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A amona - miguel sentieiro

Opinião  »  2021-03-08  »  Miguel Sentieiro

Encontro-me neste momento a tentar escrever num artigo de opinião sem grande opinião (?).  Parece um claro contrassenso no contexto actual, uma vez que toda a malta consegue opinar sobre o covid-19, esse malfadado vírus que nos remeteu ao enclausuramento colectivo. Com a proliferação de tantas fontes de informação, a minha opinião tornou-se frouxa; foi perdendo pujança, até chegar a um estado pré-catatónico no qual mergulhou de forma quase irreversível.

“Epá aquele virologista da TVI disse que agora é que é! Temos todos de nos fechar em casa porque as variantes britânica, brasileira e africana matam comó caneco!” O Tipo parece saber do que fala. Vou já encomendar mais 30 pacotes de massa, 6 packs de papel higiénico e 40 latas de atum, para podermos ficar aqui no bunker enquanto essas estirpes andam por aí. Mas não ouviste a opinião daquele médico conceituado alertando que o covid é mais um vírus, que a vida tem de continuar, temos de proteger os mais vulneráveis e meter os hospitais privados ao barulho; que os casos da Suécia são os mesmos dos que confinaram e que tudo não passa de um interesse das farmacêuticas na produção milionária de vacinas? Mau, mau…então em que é que ficamos? Saímos ou entramos? Abrimos ou fechamos? Com máscara ou de boca ao léu? Escolarizamos ou fingimos ensinar? Testamos ou ficamos com os narizes mais intactos? Libertamos ou enclausuramos? Vacinamos ou quinamos? 

E foi assim que a minha opinião se foi afogando num mar de outras opiniões, muitas vezes antagónicas. Quando se coloca a cabeça de fora para se começar a opinar, eis que se leva uma chapada de opinião abalizada pela boca dentro, faltando oxigenação para sobreviver. O que lixa a minha pretensão de opinar é que todas as opiniões aparentam ser devidamente fundamentadas. Foi então que decidi deixar a minha opinião em banho-maria, ali quietinha, esperando que os catastrofistas e os negacionistas se juntassem e tentassem chegar a uma posição de algum equilíbrio. Esperei muito e percebi que as opiniões além de antagonicamente fundamentadas, são também persistentes; não afrouxam com qualquer antibiótico; prolongam-se no tempo de forma ininterrupta sem perder fulgor. 

Todos os assuntos marginais são devorados pelo vírus. Mas também a quem é que interessa saber das nomeações feitas na Procuradoria-Geral da República, no Banco de Portugal e no Tribunal de Contas para se receber condignamente a bazuca dos 58 mil milhões de euros com a “fiscalização” adequada? Fale-se dos vírus todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos, que o espaço fica curto até para dedicar algum tempo àquele embaraço por que passou a ministra Van Dunen, depois do tal currículo forjado enviado para a união europeia. Mostram-se os gráficos, os doentes, os ventiladores, as filas das ambulâncias, as vacinas gamadas.

Estava aqui a minha opinião muito sossegadinha, quando o meu organismo decidiu opinar por conta própria e abriu a porta ao covid. É verdade!  Até um tipo com a opinião hibernada pode apanhar o tal vírus. E já que o tinha no corpo, tentei construir alguma opinião sobre o mesmo. É transmissível porque peguei à malta toda aqui de casa.

Bate certo. Sintomas de gripe e não de uma gripezinha… senão olham-me de lado e chamam-me Bolsonaro. Afortunadamente, estivemos fora do circuito da febre alta, falta de ar, fila de ambulâncias, cuidados intensivos. Descobri, no entanto, um sintoma de que não ouvi nenhum opinante a falar: o sintoma da “reacção ao tipo infectado pelo vírus”. Ao comentar com alguém que tive covid, senti um suster respiratório, um ligeiro deslocamento à retaguarda e um olhar de quem está prestes a ser placado por um avançado da Nova Zelândia (não vá o gajo ainda ter resquícios do covid e espilrar-me para as vias aéreas através dos buracos da máscara).

Afinal, eu faço parte daqueles números terríveis anunciados todos os dias no ecrã televisivo, antes das filas das ambulâncias, dos ventiladores e das vacinas da Pfeizer. Nesse momento, a minha opinião sobre o vírus parece começar a despertar. Não sobre o vírus do covid, mas sobre o vírus do ecrã. O ecrã que nos bombardeia com o medo; um medo que se entranha no subconsciente e que está para ficar. O medo de pegar o vírus aos pais que se isolam cada vez mais; o medo do convívio com os amigos que se afastam cada vez mais; o medo cada vez maior de sair à rua sem respirar pela frecha do algodão.

Já não tenho pachorra para tanto ecrã que alimenta este medo que tolhe o discernimento e acomoda a resignação. Decidi apagar o ecrã da TV na hora das notícias e desligar-me das publicações do Facebook. No silêncio, longe da bazuca opinante, talvez uma opinião lúcida sobre tudo isto consiga emergir de novo. E eis que surge o teletrabalho e o ensino à distância em frente ao… ecrã. Depois do surto de covid-19, os quatro cá de casa mergulharam de cabeça no vírus do outro ecrã. O cenário de quatro pessoas trabalhando na crença do ensino à distância partilhando as duas divisões da casa bafejadas pela net, cruzando matérias sonoras de Matemática, Educação Física, Inglês, Atelier de Narrativas e Linguagens Audiovisuais e vídeos no instagram, é claramente um teste às equações de equilíbrio familiar mais complexas para o qual ainda não há vacina no horizonte. Ainda bem que a minha opinião voltou a submergir e a esperar por melhores dias. Senão, corria o risco de opinar à bruta neste espaço de opinião.

 

“Afinal, eu faço parte daqueles números terríveis anunciados todos os dias no ecrã televisivo, antes das filas das ambulâncias, dos ventiladores e das vacinas da Pfeizer.

 

 

 

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