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Um século partido ao meio

Opinião  »  2013-11-01  »  Graça Rodrigues

Antes de fazer cinquenta anos achava que ter cinquenta anos era a pior coisa que podia acontecer a uma pessoa. A pessoa chegava àquela data e passava a ser velha, como se de repente a marca de uma cicatriz horrível nos desfigurasse, ou a cabeça aparecesse toda branca nessa madrugada, uma espécie de castigo da natureza por nos termos atrevido a chegar tão longe.

Mas, depois, passamos essa meta e nada de terrível acontece. Subimos outro degrau, e afinal o que se passa é apenas a nossa visão a ficar cada vez mais abrangente, o nosso coração a ficar maior e a nossa cabeça mais branca devagarinho. E a cada ano que passa, com a sabedoria que cada dia nos acrescenta, vamos percebendo melhor o mundo (mesmo que ele esteja do avesso) e o significado da vida, que não há castigos automáticos nem venturas imerecidas.

De que é feita a vida, afinal? Do alto da nossa torre de vigia, carregados de anos, podemos ousar atingir essa clarividência. Aos poucos o mistério vai-se desvendando, e talvez nunca o venhamos a descobrir mas, desse posto conferido pela idade madura, é possível ter alguns vislumbres. Suponhamos que a vida é feita daqueles fragmentos insignificantes que dão sentido aos dias. Se nos comovemos, os pêlos arrepiados e os olhos brilhantes, num qualquer momento único, só nosso e de mais ninguém porque mais ninguém apanhou aquela faísca de luz, estamos a caminhar para o conhecimento. Naqueles momentos raros e místicos, que dificilmente saberíamos descrever a outra pessoa, quando acontece em nós alguma espécie de magia, vinda das entranhas ou não sei de onde, da música ou da alma, do universo, sei lá, talvez seja a vida a mandar-nos recados. A vida é como um puzzle: quanto mais fragmentos destes arrecadarmos, mais depressa percebemos a imagem geral.

Aos vinte anos julgamos saber tudo. Estamos prontos para domar a vida, tomar-lhe as rédeas e virá-la ao contrário, se for preciso. Mas nem aos vinte, nem aos trinta ou aos quarenta atingimos a capacidade de escutar. Nem de ver. Não vemos nada. Entendemos muito pouco. Sentimos apenas prazeres e necessidades. Sem o lento passar dos anos, num bater compassado sob as costelas, um frágil músculo a bombear-nos os sonhos e as compaixões, incansavelmente hora após hora, ano após ano, não é possível esta empatia com o que nos rodeia, este enlevo de saber quem somos e porque estamos aqui.

A vida é, afinal, feita de pequenos nadas, toda a gente sabe, mas nem todos conseguem identificá-los, porque existem nadas que são mesmo vazios, e outros que contêm o mundo inteiro de minutos que param repentinamente para que um pássaro possa explicar-nos a primavera, de uma rosa murcha num livro, de um pedacinho de fotografia, de um telefonema, de uma cena dum filme, de uma emoção, de um seixinho da praia, de uma toalha de piquenique, de uma ceia de natal, do cheiro de uma chuvada sob o alpendre, do perfume que fica nas mãos depois da carícia, dos dedos a percorrer a lombada daquele livro novo, dum abraço...

Isto é tudo o que sabemos da vida e nem é preciso estudar física quântica.

 

 

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