• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Sexta, 26 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Seg.
 19° / 9°
Períodos nublados
Dom.
 18° / 6°
Períodos nublados com chuva fraca
Sáb.
 17° / 8°
Períodos nublados com chuva fraca
Torres Novas
Hoje  18° / 11°
Céu nublado com chuva fraca
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Desesperança 1, ou o Novembro do nosso descontentamento - maria augusta torcato

Opinião  »  2021-11-25  »  Maria Augusta Torcato

"Custa-me muito que os políticos do meu país andem em desnorte completo. Que passem essa imagem e nos alimentem uma vergonha alheia e uma angústia sem fim."

Às vezes, lembro-me das personagens de Sancho Pança e D. Quixote, evocadas no capítulo III de “Viagens na minha terra”, de Garrett.

Não sei, todavia, se a lembrança dessas personagens, neste contexto, vem por boas razões.

À medida que os dias decorrem, um de cada vez, mas sem qualquer interrupção, assiste-se a um triste, diria mesmo tristíssimo, espectáculo, dado pelos políticos do meu país. O espectáculo não é inédito, pois já está em palco há muito, talvez desde sempre, mas agora mais e maior, desde que o orçamento de 2022 se tornou em contas de dividir erradas para quase todos.

Há muito que deixei de me identificar com a política, esta política, não obstante todos reconhecermos a nobreza “do que é a política” e até se tratar de um acto político o simples facto de eu estar a discorrer sobre isso e a partilhá-lo publicamente.

Parece que sempre fomos, somos e seremos um país em crise. Aliás, o facto de podermos vir a não estar ou ser um país em crise, em si mesmo, parece ser uma odisseia ou uma tarefa épica para os nossos políticos, que, para a enfrentarem, teriam de ter espírito heroico, característica que lhes é ausente. É mais fácil fazerem a sua política com um país em crise, com o aceno do medo, com o domínio e não a partilha, com a prepotência e a soberba e não com a colaboração ou solidariedade. O medo e a pobreza subjugam essencialmente o espírito, a alma. E quando a alma está aprisionada tudo é possível. Até viver-se uma não vida.

Custa-me muito que os políticos do meu país andem em desnorte completo. Que passem essa imagem e nos alimentem uma vergonha alheia e uma angústia sem fim. Há os que conseguem gerar a confusão e, de mansinho, saem do campo como se nunca lá tivessem estado e se riem, às escondidas, das bulhas e desnorte dos outros; há os que se deixaram, ingénua ou distraidamente, envolver na confusão e, fizessem o que fizessem, sairiam sempre mal, a perder, com aquela sensação de “independentemente do que façamos, caminhamos inevitavelmente para a morte”; há os que resolveram optar pelo fratricídio, já que há muito os interesses individuais se sobrepuseram aos interesses colectivos, mesmo que se justifiquem os primeiros com os segundos; há os que aproveitam o momento e, à semelhança dos roncadores, afirmam-se e crescem. Para estes, e talvez para outros, quanto maior a confusão melhor. Quanto maior a crise, melhor. Quanto mais acentuado o medo, melhor. Quanto mais pobreza, melhor. É que assim, os ditos salvadores da pátria poderão sempre cobrar ao povo a sua entrega e o seu sacrifício para o salvarem, poderão sempre disfarçar a sua incompetência e ambição desmesurada, praticando a retórica e uma misericordiazinha, uma política assistencialista que nunca assiste quem devia, e podem continuar a (des)governar sem que haja um verdadeiro escrutínio do que fazem e não fazem. Nesta teia, porque até o xadrez já está indefinido, há os estrategas, os espertos, os ingénuos, os tolos e os palermas e ainda muitas outras espécies. O pior é que foram todos, todinhos, apanhados na teia. E a teia está sobre todos nós. Não temos escapatória.

Para fugir a esta triste realidade, a esta desesperança quanto ao presente e ao futuro, nada melhor do que enfiar-me na leitura. Porém, não consigo mesmo fugir. A leitura lá me leva para a realidade, mesmo que esta se apresente como uma alegoria. O Pessoa era um espectáculo, tinha toda a razão: seria bom ser inconsciente…

Retomo Garrett, o tal que também se contradisse e acabou visconde, “Honra e proveito não cabem num saco, beleza e mentira também lá não cabem”. Mesmo com sacos mais modernos, o problema continua o mesmo e aplica-se a todas as áreas da nossa sociedade e não apenas ao potencial desfasamento entre literatura e realidade. Na minha perspetiva, a literatura é, talvez, a única que consegue pôr beleza e verdade num saco e pode, noutro, pôr beleza e mentira, para que o leitor consiga, com olhar acutilante e crítico, descobrir a diferença.

 

 

 

 

 

 Outras notícias - Opinião


O miúdo vai à frente »  2024-04-25  »  Hélder Dias

Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia »  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia

A publicação do livro Identidade e Família – Entre a Consistência da Tradição e os Desafios da Modernidade, apresentado por Passos Coelho, gerou uma inusitada efervescência, o que foi uma vitória para os organizadores desta obra colectiva.
(ler mais...)


Caminho de Abril - maria augusta torcato »  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato

Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável.
(ler mais...)


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias
 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato Caminho de Abril - maria augusta torcato
»  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia
»  2024-04-25  »  Hélder Dias O miúdo vai à frente
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia