O tamanho importa? Bom, se nalguns campos as opiniões se dividem, outros há que são consensuais, como o tamanho dos nomes de pessoas. Importa, sim, desde logo na Roma Antiga: enquanto um homem podia ter três nomes, a mulher só tinha direito a um, ainda por cima variante do nome do pai (Hortênsia seria filha de Hortensius). Depois, como sinal de distinção social, embora com possíveis ... (ler mais...)
Apesar da sua grande importância durante o Império Romano, do qual há muitos vestígios, ou a Idade Média, Trier é hoje apenas uma simpática cidade da Renânia-Palatinado, bem encostadinha ao Luxemburgo. Banhada pelo rio Mosel, que segue o seu caminho até se juntar ao Reno, ali perto, em Coblenz, rodeada por altaneiros castelos, vendo-se ainda aconchegada por vinhedos dispostos em soca... (ler mais...)
Estava sentado no meu sofá de leitura quando sou vítima de horrenda revelação. Ergo a cabeça na direcção da porta em frente e, com os olhos ainda amaciados por um trecho literário, vejo, aterrado, uma máquina de lavar roupa! Não, nada de paranormalidades, só mesmo porque a sala dá para a cozinha, onde a máquina esteve sempre como a torre de Belém ... (ler mais...)
Há-de haver muito turista com dificuldade em perceber que certas cidades europeias, castelos, palácios, catedrais, aldeias históricas ou vistas panorâmicas, não foram projectadas por Júlios Vernes da arquitectura para serem parques de diversão do século XXI para os turistas fazerem selfies para o Instagram.
Em Toledo, Lisboa ou Porto, o turista atravessa o rio, chega à outra... (ler mais...)
Como Garrett, resolvo viajar pela minha terra, não para subir o Tejo, mas para descer o viaduto rumo à avenida, o que só por si já é uma viagem que mistura três épocas distintas: a viril Idade Média, a ruralidade do século XIX e o urbanismo do século XX.
Descido o viaduto, e atraído pela mancha verde do jardim, entro nele para rever o busto de Carlos Reis, fica... (ler mais...)
Ainda garoto, meti na cabeça que era anarquista só porque pensava e dizia umas coisas subversivas. Graças a Deus, que nesse tempo era Bakunine, depressa percebi que estava apenas a ser parvo. Cheguei mesmo a ver como se faziam cocktails Molotov, mas devido à Físico-Química ser a minha pior disciplina e a uma tremenda inépcia manual, eu seria sempre a primeira vítima da minha subvers&atild... (ler mais...)
Revoluções, conspirações, ideologias, movimentos, manifestos, poemas, romances, tanta coisa da história do Velho Continente que germinou em cafés. Daí Steiner dizer que enquanto houver cafés, a ideia de Europa continua a ter conteúdo. Portugal e Torres Novas também tiverem os seus. Quer dizer que já não têm? Claro que, como na Europa, ainda há caf&... (ler mais...)
Cedo nos habituámos a ver gente do chamado mundo ocidental. Mas o que dizer dos soviéticos, no outro extremo da Europa? Onde vê-los a não ser a rapar medalhas nos Jogos Olímpicos ao som de um belo hino, ou de gorro enfiado na cabeça, a passar atrás do Carlos Fino enquanto este falava a partir de Moscovo?
Um mundo de onde não se saía livremente, aonde poucos ia... (ler mais...)
Começo esta série de crónicas de viagens de modo simbólico: pelo primeiro dia deste ano. Num comboio, algures entre Trieste, onde aquele homem entrou comigo, e Veneza, onde também saiu, embora no meu caso só para apanhar o segundo dos quatro comboios que me levariam a Bergamo. A viagem é longa até Veneza e não me falta tempo para o observar enquanto descanso da leitura que rivaliza... (ler mais...)
Uma centena de metros depois de sair de casa para apanhar o Expresso das 6.30 para Lisboa, noite cerrada, passo por um homem que anda a passear o cão quando o resto da cidade ainda dorme. Conheço-o de vista, passo muitas vezes por ele, mas desta vez cumprimentamo-nos com um “Bom dia”. No passado fim de semana, vou junto ao McDonald’s ainda antes das 8 da manhã, com a rua vazia, silenciosa e envolvida em n... (ler mais...)
