Há professores que são técnicos de ensino e professores que são mestres. Os primeiros, passam pela vida dos seus alunos e deixam neles o selo do conhecimento, os outros são os que marcam com ferro em brasa o pensamento, o coração, as artérias e os músculos, a pele e a alma.

Já tive a sorte de me sentar defronte de alguns desses mestres enquanto frequentei a escola pública e durante outras formações que fui fazendo ao longo dos anos. Conheço bem o meio escolar porque fui aluna, fui professora, sou mãe de alunos, e movo-me em espaços do ensino público, cooperativo e particular, do ensino artístico e do ensino regular. Posso assegurar, sem correr o risco de me enganar, que em todos esses lugares existem muito bons professores, excelsos mestres.

Não sou perita nem estudiosa do sistema educativo, sou apenas parte interessada e preocupada, curiosa e observadora, e vejo tanto potencial nos nossos professores e tão desperdiçado, que muitas vezes me indigno. A indignação é primeiro passo para a acção, e se todos temos um papel a cumprir e uma responsabilidade enquanto cidadãos, o pouco que cada um de nós pode fazer para ajudar na mudança é promover a cidadania, participar e opinar construtivamente.

Este fim-de-semana tive o privilégio de participar num ”Inominável Encontro” na biblioteca Gustavo Pinto Lopes em Torres Novas, e de ouvir o professor Hernandez, da Faculdade de Belas Artes de Barcelona, e outros professores, e conhecer alguns projectos audazes e arrojados levados a cabo por professores que ousam um pensar divergente e um fazer diferente. Um professor é um agente de mudança, tem todas as ferramentas para ser semente que germina, ser novidade, ser relevante. Mas precisa que o deixem trabalhar. Um professor divergente tem quase sempre que quebrar regras, e como bem sabemos, quem quebra regras é muito incómodo para os que estão refastelados na rotina e no conformismo.

Os professores que eu escutei fazem parte, de certeza, daquele segundo grupo de que falei no início deste text são os que saem da sua zona de conforto e ousam ensinar transgredindo, os que ajudam as crianças a fazer relações inesperadas, a questionar, fazer experiências, correr riscos. E o facto de estes professores/mestres continuarem o seu trabalho com sucesso, contra tantas adversidades, é tanto mais prodigioso quanto mais difíceis são os entraves que lhes são colocados pelo Estado e, muitas vezes, pelos próprios colegas, ou pelos poderes instalados na escola onde trabalham.

O Estado faz com os professores o mesmo que faz com as empresas: com as empresas preocupa-se em legislar sobre a altura a que se devem colocar os extintores, ou a cor dos tubos exteriores de água (que deve ser azul, sabiam?), em vez de facilitar e facultar às empresas os mecanismos que melhorem a sua produtividade e competitividade; aos professores, em vez de os desmotivar e sufocar com trabalhos burocráticos e exigências despropositadas, devia dar-lhes condições para que fizessem bem o seu trabalho principal, que é estar com e para os alunos. Vejo tantos professores esforçados e empenhados, mas desencantados com a sua profissão, sucumbindo ao peso de uma engrenagem maciça, como se houvesse uma máquina a trabalhar em contínuo ao seu lado com o único objectivo de boicotar o seu esforço inventivo!

Mas tenho a certeza de que, daquele encontro, saíram muitos professores motivados e confiantes. Um bem-hajam a todos os mestres que persistem em ensinar os seus alunos a serem pessoas melhores!