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As sondagens são um aviso

Opinião  »  2023-02-04  »  António Mário Santos

"Cabe ao PS, uma vez mais, explicar para onde vai. Se continua a embrulhar o socialismo no papel de rebuçado da hipocrisia."

Mesmo sabendo que a maioria absoluta do PS, surgida como surgiu, não dava garantias de estabilidade a um governo sem garra, a cumprir uma política com que o centro-direita implica, porque na prática concretiza percentagem significativa dos seus programas, roubando-lhes espaço de manobra para projectos alternativos, confesso que a última sondagem, realizada pela Aximage para o DN, apanhou-me de surpresa.

Não que as sondagens reflictam algo mais que tendências emocionais de opiniões, assentes mais nos acontecimentos que reflectem a espuma dos dias do que nas reais intenções do eleitor no momento do voto, quando a opção assumida nem sempre é a desejada, mas a que lhe parece a que menos prejudica os seus interesses económicos e sociais.

Previa a descida de popularidade de António Costa e do Governo, depois de diversos casos e casinhos, o mais publicitado o da TAP, assim como da célebre entrevista à Visão, em que, de forma arrogante, concluía que o seu governo era para quatro anos, o PS tinha a maioria ganha nas últimas eleições legislativas, quem não gostava, paciência. «Aguentem-se!».

As sondagens do PS, desde as referidas eleições (+40%), em Setembro último encolheram (34,5%), na sondagem Intercampos de Janeiro (27,1%), e na da Aximage, quatro dias depois (26,1%). Já o PSD, enredado nas suas ambiguidades (alia-sa ao Chega ou não?), na da Intercampus (25,1%) e na da Aximage (34,5%), ultrapassando o PS, mas sem demonstrar capacidade para uma alternativa, sem os votos da direita (Chega +IL+CDS).

Não esperava essa descida tão rápida do PS, ainda que se fosse revelando na ausência de medidas concretas do governo para a resolução dos problemas, cada vez mais graves, que atingem a sociedade portuguesa A maioria da população tem mais mês que vencimento. O desemprego atinge grupos populacionais que, outrora, se encontravam acima da margem de pobreza. Os empregados têm menos possibilidades de manterem, se sós, a si, se casados, as famílias. A emigração coloca-se, à juventude, como única forma de superar o abandono a que a pátria os condenou. A grande maioria dos reformados encontra-se a um nível próximo da subvivência, O país também não é para velhos, aliás nunca o foi, já que à doença, à solidão, se juntam as orelhas moucas dos governos, a indiferença social, a hipocrisia misericordiosa dos que se dizem seus protectores. Os pequenos e médios agricultores, comerciantes, industriais, asfixiam ante a avassaladora gula do ministério das finanças. O frio agrava tudo, colocando a maioria dos lares portuguesas num regresso ao cobertor e ao saco de água quente, as únicas alternativas, ante a indiferença governamental, à galopante inflacção dos preços da electricidade.

Por outro lado, a ostentação, a riqueza, o impudor, a corrupção, transformam-se num insulto, mais ainda quando são apanágio de políticos, e se manifestam, de forma pública, sem visível, concreta atempada e justificada intervenção judicial. Ministros, secretários, deputados, autarcas, banqueiros, administradores, capitalistas, são a excepção acima da lei, vivem numa outra realidade que só se pode imaginar pela desinteressada (?) divulgação dos media e das redes sociais, que promovem e pagam para controlarem a informação e formatarem o pensamento colectivo dos cidadãos.

A sobrevivência, todavia, foi sempre o último reduto da esperança. É natural que, ante os milhões que circulam, do governo para a TAP, indemnizações obscenas a administradores, para a Banca, para a Jornada Mundial da Juventude, contrastando com os tostões dos aumentos de vencimentos da função pública, professores, médicos, enfermeiros, técnicos, polícias, reformas, investimento na saúde e no SNS, o cansaço e o desespero se transformem em protesto e se radicalizem de forma cada vez mais assumida.

O caso recente dos professores é apenas a mais recente ameaça dum vulcão a entrar em actividade. Agrava-o a imagem dum palco de mais de 5 milhões para a missa campal do papa Francisco, reconhecido defensor dos humildes e crítico do capitalismo, que o autarca de Lisboa, Moedas de nome, considera importante para o prestígio de Portugal num país laico, à custa dos impostos pagos por todos os portugueses. Promovendo-se um acontecimento para que estão previstos, para já, despesas do Estado de 80 milhões, além dos outros 80 da Igreja, adiciona-se, ao protesto da desigualdades entre as classes sociais, um factor religioso, que denuncia a sobranceria do episcopado português e a respectiva subordinação do Estado, privilegiado em relação às outras religiões pela manutenção da Concordata e pelo emblema mental de país católico que Salazar e Cerejeira (e não só) colaram na testa dos portugueses, num crê ou sofres, que o 25 de Abril procurou (mas ainda não conseguiu) superar.

As sondagens são um aviso. As maiorias absolutas não avalizam iniquidades. A rua é, para os detentores dos poderes, o lugar que temem. Naquela, se demonstra que há alternativas aos seus privilégios. Naquela, se anuncia que nada dura para sempre e que o absoluto acaba ao mudar de esquina.

Cabe ao PS, uma vez mais, explicar para onde vai. Se continua a embrulhar o socialismo no papel de rebuçado da hipocrisia, dum pensar social e agir liberal, ou se assume que o país real não quer continuar amordaçado, como o denunciou, no fascismo, o seu patrono, Dr. Mário Soares.

Mantenho, infelizmente, um profundo cepticismo. Ao constatar como a maioria absoluta socialista, na gestão municipal, soluciona os problemas concelhios, fica-me quase a certeza de que a estratégia, a nível nacional, é programática: autismo e abuso no poder, compadrio, partidarite. Aposta na imagem de que tudo parece mudar para que tudo fique na mesma. O poder almoça, o povo paga.

A realidade, contudo, mudou. No mundo e em Portugal. E as tempestades que se suspeitam, no futuro, podem não ser só as climáticas. As sondagens , ainda que volúveis, são um aviso.

 

 

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