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Quem és tu? Quem sou eu? O que é que faz de uma pessoa, aquela pessoa?

Opinião  »  2013-11-22  »  Graça Rodrigues

Estas perguntas têm-me atormentado desde que me conheço. Às vezes penso tanto que o pensamento forma um novelo, tento decifrar-me, perscruto também nas almas dos que me rodeiam, na busca de algumas respostas mas no fundo sempre à procura de mim. Só que, depois de uma visita que fiz no passado sábado, procurei obter respostas mais urgentes. Tinha que saber o que define uma pessoa. Ao longo do tempo descobri que algumas coisas ajudam a decifrar o mistério, certas leituras, por exemplo; observar a realidade com os olhos bem abertos, também. Meditar também. Mas hoje procurei Julian Baggini , um filósofo que me ajudou de algum modo a perceber-me. O senso comum diz-nos que o que nos define é um corpo físico com determinadas características, que tem acoplada uma série de experiências, sensações, memórias e crenças.

Segundo ele, nós não somos apenas isso. Nós somos uma soma complexa das nossas experiências, sensações, memórias e crenças, muito para além desta cabeça, tronco ou membros, o que, por si só, a definir-nos, seria demasiado redutor. Se fizermos um transplante de coração continuamos a ser a mesma pessoa. O mesmo se transplantarmos um braço ou um pulmão, não mudamos a nossa génese.

Mas e seríamos a mesma pessoa se nos transplantassem a memória? Com um transplante de experiências de outra pessoa, continuaríamos a ser nós? Certamente que não. E o lugar daquilo a que comummente se chama alma? Existe? Onde é que se posiciona? O nosso eu não mora em lugar nenhum específico do nosso corpo. Mas também não está fora dele. O nosso eu verdadeiro também não é algo que ali está, desde sempre, dentro de nós. É algo que criamos a cada dia. Hoje somos diferentes da pessoa que fomos há três ou quatro anos atrás, basta ver um filme nosso e dificilmente nos reconhecemos. O eu verdadeiro é algo que em parte descobrimos, e em parte criamos.

A nossa essência não é imutável, não nascemos a ser a mesma pessoa pela vida toda, vamos mudando e continuamos a ser a mesma pessoa, nem temos um núcleo no nosso cérebro onde está armazenada toda a informação e todas as nossas características. Não somos uma coisa, mas antes um processo. Um processo continuado no tempo, elaborado pelas nossas escolhas. Podemos escolher a pessoa que queremos ser, ou pelo menos, termos como objectivo dirigirmo-nos para essa pessoa ideal, porque há limites para o que conseguimos atingir, definidos pelas nossas capacidades inatas. Podemos desejar ser um bom músico, por exemplo, mas não tendo nascido com essa habilidade, não seremos exímios. Podemos apenas tentar, com a crença de que é possível. Portanto, concluiria eu, ser pessoa é ir-se construindo como pessoa, arrecadando experiências, memórias, sensações, fabricando a cada instante uma pessoa nova, que já não é aquela que foi há uns instantes atrás.

E, só para terminar, estas palavras para justificar o emaranhado de ideias, as dúvidas que me surgiram no sábad uma amiga minha está muito doente. Fui visitá-la e encontrei-a em coma. Vi o seu corpo. Toquei-lhe nas mãos. Olhei os seus olhos fechados. Ela parecia estar ali, parada, indefesa, quieta, aparentemente tranquila. E eu gritei-lhe: ONDE ESTÁS? ONDE É QUE FOSTE? ESTÁS ONDE? A enfermeira disse que eu devia estar transtornada, era melhor sairmos do quarto, então eu não estava a vê-la ali deitada? E eu a saber que a minha amiga estava noutro lugar qualquer, num sítio qualquer a lembrar-se das férias que passámos juntas, algures a sentir o odor das castanhas que comíamos juntas, a correr e a acreditar que os dias que virão são sempre melhores que ontem. O corpo que eu encontrei naquele quarto não era ela.

 

 

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