A mata
Opinião » 2014-01-10 » Graça Rodrigues
Em todas as terras provavelmente existe um lugar assim, icónico e belo, a moldar o imaginário colectivo. Os habitantes de Minde convivem com a mata como os habitantes de certas cidades convivem com o seu castelo, o seu rio, a sua catedral, o seu ex-libris- com orgulho e veneração. Nós gostamos da mata. Passeamos na mata na primavera, fazemos piqueniques e caminhadas, apanhamos marmelos e amoras, mostramo-la aos visitantes, tiramos fotografias, cantamo-la em verso, passeamos de barco, aterramos de parapente, realizamos eventos, miramos as primeiras chuvadas expectantes duma cheia que há-de ser sempre a mais espectacular de todas. Contudo, nem sempre a estimamos com a reverência que ela nos merece. As espinheiras infestantes tornaram-se uma praga e nós deixamos. Os muros desfazem-se e nós observamos. Os caminhos ficam obstruídos pelo mato e nós desviamos os passos. O circuito de manutenção está deteriorado e abandonado, e nós corremos ao lado. Mas não significa que a amemos menos, somos só preguiçosos em fazer desse amor sempre uma novidade, como um casal que se habituou aos defeitos mútuos.
As primeiras chuvas deste inverno chegaram. A mata está a pôr-se linda como um postal que se traz dum sítio que deixa saudades. Daqui envio o meu postal para o mundo, embora saiba que o mundo inteiro não percebe nada deste amor que eu tenho por ela.
A mata
Opinião » 2014-01-10 » Graça RodriguesEm todas as terras provavelmente existe um lugar assim, icónico e belo, a moldar o imaginário colectivo. Os habitantes de Minde convivem com a mata como os habitantes de certas cidades convivem com o seu castelo, o seu rio, a sua catedral, o seu ex-libris- com orgulho e veneração. Nós gostamos da mata. Passeamos na mata na primavera, fazemos piqueniques e caminhadas, apanhamos marmelos e amoras, mostramo-la aos visitantes, tiramos fotografias, cantamo-la em verso, passeamos de barco, aterramos de parapente, realizamos eventos, miramos as primeiras chuvadas expectantes duma cheia que há-de ser sempre a mais espectacular de todas. Contudo, nem sempre a estimamos com a reverência que ela nos merece. As espinheiras infestantes tornaram-se uma praga e nós deixamos. Os muros desfazem-se e nós observamos. Os caminhos ficam obstruídos pelo mato e nós desviamos os passos. O circuito de manutenção está deteriorado e abandonado, e nós corremos ao lado. Mas não significa que a amemos menos, somos só preguiçosos em fazer desse amor sempre uma novidade, como um casal que se habituou aos defeitos mútuos.
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