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Cavalo de tróia

Opinião  »  2008-11-06  »  Eduarda Gameiro

Segundo a Eneida de Virgílio, a lendária e bem defendida cidade de Tróia, a determinado momento da sua batalha com o exército grego, abriu as suas portas e deixou entrar um gigante cavalo de madeira, oferenda aparente dos seus submissos oponentes à força invencível que guardava aquelas muralhas. Quem ousaria rejeitar semelhante presente? Uma estátua, inofensiva e gloriosa… Quem não a aceitaria como sinal de vitória? Quem não repousaria a concentração e a determinação da batalha sob a imponência das madeiras do cavalo? Quem não festejaria? Quem estaria pronto para se defender quando se apercebesse que era tarde de mais para travar o exército grego que saía de rompante das vísceras daquele presente venenoso e eficaz?

À medida que escrevo esta crónica, vão-me chegando aos ouvidos os indícios da vitória retumbante de um partido democrata aparentemente bem liderado por Barack Obama. Hoje é dia 4 de Novembro de 2008. São 8 da noite em Washington DC e, à medida que escrevo esta crónica, o mundo escolhe um novo líder.

Os meus afazeres só me permitiram assistir a uma pequena porção da campanha eleitoral Americana. A campanha dos democratas foi a mais inteligente e bem elaborada, enquanto que a republicana consistiu numa acumulação de erros graves (as razões da escolha de Palin transcendem-me) orbitando em redor da exaltação constante e enfadonha de McCain enquanto veterano de guerra. Obama venceu o duelo e será justamente eleito presidente, embora a maneira como o povo faz das eleições um concurso de beleza (prestando mais atenção a escândalos e a jogos de publicidade do que a verdadeiras políticas) seja ridículo.

Por outro lado, quando nos afastamos dos labirintos políticos que os candidatos criam em época de eleição, é importante analisar as repercussões que ambos os resultados da eleição Americana terão para o mundo. Se a vitória fosse republicana (o que se vai tornando cada vez menos provável, à medida que a noite se aproxima do fim), o povo Americano passaria um atestado de ignorância a si próprio, e destacar-se-ia definitivamente das mentalidades dominantes nos principais países europeus. Independentemente das qualidades de McCain (ou de Palin…), a sua vitória seria uma reeleição de Bush, um cenário absurdo num mundo que já não aguenta as chagas da política externa que o Texano e os seus lacaios disseminaram durante dois mandados. Um cenário absurdo num mundo que grita por uma mudança.

Obama parece ser o arauto dessa mudança. Porém, já se vão notando alguns compromissos e cedências, escondidas qual exército grego dentro do imperial cavalo de madeira que são as palavras do futuro presidente. Com os colossos europeus e com os seus governos de direita. Com a superpoderosa nação judaica pela perigosa causa israelita. Com o eleitorado mais fanático, ao defender a captura de Bin Laden. São jogadas políticas, sim, essenciais para uma campanha forte, mas não se esconderá, dentro deste ligeiro e aparente salto para a esquerda do governo Americano, apenas uma operação cosmética à mesma mentalidade conservadora e imperialista de sempre?

Quem não aceitaria dentro das muralhas do seu castelo este simpático e inofensivo candidato democrata? Quem não acredita que ele vai, de facto, alterar o rumo catastrófico das coisas? E quem estará pronto para encarar as consequências se nos apercebermos, daqui a 4 anos, que afinal nada mudou, e que, no dia de hoje, nos limitámos a aceitar a continuidade das políticas de Bush dentro de um envelope mais afável?

De tudo isto, retiro duas quase-certezas: Obama teria o meu voto se eu fosse Americano e, aconteça o que acontecer, será uma boa mudança para nós, espectadores passivos de um circo que cada vez mais controla o nosso destino. Mas temos de estar atentos a cada cavalo de madeira que o candidato democrata nos oferece, e não os podemos aceitar como sinas de uma vitória certa nesta batalha pelo bem mundial.

piereluigi@gmail.com

 

 

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