Energumenomania e papas de aveia no cocuruto da cabeça
Opinião » 2015-02-06 » Maria Augusta Torcato
É verdade que a zanga não é só de agora. Tenho andado zangada de uma forma indefinível. Não é com alguém nem com ninguém. Não é com isto nem com aquilo. É andar zangada. Ponto. Sinto-me agastada e o agastamento não conduz a lado algum. Sinto-me agreste e a agressividade não conduz a lado algum. Sinto-me ácida e a acidez não conduz a lado algum. Sinto-me avessa e a aversão não conduz a lado algum. E por aí adiante. Nada do que sinto conduz a algum lado. Ponto!
Mas, diga-se a verdade: nos dias que correm, andar apaziguado, andar completo, andar tolerante, andar doce pode ser tudo menos andar. É estar num não estar. É estar distante do que temos, vemos e ouvimos. Antes, distantes do que não temos, do que não vemos e do que não ouvimos. E precisaríamos de ter, ver e ouvir, essencialmente, para ser. Para sermos. Para existirmos.
O que se tem? Pobreza Miséria Desemprego Abandono Vileza Exploração Apatia Indiferença Insegurança Discriminação Desigualdade Conflito Emigração Abuso Solidão Crueldade Doença Medo Medo Medo… que cansaço… que cansaço…
O que se vê? Pobreza. Corpos moles disfarçados. Olhares duros, frios, frágeis, tímidos, baços e tristes. Muito tristes.
O que se ouve? Pobreza. Pobreza de palavras. Pobreza expressa em palavras. Pobreza de ações. Pobreza em ações. Pobreza em muitos lamentos. Lamentos surdos, silenciosos, que nos gritam aos ouvidos e nos ferem as emoções!
Já os poetas diziam que era preciso destruir certas palavras e era preciso reinventar as palavras. Há um cansaço tão grande, tão profundo, tão extenso, que só palavras boas, muito boas poderão aliviar-nos deste peso. Deste cansaço. Como diria A. Campos ” um supremíssimo cansaço, íssimo, íssimo, íssimo Cansaço…”
Quero destruir algumas palavras: energumenomania hipocrisia cinismo intolerância incompreensão mentira exploração roubo opressão. Atirei-as fora. Pode ser que se prendam na testa, nas faces, no nariz e na cabeça dos que acho que estão ”a comer as papas de aveia no cocuruto da minha cabeça”!
Energumenomania e papas de aveia no cocuruto da cabeça
Opinião » 2015-02-06 » Maria Augusta TorcatoÉ verdade que a zanga não é só de agora. Tenho andado zangada de uma forma indefinível. Não é com alguém nem com ninguém. Não é com isto nem com aquilo. É andar zangada. Ponto. Sinto-me agastada e o agastamento não conduz a lado algum. Sinto-me agreste e a agressividade não conduz a lado algum. Sinto-me ácida e a acidez não conduz a lado algum. Sinto-me avessa e a aversão não conduz a lado algum. E por aí adiante. Nada do que sinto conduz a algum lado. Ponto!
Mas, diga-se a verdade: nos dias que correm, andar apaziguado, andar completo, andar tolerante, andar doce pode ser tudo menos andar. É estar num não estar. É estar distante do que temos, vemos e ouvimos. Antes, distantes do que não temos, do que não vemos e do que não ouvimos. E precisaríamos de ter, ver e ouvir, essencialmente, para ser. Para sermos. Para existirmos.
O que se tem? Pobreza Miséria Desemprego Abandono Vileza Exploração Apatia Indiferença Insegurança Discriminação Desigualdade Conflito Emigração Abuso Solidão Crueldade Doença Medo Medo Medo… que cansaço… que cansaço…
O que se vê? Pobreza. Corpos moles disfarçados. Olhares duros, frios, frágeis, tímidos, baços e tristes. Muito tristes.
O que se ouve? Pobreza. Pobreza de palavras. Pobreza expressa em palavras. Pobreza de ações. Pobreza em ações. Pobreza em muitos lamentos. Lamentos surdos, silenciosos, que nos gritam aos ouvidos e nos ferem as emoções!
Já os poetas diziam que era preciso destruir certas palavras e era preciso reinventar as palavras. Há um cansaço tão grande, tão profundo, tão extenso, que só palavras boas, muito boas poderão aliviar-nos deste peso. Deste cansaço. Como diria A. Campos ” um supremíssimo cansaço, íssimo, íssimo, íssimo Cansaço…”
Quero destruir algumas palavras: energumenomania hipocrisia cinismo intolerância incompreensão mentira exploração roubo opressão. Atirei-as fora. Pode ser que se prendam na testa, nas faces, no nariz e na cabeça dos que acho que estão ”a comer as papas de aveia no cocuruto da minha cabeça”!
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