco e um banco, talvez, feliz! E não. Não é um banco dos que nos desassossegam pelo que nos custam e cobram, mas dos que nos permitem sossegar, descansar. |
» 2025-03-12
» Hélder Dias
Ferreira... renovado |
» 2025-03-12
» Hélder Dias
Fantoche... |
» 2025-03-13
Gisèle Pelicot é uma mulher comum - joão ribeiro e raquel batista |
» 2025-03-22
» Jorge Carreira Maia
Uma passagem do Evangelho de João - jorge carreira maia |