A minha filha mais velha perguntou-me há dias: ”Mãe, que riscos são esses ao pé dos olhos?” Depois de um momento para respirar fundo, digerir aquele ataque vindo de parte de mim e controlar o berro que me apeteceu mandar-lhe, só pude dizer-lhe: ”Daqui a uns anos falamos”.

Fiquei a pensar no assunto. Desta vez com mais calma e tendo em conta as coisas boas que os tais riscos carregam. E foi durante essa análise que se tornou evidente que todos esses riscos foram adquiridos, obviamente, a partir do momento em que comecei a trabalhar. Há onze anos, portanto. Praticamente ontem. E foi esta Casa, meu primeiro amor, que me abriu as portas a esse mundo dos crescidos, onde as rugas – descobrimos mais tarde – não passam de um mal menor.

Corria, então, o ano de 2003 e eu, ainda crente e repleta de ideais, vinda de um banco da escola que pouco me ensinou sobre o mundo cá fora, encontrei no Jornal Torrejano os ensinamentos que fui pagar longe. Fiz-me jornalista e mulher, ganhei um nome, um lugar e um propósit mostrar que a comunicação social regional é mais do que a notícia da desavença dos vizinhos ou a página dos mortos - muito dignas, mas não suficientes. Pelo menos para mim... ou para nós.

Quando se chega para trabalhar no Jornal Torrejano, que o digam todos os meus colegas que por aqui passaram ao longo destes anos, encontramos mais do que um jornal. Além de uma sede maravilhosamente arrumada e organizada – pelo menos foi essa a minha primeira sensação quando aqui entrei –, encontramos mais do que uma empresa ou um local de trabalho. Encontramos, acima de tudo, um informal grupo de amigos que gosta desta coisa das notícias.

E foi exactamente esse o espírito que esteve presente aquando do ressurgimento do título Jornal Torrejano, há 20 anos, pela mão de um grupo de carolas que, entre um vão de escadas e uma máquina de escrever, se lançou, meio a brincar, num projecto que estava longe de se imaginar, à data, chegasse a este aniversário. E é por isso que eu gosto tanto do Jornal Torrejano.

Não estava cá há vinte anos, mas tenho pena. Nem que isso exigisse que eu tivesse mais umas tantas rugas. Mas as linhas têm sido escritas certas, ainda que por linhas tortas. Não pude estar na fundação, porque alguém teria de ser novo de mais, na altura, para agora ter idade suficiente para dar continuidade a um projecto tão lindo como este. Sou uma privilegiada, sem dúvida. Já o tenho dito por outros motivos e este é apenas mais um. Tive a sorte de, há onze anos, conseguir o emprego que hoje me trouxe aqui.

Tive a sorte de abraçar este projecto e de aprender com os melhores e, mais ainda, de suceder aos melhores directores que um qualquer jornal poderia ter tido. Este meu texto é apenas isso mesmo. Uma singela homenagem, um pequeno agradecimento a tudo o que me ensinaram os homens que ergueram este jornal, contra tudo e contra todas as contrariedades que às suas vidas pessoais e profissionais se impuseram por causa disso mesmo. Joaquim da Silva Lopes, João Carlos Lopes, não sou digna de ser o terceiro nome nesta lista. Aprendi muito, mas muito mais têm ainda para me ensinar. Obrigada! E que venham mais vinte...