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A amizade é uma caixa de fósforos

Opinião  »  2013-10-11  »  Graça Rodrigues

Naquele dia, reuniram-se num pátio cheio de sombras, deram as mãos, coisa inédita entre homens, abraçaram-se, conversaram, riram feitos parvos, contaram as incontornáveis histórias de gajas, de carros, de política e de futebol. E as mulheres lá dentro, feitas galinhas, a remexer nas gavetas e a cacarejar, todas contentes com os seus colares e o tom do verniz, orgulhosas dos filhos na universidade e dos maridos sem barriga, felizes por estarem ali umas com as outras, de copo na mão e um naquinho de pastel na ponta dos dedos a falar dos filhos e das plantas, com as dúvidas que lhes são tão próprias, e as certezas de que a vida pode entrar enfim no rumo certo depois de dias como aquele.

Acontece uma vez por ano, mas é o suficiente para não deixar apagar a chama que, durante o resto do ano, permaneceu em fogo brando, minúsculas brasas essenciais no cerne de uma vida que nunca sabemos se está em pausa ou se é assim que realmente se vive.

No resto do ano, cada pessoa é o que lhe coube em sorte, ou o que se esforçou por ser: uns são professores, outros artistas, outros empresários, bibliotecários, engenheiros, enfermeiros, donas de casa, músicos. Cada uma dessas pessoas tão ocupadas e competentes, desbravando caminhos da ciência e das artes, subindo escadarias, sentadas nas secretarias, esterilizando salas ou pintando quadros, gasta os seus trezentos e sessenta e tal dias numa azáfama descomunal, para no final da correria perceberem que se ocuparam a tentar congelar uma fogueira que é impossível de apagar.

Quando soa o toque de mensagem no seu telemóvel, e chega o convite para o encontro, remexendo as teclas com os olhos cheios de surpresa e euforia, é como se fosse o primeiro dia de férias, ou como se a mensagem por abrir fosse o roteiro de uma cidade, um cartão de embarque, o espelho da Alice. E desfazem compromissos inadiáveis, gritam com o chefe, terminam relatórios à pressa. Fazem as malas sem esquecer as fotografias das crianças e as sapatilhas, porque é urgente caminhar na praia (ou na montanha, nunca se sabe). O dia do reencontro é um regresso à escola, parece que ainda ontem andaram juntos no recreio a jogar ao berlinde e foram à loja de gomas com um carrinho telecomandado na mão. Também parecem agora uns rapazes doidos cheios de cabelo, de cerveja na mão sentados à beira da estrada a ver passar o rally, elas de óculos gigantes e blusas cheias de ombros, quando não era moda andar de unha garrida nem saltos compensados, o que era mesmo fixe eram os filmes do Quarteto. Falavam de Sartre e de permanentes do cabelo. Por instantes, antevendo o encontro, deixaram de ser adultos e tudo o que importa é o calor que lhes enche o coração.
A amizade é o clarão que se consegue acender no peito quando tudo o resto está às escuras. A amizade é um fósforo. Pode estar esquecido na caixa, ao fundo da gaveta das tralhas, durante anos a fio. Só nos vamos lembrar dele faltar a luz.

E um clarão pequenino acende a fogueira.

Lume brando. Ou labareda. O que a gente quiser, o fósforo dá.

 

 

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