VIAGENS 2 Os Meus Soviéticos - josé ricardo costa
Cedo nos habituámos a ver gente do chamado mundo ocidental. Mas o que dizer dos soviéticos, no outro extremo da Europa? Onde vê-los a não ser a rapar medalhas nos Jogos Olímpicos ao som de um belo hino, ou de gorro enfiado na cabeça, a passar atrás do Carlos Fino enquanto este falava a partir de Moscovo?
Um mundo de onde não se saía livremente, aonde poucos iam, enfim, um mundo fechado e do qual pouco se sabia para além de certas visões utópicas e distópicas. Mas como seriam mesmo? Felizes e contentes, como na revista Vida Soviética? Como seriam as casas, teriam mesmo de partilhar apartamentos? Haveria, como no Ocidente, droga, prostituição e crime, ou só níveis elevados de Vitamina D graças a ser o Sol da Terra? E o álcool, seria ainda como na literatura russa do século XIX ou evaporou-se com o socialismo real? Seria mesmo verdade não usarem calças de ganga, não poderem ouvir Rock ou beberem Coca-Cola, ou era apenas má-língua anti-comunista? E a excelência no xadrez, na música erudita, no bailado? Seriam geneticamente mais dotados, ou devia-se a uma sociedade tão perfeita como um formigueiro?
Estive duas vezes próximo de soviéticos. Uma, no topo do 3ºanel, para ver onze minúsculos pontos a correr de um lado para o outro. A outra, no Virgínia, um grupo folclórico trazido por uma daquelas associações de amizade Portugal-URSS e assim. Entraram a sorrir, dançaram a sorrir e partiram a sorrir. Por isso, mesmo que Sting cantasse We share the same biology/Regardless of ideology, a verdade é que havia uma pesada e opaca cortina de ferro a separar-me daqueles seres virtuais, meras entidades literárias, sociológicas ou, para quem fosse comunista, hagiográficas. Enfim, misteriosas, enigmáticas, inacessíveis.
Riga é uma cidade bonita. Vale bem a pena o seu centro medieval, os belos e bem cuidados edifícios de Arte Nova à volta da rua Alberta, alguns deles desenhados pelo pai do realizador Sergei Eisenstein, tendo num deles vivido o filósofo Isaiah Berlin, igrejas ortodoxas como a da Ascensão e da Natividade, mas também a fabulosa Biblioteca Nacional da Letónia. Sendo uma cidade pequena, permitiu-me que, ao fim de três dias, incluindo o Museu Nacional de Arte (muito boa pintura, sobretudo contemporânea), ficasse ainda com mais dois para explorar uma cidade mais verdadeira e menos turística andando quilómetros sem rumo por zonas de uma pobreza que só consigo comparar a algumas de Nápoles, mas sem a neve de Riga.
E guardar para o último dia, perto do animado mercado principal, o sovietíssimo edifício da Academia das Ciências, em cujo elevador entrei para ir ao topo. Fecha-se a porta e, vendo-me ali sozinho na intimidade de um elevador com um casal cuja parte da sua vida foi soviética, sinto logo o desejo de os guardar, fingindo consultar o telemóvel. Serão para sempre os meus soviéticos. Sim, partilhamos a mesma biologia, e são mais do que pontinhos minúsculos a correr num relvado ou autómatos programados para sorrir. Mas não deixou de ter um sabor especial partilhar com eles, na intimidade do elevador, aquele oxigénio tantos anos soviético, num edifício tão soviético, embora já livres da foice e do martelo para respirarem o ar, apesar de tantas vezes impuro, da liberdade e da democracia.
VIAGENS 2 Os Meus Soviéticos - josé ricardo costa
Cedo nos habituámos a ver gente do chamado mundo ocidental. Mas o que dizer dos soviéticos, no outro extremo da Europa? Onde vê-los a não ser a rapar medalhas nos Jogos Olímpicos ao som de um belo hino, ou de gorro enfiado na cabeça, a passar atrás do Carlos Fino enquanto este falava a partir de Moscovo?
