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A Porta de Casa - josé ricardo costa

Opinião  »  2023-03-03  »  José Ricardo Costa

"“Ao subir ou descer a variante do Andrade Corvo, acontece cumprimentar e ser cumprimentado por pessoas que numa rua da cidade iria obviamente ignorar"

Uma centena de metros depois de sair de casa para apanhar o Expresso das 6.30 para Lisboa, noite cerrada, passo por um homem que anda a passear o cão quando o resto da cidade ainda dorme. Conheço-o de vista, passo muitas vezes por ele, mas desta vez cumprimentamo-nos com um “Bom dia”. No passado fim de semana, vou junto ao McDonald’s ainda antes das 8 da manhã, com a rua vazia, silenciosa e envolvida em nevoeiro, está uma funcionária da limpeza a varrer mesmo junto ao muro e, acto espontâneo, cumprimentamo-nos. Também ao subir ou descer a variante do Andrade Corvo acontece cumprimentar e ser cumprimentado por pessoas que numa rua da cidade iria obviamente ignorar.

Estas manifestações não são feitas da mesma matéria da que nos leva a dizer “Boa tarde” na sala de espera de um consultório. Não se trata de uma simples regra de cortesia que, como o código da estrada ou de etiqueta, deva ser cumprida, pois caso contrário passamos por rudes e mal-educados como um ciclope. Enfim, nada que se ensine na escola, do género “Meninos, quando entrarem numa sala de espera devem cumprimentar as pessoas”.

Não há nenhuma regra que imponha cumprimentar alguém só porque são 6.30 da manhã ou nos cruzamos em certos sítios. Trata-se de outra coisa: duas pessoas, frente a frente, como se fossem as únicas numa cidade ou fora dela, manifestando ambas esse reconhecimento como se dissessem “Eu sei que tu sabes que te vejo, tu sabes que eu sei que me vês”. Assim como figuras humanas desenhadas numa imensa folha de papel cheia de mil outras figuras desenhadas, mas, entretanto, recortadas com uma tesoura para se juntarem numa mesa. Neste caso, duas pessoas que se destacam de um fundo urbano, cada uma focada na espessa individualidade da outra, impossível de ignorar.

Nas Metamorfoses de Ovídio há também um dilúvio e uma figura equivalente ao Noé do Antigo Testamento: Deucalião. Diz ele para a mulher: «Nós dois somos a população» (Livro I, v. 355). E mais à frente: «Agora, o género humano sobrevive em nós dois apenas» (v. 365). Cá está, dois recortes de papel que se olham como verdadeiros indivíduos, destacados de qualquer massa humana e social.

Nada disto tem que ver com cidadania, ética republicana, consciência de classe, espírito de um povo ou de uma nação. Nada de colectivismo de direita (a pátria, a nação, a raça) ou de esquerda (o povo unido que jamais será vencido, o proletariado, o Partido). Apenas um indivíduo que vê outro indivíduo como um outro de si mesmo.

Ora, para que serve toda esta lengalenga? Para lembrar ser esta a raiz do projecto cristão e também o seu grande fracasso. Nunca fui cristão, não sou sequer capaz de me imaginar ligado a uma religião. Mas sei que é na capacidade de ver cada indivíduo como o único que sobreviveu connosco a um dilúvio, e quem diz isso diz também a capacidade de ver um torrejano como alguém que um dia podemos encontrar no centro de Estocolmo, um português numa montanha polaca, ou um ser humano num planeta a anos-luz da Terra, que está a resposta para todos os problemas de natureza moral e social. Bem estreita é a porta, nem a nossa natureza ajuda por aí além. Mas há a porta de casa e basta atravessá-la para começarmos logo a fazer alguma coisa.

 

 

 

 

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