O Cubo - josé ricardo costa
Como Garrett, resolvo viajar pela minha terra, não para subir o Tejo, mas para descer o viaduto rumo à avenida, o que só por si já é uma viagem que mistura três épocas distintas: a viril Idade Média, a ruralidade do século XIX e o urbanismo do século XX.
Descido o viaduto, e atraído pela mancha verde do jardim, entro nele para rever o busto de Carlos Reis, ficando contente por ainda não ter sido decapitado pelo Robespierre cá da terra, se bem que, graças ao seu apelido, isso o levasse a entrar no restrito clube de outros ilustres decapitados como Carlos I, Luís XVI ou Eduardo VIII, embora este último num sentido mais fofinho, uma vez que se tratou só de perder a cabeça por uma americana.
Mas também surpreendido pela presença de um enorme cubo mesmo nas barbas do pintor, num dramático frente-a-frente a fazer lembrar os duelos entre Django e Sartana, Cassius Clay e George Foreman, ou João Galamba e Frederico Pinheiro. Ainda com a cabeça meio entorpecida com a descoberta, não resisto a matutar sobre a razão de ser daquele cubo num território tão bem marcado pelo pintor como se de um gato se tratasse, neste caso não com o cheiro, mas com o arejamento espacial do sítio.
Já desesperado com o silêncio da resposta, foi então numa remota circunvolução da meu cérebro que consegui, uma espécie de golo no último minutos dos descontos, vislumbrar a única coisa que pode ter acontecido, só pode, foi alguém descobrir uma corrente artística muito moderna chamada cubismo, certamente criada por um checo chamado Rubik, pensando assim dar ao local um requintado toque de modernidade, embora temperada com umas frases dignas de um romance de Paulo Coelho ou do livro de Religião e Moral da 4ªclasse, que talvez fizessem mais sentido junto às oliveiras dos Pastorinhos.
E se cubismo pede cubos, tudo o que é cubo será cubista, isto claro, segundo uma lógica mais cubista que aristotélica, incubada num obscuro cubículo da mente de quem o pensou. Nada melhor, pois, que uma peça digna de uma coleção Berardo, algo assim tão moderno como as Brillo Boxes de Andy Warhol, que por sinal era de origem checa como o próprio Rubik, criador do cubismo.
Verdade seja dita, primeiro estranha-se. Mas depois lá se vai entranhando, possibilitando mesmo um desafiante duelo entre dois mundos distintos, o de Carlos Reis e o do cubo cubista. Carlos Reis foi um artista conservador que, mesmo estando em Paris num tempo de grandes convulsões artísticas, parece nunca ter saído de Torres Novas, não sei se com base naquela ideia de que quem dá o que pode a mais não é obrigado, ou se por opção artística. Até Sorolla, ou os nossos Columbano, Silva Porto ou Henrique Pousão - os quais aprecio bastante - que nada inovaram, foram mais longe que Carlos Reis.
Pronto, é neste sentido que o duelo entre Carlos Reis e o cubo cubista se afigura estimulante, ainda para mais numa avenida toda ela clássica entre o jardim e o Virgínia. O monumento ao bombeiro é clássico, a escultura do dr. Alves Vieira é clássica, o busto de Carlos Reis é clássico, e não me venham dizer que, pela sua ousadia, a vulva é moderna. Lembro que A Origem do Mundo, de Courbet tem mais de 150 anos, estando a de Torres Novas apenas mais centrada na origem propriamente dita e em versão depilada, aqui sim, mais de acordo com as tendências contemporâneas.
O século XVII viu nascer uma importante discussão, conhecida como Querela entre Antigos e Modernos, entre os que defendiam a superioridade da cultura clássica e os que defendiam tendências modernas, como foi o caso de Charles Perrault, pai do Capuchinho Vermelho e do Gato das Botas. É neste sentido que lanço aqui o repto ao estimado Jorge Simões para que, sem obviamente cortar relações com D. Afonso Henriques e a Tarambola, passe também por ali de vez em quando para ouvir o que dirão o conservador Carlos Reis e o cubista cubo, no que presumo ser uma acesa discussão.
E se é da discussão que nasce a luz, pode ser que esta ainda venha a acender-se na cabeça de quem se lembrou de ali pôr o artístico poliedro, o qual, não estando ao nível do solo, nem sequer serve para os cães alçarem a pata para marcarem o território.
