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As árvores. Outra vez.

Opinião  »  2023-01-20  »  Carlos Paiva

"Não existe uma única intervenção da Câmara de Torres Novas, seja para o que for, que não implique o abate de árvores."

A continuidade da aplicação da fórmula idiótica é confirmada por mais um abate de árvores em espaço público. Não existe uma única intervenção da Câmara de Torres Novas, seja para o que for, que não implique o abate de árvores. Um cidadão chama a Câmara para reparar uma tampa de esgoto partida no pavimento e o resultado imediato é o abate de todas as árvores dessa rua. O zelo é absoluto, os arbustos são aparadinhos, as ervas daninhas desaparecem como por magia e, quem já tenha passado pela experiência, recolhe os vasos das janelas e varandas para dentro de casa. E tranca as portas. Depois de eliminada a ameaça mortal da clorofila e cancelado o processo de regeneração do ar, a tampa de esgoto tem direito a uma gravata em cimento. A reparação é efectiva durante três dias, com pouco trânsito. Haverá necessidade de nova intervenção em breve, mas como já não há árvores para cortar, a Ordem de Serviço é repetidamente recolocada no fundo da pilha, por ter perdido a prioridade. O ambiente é a prioridade.

Um dos emblemas do empenho português para a diminuição da libertação de dióxido de carbono e diminuição da pegada ecológica foi a adopção de centrais de compostagem. As centrais de compostagem consomem matéria orgânica (vegetal) num processo de decomposição natural da biomassa. As centrais de compostagem precisam de combustível. Daí, as câmaras municipais, especialmente as câmaras municipais PS, alimentarem zelosamente com biomassa as centrais de compostagem. Custe o que custar. Noutro contexto chamam-lhe o dízimo. Neste, “restruturação urbanística” e “mobilidade urbana sustentável”, servem perfeitamente como justificação para produzir biomassa. Mesmo que contradiga o conceito, a malta faz de conta. Interessa é o partido fazer boa figura. No mínimo, bom cachorrinho. Foi esta atitude de bom cachorrinho que levou a arrancar olivais inteiros com oliveiras centenárias, para depois construir fábricas de azeitonas com oliveiras da Monsanto. A submissão cega ao grande plano mestre, dá nisto. Abatem-se árvores pela sustentabilidade, fazem-se guerras pela paz, faz-se amor pela abstinência. Ninguém repara no paradoxo.

Já a palavra “urbana”, deixa-me apreensivo. Urbanismo e Torres Novas na mesma frase, cria imediatamente uma sensação de desastre para acontecer. Por coincidência, os plátanos abatidos estavam mesmo em frente aos pavilhões desportivos da câmara municipal. Sim, são dois, localizados no espaço envolvente ao estádio. Assim foi até o urbanismo decidir que um palácio de desportos localizado entre supermercados e lojas de fast-food fazia muito mais sentido. E lá os dois, sim os dois pavilhões desportivos, ficaram a servir de área de arrumos para a Câmara. Duas dispensas, grandes. Com piso de tacos de pinho. Óptimos para a lareira, segundo dizem. O desleixo foi tal que choveu lá dentro durante anos, para ruína da infraestrutura e dos equipamentos armazenados. Se é lixo, vai para o lixo. Se é para guardar, é para ser mantido. Assim, não é nada. Bem, também chove dentro do novo (indispensável) palácio dos desportos. Urbanismo de coerência.

Quando se abate uma árvore, outra(s) da mesma espécie já deve(m) ter sido plantada(s) anos antes, para que na altura do abate haja uma garantia de sobrevivência do exemplar de reposição. Os maiores produtores de madeira do mundo são nórdicos, é assim que eles funcionam. Abatem-se árvores adultas ao ritmo que os exemplares jovens medram. Quando se pretende um incremento na produção, não se abrevia o processo, aumenta-se a área de floresta. Há espécies que só são abatidas com mais de 50 anos de idade, outras 80. Percebe-se que, sustentabilidade seja isto. E não “mobilidade urbana sustentável, zás trás, menos 8 plátanos”.

Não se pode reduzir os plátanos (ou qualquer outra espécie) à produção de oxigénio e acumulação de carbono. Baixam a temperatura do ar, retêm a humidade, excelentes obstáculos para vento, folha caduca gera biomassa. Mais a bicharada toda que lhe chama casa. Existem espécies de árvores que são verdadeiros aspiradores de metais pesados, usadas para limpar terrenos outrora poluídos pela indústria (o choupo é um exemplo. Cerca dos 40 anos de idade é abatido e não vai para centrais de compostagem, vai para central de tratamento de resíduos tóxicos). Sim, o choupo fazia todo o sentido numa beira-rio pós industrial, por exemplo. Lá está… Sem um plano de reposição credível conhecido, o abate de plátanos numa terra onde o calor abrasador do verão é o normal, num contexto global onde é acordo uma resposta de preservação e estímulo ambiental, vital para desacelerar as alterações climáticas, é impossível não existir uma reacção veemente da sociedade civil. É impossível o exercício de cidadania deixar-se ficar expectador, em coma. Neste mesmo tema, outros cidadãos noutras autarquias deste país, foram inclementes com decisões deste género. Nem sequer ambiciono que uma autarquia no desterro do sul da Europa tenha a visão e capacidade para lidar com as árvores idêntica à dos nórdicos. Só que não as cortassem por dá cá aquela palha, já era bom.

 

 

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