A gratidão gira em círculo. E eu não posso deixar de te agradecer as lembranças, o reconhecimento pelo caminho feito. Hoje é dia do professor. Todos os dias o são. Fui ao email, procurei o mês de maio. E lá estão elas: as tuas palavras, que guardei na memória e no coração. E com um orgulho do tamanho do mundo. Partilho-as, minha querida aluna, com todos os meus e as minhas colegas professores e professoras e com todos os alunos e todas as alunas. Porque elas mostram-nos e mostram o percurso que fazemos e que, afinal, vale sempre a pena…                      

“Professora, não é fácil prender as palavras, pelo menos é o que eu sinto com as minhas, fogem-me e deixam que aquilo que eu sinto transpareça claramente, mesmo que eu as tente encobrir, mesmo que eu as agarre com força, elas escapam sempre pelos caminhos que eu não quero, crio-lhes obstáculos, crio-lhes atalhos e desvios, mas não as engano de maneira alguma. Mas acho que também não me interessa que fujam de mim ou que desrespeitem um pouco a minha vontade, sei que não as controlo, mas também sei que só não as controlo com e para aqueles em quem confio, para aqueles que as recebem naturalmente. 

 Foi mais ou menos o que aconteceu, vi o filme (Os gatos não têm vertigens) e lembrei-me de si, porque me lembrei de filmes que tinham "vontades" semelhantes à deste e que me foram dados a ver por si (refiro-me ao "Clube dos poetas mortos" e outro de que já não me recordo o nome), pareceu-me ser um filme interessante que, não deixando de ser uma história (ou várias histórias), é um bom espelho da realidade e um bom espelho para se projetar uma luz bem forte e branca para encadear os que a ele assistem. E, (lá estão elas a fugir, agora de uma maneira diferente, mas a fugir) ao lembrar-me de si achei por bem partilhá-lo, mas foi-me inevitável conter as palavras e lá foram elas a correr, livres e carregando às costas aquilo que queriam falar. Acho que também é dos momentos, as épocas de exames deixam-me sempre emocionalmente mais instável e mais reflexiva, e passo a ver as coisas de um modo mais negativo, infelizmente isso não é nada bom. Vale-me o facto de não haver épocas de exames eternas, graças a Deus, porque se assim fosse seria complicado. 

 Oh professora, fico tão triste que diga que se sente desfasada da realidade, quase a render-se. Não se deixe render, tem magia em si sabe? Tem a magia de saber ensinar, embora a escola e o ensino tenham mudado, e queiram tornar-nos máquinas de fazer e mostrar coisas bonitas, literalmente, porque é isso que vejo, aparências, embora queiram tornar a escola (e a vida) num autêntico teatro, mas daqueles em que não há direito a improviso, embora queiram limitar os professores a regras, não se renda a esses fantoches! É feio o que fazem, principalmente com o português, que devia ser liberdade, porque as palavras são liberdade e só quando são usadas com a devida liberdade e loucura é que são especiais, é que são capazes de cumprir a sua missão em cada um de nós. Eu calculo que seja difícil, agarrar os alunos de mãos e pés atadas, controlados, em parte, por esses encenadores que nada sabem de teatro, mas eu acredito que consiga libertar-se e agarrar esses alunos. Torna-se difícil pescar quando a água secou e os peixes foram comidos pela terra! Mas eu acredito nessa sua magia, nessa sua magia que são as palavras. Pesque professora, pesque os peixes que queiram ser pescados, porque há esperança de que ainda haja água no mar e peixes que sabem nadar. Não há maior magia do que essa, a de saber usar as palavras de todas as formas, foi assim que eu deixei que me pescasse, foram as suas palavras, que refletem a pessoa incrível que é e que me deixa assim, com vontade de escrever, que chama pelas minhas palavras e, já sabe, elas fogem para si, é o que sinto que faz em mim, chama pelas minhas palavras …”

 Obrigada! Receberei sempre as tuas palavras de braços abertos…