O Cubo - josé ricardo costa
Como Garrett, resolvo viajar pela minha terra, não para subir o Tejo, mas para descer o viaduto rumo à avenida, o que só por si já é uma viagem que mistura três épocas distintas: a viril Idade Média, a ruralidade do século XIX e o urbanismo do século XX.
Descido o viaduto, e atraído pela mancha verde do jardim, entro nele para rever o busto de Carlos Reis, ficando contente por ainda não ter sido decapitado pelo Robespierre cá da terra, se bem que, graças ao seu apelido, isso o levasse a entrar no restrito clube de outros ilustres decapitados como Carlos I, Luís XVI ou Eduardo VIII, embora este último num sentido mais fofinho, uma vez que se tratou só de perder a cabeça por uma americana.
Mas também surpreendido pela presença de um enorme cubo mesmo nas barbas do pintor, num dramático frente-a-frente a fazer lembrar os duelos entre Django e Sartana, Cassius Clay e George Foreman, ou João Galamba e Frederico Pinheiro. Ainda com a cabeça meio entorpecida com a descoberta, não resisto a matutar sobre a razão de ser daquele cubo num território tão bem marcado pelo pintor como se de um gato se tratasse, neste caso não com o cheiro, mas com o arejamento espacial do sítio.
Já desesperado com o silêncio da resposta, foi então numa remota circunvolução da meu cérebro que consegui, uma espécie de golo no último minutos dos descontos, vislumbrar a única coisa que pode ter acontecido, só pode, foi alguém descobrir uma corrente artística muito moderna chamada cubismo, certamente criada por um checo chamado Rubik, pensando assim dar ao local um requintado toque de modernidade, embora temperada com umas frases dignas de um romance de Paulo Coelho ou do livro de Religião e Moral da 4ªclasse, que talvez fizessem mais sentido junto às oliveiras dos Pastorinhos.
E se cubismo pede cubos, tudo o que é cubo será cubista, isto claro, segundo uma lógica mais cubista que aristotélica, incubada num obscuro cubículo da mente de quem o pensou. Nada melhor, pois, que uma peça digna de uma coleção Berardo, algo assim tão moderno como as Brillo Boxes de Andy Warhol, que por sinal era de origem checa como o próprio Rubik, criador do cubismo.
Verdade seja dita, primeiro estranha-se. Mas depois lá se vai entranhando, possibilitando mesmo um desafiante duelo entre dois mundos distintos, o de Carlos Reis e o do cubo cubista. Carlos Reis foi um artista conservador que, mesmo estando em Paris num tempo de grandes convulsões artísticas, parece nunca ter saído de Torres Novas, não sei se com base naquela ideia de que quem dá o que pode a mais não é obrigado, ou se por opção artística. Até Sorolla, ou os nossos Columbano, Silva Porto ou Henrique Pousão - os quais aprecio bastante - que nada inovaram, foram mais longe que Carlos Reis.
Pronto, é neste sentido que o duelo entre Carlos Reis e o cubo cubista se afigura estimulante, ainda para mais numa avenida toda ela clássica entre o jardim e o Virgínia. O monumento ao bombeiro é clássico, a escultura do dr. Alves Vieira é clássica, o busto de Carlos Reis é clássico, e não me venham dizer que, pela sua ousadia, a vulva é moderna. Lembro que A Origem do Mundo, de Courbet tem mais de 150 anos, estando a de Torres Novas apenas mais centrada na origem propriamente dita e em versão depilada, aqui sim, mais de acordo com as tendências contemporâneas.
O século XVII viu nascer uma importante discussão, conhecida como Querela entre Antigos e Modernos, entre os que defendiam a superioridade da cultura clássica e os que defendiam tendências modernas, como foi o caso de Charles Perrault, pai do Capuchinho Vermelho e do Gato das Botas. É neste sentido que lanço aqui o repto ao estimado Jorge Simões para que, sem obviamente cortar relações com D. Afonso Henriques e a Tarambola, passe também por ali de vez em quando para ouvir o que dirão o conservador Carlos Reis e o cubista cubo, no que presumo ser uma acesa discussão.
E se é da discussão que nasce a luz, pode ser que esta ainda venha a acender-se na cabeça de quem se lembrou de ali pôr o artístico poliedro, o qual, não estando ao nível do solo, nem sequer serve para os cães alçarem a pata para marcarem o território.
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![]() O nosso major-general é uma versão pós-moderna do Pangloss de Voltaire, atestando que, no designado “mundo livre”, estamos no melhor possível, prontos para a vitória e não pode ser de outro modo. |
![]() “Pobre é o discípulo que não excede o seu mestre” Leonardo da Vinci
Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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