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Um pouco mais de azul - josé ricardo costa

Opinião  »  2023-09-24  »  José Ricardo Costa

Há-de haver muito turista com dificuldade em perceber que certas cidades europeias, castelos, palácios, catedrais, aldeias históricas ou vistas panorâmicas, não foram projectadas por Júlios Vernes da arquitectura para serem parques de diversão do século XXI para os turistas fazerem selfies para o Instagram.

Em Toledo, Lisboa ou Porto, o turista atravessa o rio, chega à outra margem e diz: “Espectacular!” (adjectivo para o que dantes era belo ou bonito). Segundos depois, reflecte com os seus botões (que são agora os do telemóvel): “Quem terá sido o grande arquitecto que desenhou esta paisagem espectacular para eu poder estar agora de costas voltadas para ela enquanto faço trinta espectaculares selfies com trinta variações do mesmo sorriso?”. Mas pensa mal, o que não surpreende. À excepção de umas poucas que foram pensadas e construídas de raiz, as cidades são organismos vivos que se vão modificando ao longo do tempo e cuja razão de existir não é a beleza ou a espectacularidade, mas de natureza social, política e económica.

Não quer isto dizer que a beleza fosse excluída dos núcleos urbanos, embora hoje seja o que cada vez mais parece. Nada disso, e não é por acaso que o turista vai direitinho para os bonitos centros históricos em vez das avenidas de Roma que há em todas as cidades. Vai porque há ruas e praças bonitas, e se há ruas e praças bonitas é porque os edifícios são bonitos, e são bonitos porque foram feitos para serem bonitos.

Mas também há muita coisa bonita que não foi feita com essa intenção, como castelos, bairros, aldeias com casas de pedra ou caiadas. E a tal bela vista do outro lado do rio só foi possível graças não só a uma cidade que foi crescendo improvisadamente, mas também a elementos naturais como o relevo e um rio. Por muito bonito que o Entroncamento pudesse ter sido, seria impossível a partir da Meia Via ter o mesmo tipo de vista que se tem em Cacilhas, Gaia ou Toledo.

Embora haja cidades onde se tem a sensação de ser tudo feio, não há nenhuma no mundo onde seja tudo bonito, incluindo as tais que parecem parques de diversões onde nem faltam os ubíquos McDonald’s. O que há são cidades mais bonitas que outras, e o que faz serem mais bonitas ou feias é a uma questão de proporção entre esses dois polos. Daí que se uma cidade tiver muitas coisas bonitas, seja mais fácil varrer o que tem de feio para debaixo do tapete.

Quando alguém descobre que sou português e quer meter conversa por isso, se for jovem e com ar de bronco é bastante elevada a probabilidade de, como se fosse o Gonçalo Ramos ou o antigo Silva do Boavista após um golo, disparar logo com o Cristiano Ronaldo para me ferir a alma. Sendo mais velho, já é normal ouvir “Oh, Lisbon, what a wonderful city!”, ou como recentemente em Madrid, “Portugués? Ah, Fátima me encanta mucho!”, pondo-me a pensar que na próxima vez ainda passe por Torres Novas para ver as oliveiras dos pastorinhos. Não é por acaso que ao ouvir “Lisbon”, não é avenida de Roma, que não é bonita nem feia, o que me vem à cabeça, mas uma visão global de Lisboa que se fixou graças às suas muitas partes bonitas. Já o que encantará a senhora espanhola deve ser o que há de horrível em Fátima, o que significa quase tudo, salvando-se alguns restaurantes que justificam uma dolorosa penitência gastronómica à Isaltino Morais em que não pode faltar a rúcula, embora sem ser necessário comer de joelhos.

Pronto, esgotada a conversa mole, vamos ao que interessa: Torres Novas não é bonita nem feia. Tem coisas bonitas, infelizmente poucas, como o Castelo, a praça, a avenida, o rio, igrejas, algumas vistas, um ou outro edifício, e tem outras feias, mais do que seria desejável. Mas na maioria dos casos apenas igual a todos as outras terras, incluindo um Lidl, uma farmácia central e uma rua chamada 25 de Abril.

Se, como disse, uma cidade é um organismo em mutação, é sempre possível ir tornando-a mais bonita ou mais feia conforme a dinâmica que gere o peso de cada um desses dois polos. Daí ser justo louvar todo o trabalho de recuperação urbana entre a central do Caldeirão e a Rodoviária. No permanente e dramático duelo, neste caso entre o bonito e feio, desta vez ganhou o primeiro, e graças a isso Torres Novas ficou mais bonita, o que não é coisa pouca.

 

 

 

 

 

 

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