Há quem não ache graça a eu dizer que Portugal é um acidente histórico. Não percebo, pois parece-me tão evidente como o cão ser mamífero e Marte um planeta, ou que D. Afonso Henriques não teria nascido se Henrique e Teresa não se conhecessem, tanto no sentido social como bíblico. Todos os países são acidentes históricos, apenas uns mais que... (ler mais...)
Não há volta a dar. Todos os anos, o fim das férias faz-nos regressar ao Gólgota depois de alguns dias de prazerosa ressurreição. Sendo o trabalho, como dizia Mark Twain, um mal necessário a ser evitado, as férias são a concretização desse desejo, sentindo o trabalhador o carinho do Tempo a embalá-lo numa sucessão de dias livres.
Mas chega o fat&... (ler mais...)
Rigoletto é bobo no palácio do duque de Mântua, ou seja, existe para fazer rir. Mas apagam-se as luzes da ribalta e eis que surge um outro homem: sensível, pai extremoso, chorando ainda a morte da única mulher que o amou. Rigoletto é vítima de uma condenação: ter que rir quando a vontade é tanta como a de André Ventura de adoptar duas criancinhas ciganas. Um triste des... (ler mais...)
“O Pequeno Grande Homem” (1970) tem como personagem principal um rapaz que, apesar de franzino, se revela forte e corajoso. Não é caso único. Faz parte de uma estirpe que, na ficção, começará, vá, com Ulisses (uma cabeça abaixo de Agamémnon) e que na vida real tem hoje Zelensky como mais do que legítimo herdeiro. Ora, os... (ler mais...)
A percepção visual tem as suas leis, que interferem, sem darmos conta, no modo como diante de uma imagem, separamos a figura e o fundo, a visão central e a periférica, o seu motivo e o contexto. E muito antes da ciência estudar essas leis já os artistas do Renascimento as exploravam para criar os efeitos visuais desejados. Esta prosápia aborrecida serve apenas para início de conversa sobre... (ler mais...)
É muito bom viver em Torres Novas mas também se sente o peso de estar longe do que de verdadeiramente moderno se passa no mundo, enfim, nada de #Me Too, Je suis Charlie Hebdo, vetustas estátuas transformadas em anúncios da Benetton. É deveras agradável dar a volta à avenida depois de jantar mas acorda-se no dia seguinte com a asténica sensação de nada haver de muito à... (ler mais...)
Faço uma bela caminhada matinal que me leva a passar pela Caveira, Bonflorido e Vale de Carvão e sou levado a pensar em três pessoas, uma de cada aldeia, escrevendo as suas moradas para uma encomenda. O que pensarão lá longe destes nomes? Ao contrário das sensações que nos obrigam a ver uma cadeira se estamos diante de uma cadeira ou a cheirar frango assado se for frango assado, ao contr&a... (ler mais...)
Quando saí de Torres Novas para ir estudar em Lisboa já sabia que iria depois sair de Lisboa para vir trabalhar em Torres Novas. A primeira razão para voltar foi de natureza umbilical: eu ser de Torres Novas como outros são de Mangualde ou Famalicão. Ora, sendo uma razão importante, não é, todavia, razão suficiente. A outra razão que serve para explicar o meu desejo de regre... (ler mais...)
Podemos dizer que um jogo de futebol sem público ou vida sem música é como um jardim sem flores. Não que um jardim sem flores deixe de ser um jardim. Acontece que, como no jogo de futebol, fica melhor se as tiver. Já se for uma sopa de feijão com couves que não tenha couves, a comparação com o jardim sem flores não funciona, pela singela razão de que uma sopa de feij&... (ler mais...)
Desço a rua dos Anjos quando o meu cérebro é de repente apoquentado por uma radical e inquietante questão. Não o pavor diante do silêncio e escuridão do espaço cósmico ou por não saber se quando esticar o pernil irei dar com a Audrey Hepburn a cantar o Moon River numa matiné de domingo no Virgínia ou com um cenário de Bosch. Agora, no ocaso da minha exist... (ler mais...)
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