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A mão verde

Opinião  »  2013-06-14  »  Graça Rodrigues

A horta era um quadrado de terra esquecido ao fundo do pátio, onde existia um coto raquítico de oliveira e solo barrento sobre lajes e pedregulhos soltos. Mas era já um espaço terapêutico, desbravar e amansar o terreno foi o primeiro trabalho em muitas e enfadonhas manhãs, até despontar o primeiro pé de salsa e uma alegria nova florir em mim.

Comecei por cultivar ervas aromáticas e, depois de comprar alguns livros sobre o assunto, de me instruir com os sábios da minha rua, de me tornar íntima do senhor de cartola e óculos redondos da primeira página do Borda d’água (”repertório útil a toda a gente”) e de me familiarizar, pela internet, com conceitos como permacultura, agrobiologia, fertilizante, compostagem doméstica e poda drástica, tornei-me uma hortelã bem sucedida.

Já lá vão quase dez anos desde o primeiro dia em que calcei as luvas e manuseei um sacho pela primeira vez. Inicialmente, os meus amigos olhavam-me de soslaio e deviam achar-me vagamente excêntrica, com a atenção focada num terreno onde cresciam mais pedras que verduras, onde eu semeava delícias como se fossem palavras. Mas, hoje em dia, sentem uma pontinha de inveja se os presenteio com uma salada de queijo com tomate-cereja pincelados de orégãos, ou lhes dou a provar o meu doce de abóbora com travozinho a canela.

Actualmente, cultivar uma horta tornou-se uma necessidade e até uma moda. Muitas famílias encontraram no seu quintal ou no terreno cedido pela autarquia, ou nas hortas urbanas, ou em hortas verticais nas varandas do prédio, um modo de economizar criando um complemento do seu magro orçamento, uma maneira digna de melhor se sustentarem em situações de pobreza e necessidades, ainda por cima alimentando-se de forma mais saudável.

No meu caso, a um passo de me tornar auto-suficiente em produtos vegetais, a minha horta continua acima de tudo a ser o meu espaço-zen, o sítio tranquilo que promove o bem estar do corpo e da alma, o escape para o stress.

Mas o que aprendi ao longo do tempo vai muito para além do prazer de consumir o que ajudei a nascer. Aprendi a apreciar cada gota de chuva, a maravilhar-me com o milagre de ver crescer (ervas daninhas à velocidade da luz, e os alhos ou as batatas-doces muito demoradamente). Aprendi a não ter pressa, a respeitar os tempos e as necessidades de cada ser vivo, a estar atenta a todos os sinais: uma folha encarquilhada da cerejeira significa que ela está doente, um feijoeiro cabisbaixo diz que está com sede. Também aprendi a ser mais criativa na cozinha quando há excesso de produção de determinado produto, a cozinhar pratos vegetarianos, a apreciar ingredientes novos e técnicas para mim estranhas de conservação e de desidratação.

Aprendi métodos mais ecológicos de combater pragas, de economizar água, de reciclar resíduos domésticos: no fundo, desenvolvi um maior respeito pela Natureza e aproximei-me da Terra. Comecei por ter a mão verde, mas agora tornei-me mais verde no coração. Aquele pedacinho de chão faz-me sentir plena e farta: na minha horta tenho fartura de tudo, até de dores de costas.

 

 

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