A guerra entre sexos - jorge carreira maia
"A gradual igualdade entre homens e mulheres parece estar a atormentar cada vez mais um número significativo de homens"
Uma notícia curiosa, mas, em aparência, sem relevo. No Público (online) de 11 de Abril, um texto apresentava o seguinte título: Na Croácia, homens ajoelham-se para rezar pela “restauração da autoridade masculina”. No lead da notícia, acrescentava-se: No primeiro sábado de cada mês, um grupo de homens católicos ajoelham-se (em locais públicos) para pedirem o fim do aborto, do sexo antes do casamento ou das roupas “provocantes”. O que se deve perguntar perante este fenómeno é se ele não passa de uma bizarria ou se, sendo bizarro, traz consigo um aspecto revelador do que se está a passar no mundo ocidental. No último artigo, reflectiu-se sobre como o nacional-populismo se apoderou do futuro. Este artigo foca-se num aspecto que irá ter crescente importância no discurso dos nacionais-populistas, a questão da relação entre homens e mulheres.
A gradual igualdade entre homens e mulheres – nomeadamente, na gestão da sua própria sexualidade – parece estar a atormentar cada vez mais um número significativo de homens. Não apenas a questão da sexualidade, embora esta seja central, mas também o facto de as mulheres terem desempenhos muito mais competentes e focados em muitas áreas, começando pelos estudos e acabando no mundo profissional, onde não são dominantes porque a rede masculina consegue estancar a sua ascensão em massa aos lugares de topo. A liberdade sexual das mulheres trazida pela pílula e pela revolução dos costumes nascida com o Maio de 68, aliada ao poder de focagem que elas têm demonstrado ao nível da educação e da profissionalidade, está a deixar muitos homens inseguros e incapazes de suportar a situação.
Isto é muito claro em países como os EUA ou o Brasil, onde o apoio a Trump e a Bolsonaro se liga a modelos de masculinidade impositiva, que trazem uma promessa de restauração dos velhos tempos da dominação do homem sobre a mulher. Na Europa, esses movimentos são menos visíveis, mas será uma questão de tempo, como prenunciam já as manifestações dos grupos de homens croatas ou aquilo que se passa na Hungria ou na Polónia. Seria, por outro lado, um erro pensar que este tipo de aspiração só teria eco entre homens com masculinidade tóxica. Encontra, e vai encontrar cada vez mais, apoio entre grupos de mulheres, como se vê no Brasil ou nos EUA. Esta questão irá contaminar a política e abrir uma frente de combate muito polarizada, com os nacionais-populistas a alimentar a fogueira. Ainda não se percebe muito bem, mas a questão central da política, o lugar dos grandes conflitos, será cada vez mais o problema da igualdade entre homens e mulheres. Passamos da velha luta de classes à guerra entre sexos.
A guerra entre sexos - jorge carreira maia
A gradual igualdade entre homens e mulheres parece estar a atormentar cada vez mais um número significativo de homens
Uma notícia curiosa, mas, em aparência, sem relevo. No Público (online) de 11 de Abril, um texto apresentava o seguinte título: Na Croácia, homens ajoelham-se para rezar pela “restauração da autoridade masculina”. No lead da notícia, acrescentava-se: No primeiro sábado de cada mês, um grupo de homens católicos ajoelham-se (em locais públicos) para pedirem o fim do aborto, do sexo antes do casamento ou das roupas “provocantes”. O que se deve perguntar perante este fenómeno é se ele não passa de uma bizarria ou se, sendo bizarro, traz consigo um aspecto revelador do que se está a passar no mundo ocidental. No último artigo, reflectiu-se sobre como o nacional-populismo se apoderou do futuro. Este artigo foca-se num aspecto que irá ter crescente importância no discurso dos nacionais-populistas, a questão da relação entre homens e mulheres.
A gradual igualdade entre homens e mulheres – nomeadamente, na gestão da sua própria sexualidade – parece estar a atormentar cada vez mais um número significativo de homens. Não apenas a questão da sexualidade, embora esta seja central, mas também o facto de as mulheres terem desempenhos muito mais competentes e focados em muitas áreas, começando pelos estudos e acabando no mundo profissional, onde não são dominantes porque a rede masculina consegue estancar a sua ascensão em massa aos lugares de topo. A liberdade sexual das mulheres trazida pela pílula e pela revolução dos costumes nascida com o Maio de 68, aliada ao poder de focagem que elas têm demonstrado ao nível da educação e da profissionalidade, está a deixar muitos homens inseguros e incapazes de suportar a situação.
Isto é muito claro em países como os EUA ou o Brasil, onde o apoio a Trump e a Bolsonaro se liga a modelos de masculinidade impositiva, que trazem uma promessa de restauração dos velhos tempos da dominação do homem sobre a mulher. Na Europa, esses movimentos são menos visíveis, mas será uma questão de tempo, como prenunciam já as manifestações dos grupos de homens croatas ou aquilo que se passa na Hungria ou na Polónia. Seria, por outro lado, um erro pensar que este tipo de aspiração só teria eco entre homens com masculinidade tóxica. Encontra, e vai encontrar cada vez mais, apoio entre grupos de mulheres, como se vê no Brasil ou nos EUA. Esta questão irá contaminar a política e abrir uma frente de combate muito polarizada, com os nacionais-populistas a alimentar a fogueira. Ainda não se percebe muito bem, mas a questão central da política, o lugar dos grandes conflitos, será cada vez mais o problema da igualdade entre homens e mulheres. Passamos da velha luta de classes à guerra entre sexos.
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
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![]() Deveria seguir-se a demolição do prédio que foi construído em cima do rio há mais de cinquenta anos e a libertação de terrenos junto da fábrica velha Estamos em tempo de cheias no nosso Rio Almonda. |
![]() Enquanto penso em como arrancar com este texto, só consigo imaginar o fartote que Joana Marques, humorista, faria com esta notícia. Tivesse eu jeito para piadas e poderia alvitrar já aqui duas ou três larachas, envolvendo papel higiénico e lavagem de honra, que a responsável pelo podcast Extremamente Desagradável faria com este assunto. |
![]() Chegou o ano do eleitorado concelhio, no sistema constitucional democrático em que vivemos, dizer da sua opinião sobre a política autárquica a que a gestão do município o sujeitou. O Partido Socialista governa desde as eleições de 12 de Dezembro de 1993, com duas figuras que se mantiveram na presidência, António Manuel de Oliveira Rodrigues (1994-2013), Pedro Paulo Ramos Ferreira (2013-2025), com o reforço deste último ter sido vice-presidente do primeiro nos seus três mandatos. |
![]() Coloquemos a questão: O que se está a passar no mundo? Factualmente, temos, para além da tragédia do Médio Oriente, a invasão russa da Ucrânia, o sólido crescimento internacional do poder chinês, o fenómeno Donald Trump e a periclitante saúde das democracias europeias. |
![]() Nos últimos dias do ano veio a revelação da descoberta de mais um trilho de pegadas de dinossauros na Serra de Aire. Neste canto do mundo, outras vidas que aqui andaram, foram deixando involuntariamente o seu rasto e na viagem dos tempos chegaram-se a nós e o passado encontra-se com o presente. |
» 2025-03-31
» Hélder Dias
Entrevistador... |
» 2025-03-22
» Jorge Carreira Maia
Uma passagem do Evangelho de João - jorge carreira maia |