Um mundo de onde não se saía livremente, aonde poucos iam, enfim, um mundo fechado e do qual pouco se sabia para além de certas visões utópicas e distópicas. Mas como seriam mesmo? Felizes e contentes, como na revista Vida Soviética? Como seriam as casas, teriam mesmo de partilhar apartamentos? Haveria, como no Ocidente, droga, prostituição e crime, ou só níveis elevados de Vitamina D graças a ser o Sol da Terra? E o álcool, seria ainda como na literatura russa do século XIX ou evaporou-se com o socialismo real? Seria mesmo verdade não usarem calças de ganga, não poderem ouvir Rock ou beberem Coca-Cola, ou era apenas má-língua anti-comunista? E a excelência no xadrez, na música erudita, no bailado? Seriam geneticamente mais dotados, ou devia-se a uma sociedade tão perfeita como um formigueiro?
Estive duas vezes próximo de soviéticos. Uma, no topo do 3ºanel, para ver onze minúsculos pontos a correr de um lado para o outro. A outra, no Virgínia, um grupo folclórico trazido por uma daquelas associações de amizade Portugal-URSS e assim. Entraram a sorrir, dançaram a sorrir e partiram a sorrir. Por isso, mesmo que Sting cantasse We share the same biology/Regardless of ideology, a verdade é que havia uma pesada e opaca cortina de ferro a separar-me daqueles seres virtuais, meras entidades literárias, sociológicas ou, para quem fosse comunista, hagiográficas. Enfim, misteriosas, enigmáticas, inacessíveis.
Riga é uma cidade bonita. Vale bem a pena o seu centro medieval, os belos e bem cuidados edifícios de Arte Nova à volta da rua Alberta, alguns deles desenhados pelo pai do realizador Sergei Eisenstein, tendo num deles vivido o filósofo Isaiah Berlin, igrejas ortodoxas como a da Ascensão e da Natividade, mas também a fabulosa Biblioteca Nacional da Letónia. Sendo uma cidade pequena, permitiu-me que, ao fim de três dias, incluindo o Museu Nacional de Arte (muito boa pintura, sobretudo contemporânea), ficasse ainda com mais dois para explorar uma cidade mais verdadeira e menos turística andando quilómetros sem rumo por zonas de uma pobreza que só consigo comparar a algumas de Nápoles, mas sem a neve de Riga.
E guardar para o último dia, perto do animado mercado principal, o sovietíssimo edifício da Academia das Ciências, em cujo elevador entrei para ir ao topo. Fecha-se a porta e, vendo-me ali sozinho na intimidade de um elevador com um casal cuja parte da sua vida foi soviética, sinto logo o desejo de os guardar, fingindo consultar o telemóvel. Serão para sempre os meus soviéticos. Sim, partilhamos a mesma biologia, e são mais do que pontinhos minúsculos a correr num relvado ou autómatos programados para sorrir. Mas não deixou de ter um sabor especial partilhar com eles, na intimidade do elevador, aquele oxigénio tantos anos soviético, num edifício tão soviético, embora já livres da foice e do martelo para respirarem o ar, apesar de tantas vezes impuro, da liberdade e da democracia.
![]() Apresentados os candidatos à presidência da Câmara de Torres Novas, a realizar nos finais de Setembro, ou na primeira quinzena de Outubro, restam pouco mais de três meses (dois de férias), para se conhecer ao que vêm, quem é quem, o que defendem, para o concelho, na sua interligação cidade/freguesias. |
![]() O nosso major-general é uma versão pós-moderna do Pangloss de Voltaire, atestando que, no designado “mundo livre”, estamos no melhor possível, prontos para a vitória e não pode ser de outro modo. |
![]() “Pobre é o discípulo que não excede o seu mestre” Leonardo da Vinci
Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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