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Lustre

Opinião  »  2013-09-26  »  Graça Rodrigues

Há dias foi-me pedido pela organização do Festival Materiais Diversos que fosse cicerone de um pequeno grupo de estrangeiros que visitava a nossa região pela primeira vez. Faziam parte de um grupo maior de programadores internacionais que se deslocaram ao festival em trabalho, mas era importante que alguém lhes aligeirasse a estadia com uma visita emblemática e ilustrativa, mas significante. Sugeriram-me que os levasse ao meu lugar favorito. Sem pensar duas vezes, e achando que um grupo que se chamava ”Space” não se podia confinar a umas quantas ruas e casas, levei-os ao alto da Serra dos Candeeiros, sem sombra de dúvidas o meu lugar preferido. Nascida e criada lá em baixo no vale, os olhos sempre postos num horizonte tão pequeno, o cume da serra sempre dominou a vila e a minha vida.

”Este é o lugar onde estamos mais perto do céu, e, por conseguinte, mais perto de nós mesmos também”, expliquei-lhes. ”Como se chama a serra?”

”Lamp, Chandelier”, dizia-lhes eu no meu inglês enferrujado, e estendia os braços a designar penedos e fragas, oliveiras e mato seco, casinas e muros de pedra, miradouros naturais e lagoas escondidas, desfiladeiros cheios de ecos, algares vorazes e verticais, galerias a descer vertiginosamente de encontro a grutas húmidas e rios que nunca viram a luz do sol. Dei-lhes a cheirar o funcho e os orégãos, e as vacas também.

”Porque se chama Candeeiros?”, perguntavam-me.

Era manhã e o sol vinha com uma leve brisa. ”Porque é um lugar que brilha!”

E contei-lhes:

Aos dez anos era aqui que viviam os contrabandistas que passavam de assalto dos livros para a minha infância, munidos de lanternas para fazer sinais em código. Nos imberbes junhos que eram sempre recreio, era aqui que floriam os alecrins das fogueiras do bairro. Aos quinze, seria o melhor sítio do mundo para namorar, um brilho atrevido nos olhas à sombra dalgum carvalho mais fechado, mas não havia estrada nem permissão de passar, e por isso nunca ultrapassei limite nenhum. Aos vinte levei-a comigo numa mala, e a cidade ganhou o cheiro do rosmaninho e a luz da macela. Aos cinquenta enfeitei-a com alguns versos e decorei-a, como se faz às estrofes e ao rosto da pessoa amada.

Filha da serra, as entranhas esculpidas de calcário, ao final hão-de espantar-se com a minha figura sorridente, a brilhar na urna de pedra, as palmas unidas por um terço, e um romance com final feliz debaixo do cetim.

Acho que eles entenderam.

 

 

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