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a folha da figueira - carlos paiva

Opinião  »  2023-04-11  »  Carlos Paiva

"“Em 2023, assiste-se à amputação do objecto artístico de forma voluntária pelas bibliotecas, editoras, escolas, sem pressões de movimentos governamentais com agenda puritana"

Em 1563, o Concílio de Trento decretou a campanha da folha de figueira. Visando os nus na arte renascentista, considerando-os lascivos e incentivadores ao pecado, patrocinou o encobrimento dos órgãos sexuais das personagens representadas, com uma folha de figueira. Adulterando para sempre a obra original tal como executada pelo seu autor, a folha de figueira passou a ser o símbolo de sexo, pecado, censura.

Mais tarde, por volta de 1870, o puritanismo exacerbado (doentio) do papa Pio IX ordenou a remoção dos órgãos sexuais masculinos das estátuas no vaticano, a escopro e martelo. O sexo masculino, já de si representado de forma diminuta, desrespeitando a escala da estátua (figuras adultas eram munidas de genitália infantil por imposição da igreja, o que, sabendo o que sabemos hoje, faz sentido), foi removido no seu todo.

Em 1985, o zelo puritano, de braço dado com a religião, levou à aparição da organização P.M.R.C. (Parents Music Resource Center, em português: Centro de Recursos Musicais para Pais), nos Estados Unidos. Esta organização, liderada por Tipper Gore, esposa de Al Gore (sim, esse Al Gore), pretendeu levar a cabo a extinção na expressão artística musical, qualquer tipo de vernáculo, referência a sexo, heresia e violência. A música Rock foi o alvo óbvio. Depois de algumas tentativas frustradas de silenciar alguns artistas e grupos musicais, a única vitória visível deste movimento foi a obrigatoriedade de afixar um selo de aviso nos suportes físicos comercializados. A indústria da música cedeu a afixar este selo, de formas ligeiramente diferentes consoante o país. Apenas serviu para alertar o consumidor que estava ali algo de interessante pela certa. Se vale a pena censurar, é porque vale a pena ouvir/ver/ler. Desencadeou também a edição de duas versões da obra, censurado e integral, acrescentando valor ao filão do coleccionismo. As linhas orientadoras que tornavam o objecto artístico elegível ou não para levar com o selo, variaram um pouco ao longo dos anos. Principalmente de modo a evitar o confronto directo com a liberdade de expressão.

Em 2023, assiste-se à amputação do objecto artístico de forma voluntária pelas bibliotecas, editoras, escolas, sem pressões de movimentos governamentais com agenda puritana, são cidadãos comuns os protagonistas. O conceito alargou e, ao vernáculo sexo violência heresia, juntaram-se-lhes referências raciais, étnicas, tribais, género e características físicas do indivíduo com potencial depreciativo. A esta higienização da arte, chamam-lhe Woke (acordado/desperto). Uma pilinha diminuta numa estátua, incomoda mais no século 21 do que na época medieval. Incrível.

O resumo cronológico atrás, tem o objectivo de realçar que a censura na arte está presente na história da humanidade com frequência. Para cada força num determinado sentido, existe igualmente uma força em sentido oposto, segundo as leis da física. Acção/Reacção. A força em sentido contrário está a dormir ou as leis da física estão erradas. É de facto preciso estar desperto, woke, para evitar que uma tremenda falta de maturidade reescreva a história. É preciso fazer alguma coisa de concreto. É preciso administrar um ralhete aos cachopos. Este é o meu.

Dado que fugi à critica política autárquica, habitual nesta crónica, será legítimo perguntar se a censura na arte é mais importante que presidente e vice-presidente da autarquia, a desmentir comunicados oficiais da Polícia Judiciária. Políticos eleitos a pôr em causa o Estado de Direito. Não é grave, é demente.

Mais importante que o desequilíbrio ostensivo entre apoios camarários ao desporto e apoios camarários à cultura. 240k para desporto, 30k para cultura. Não é grave, é demente.

Mais importante que o vice-presidente ir à televisão promover Torres Novas (único motivo que justificaria a sua presença lá), ou seja, fazer o que a APDPTN deveria fazer e, para o qual lhes pagou 45k (mais 15k que o apoio à cultura). Não é grave, é demente.

Mais importante que, presidente e vice-presidente, sistematicamente usarem exclusivamente um determinado grupo de Facebook como canal oficial do município, cedendo em primeira mão a esse grupo informação que só posteriormente é veiculada pelos canais oficiais e imprensa. Não é grave, é demente. Atenção que, neste tema, a oposição não fica melhor. Ao comentarem essas “partilhas” são coniventes com o absurdo. Ou o favorecimento, que tanto criticam.

Sem dúvida que, falar acerca de esconder pilinhas pequenas com folhas de figueira, partir as de mármore, precaver o ouvinte acerca de um “foda-se” cantado numa música, substituir “castanho” por “bronzeado” num livro, é mais importante que um município refém de labregos e criminosos. Embora possa parecer exatamente o mesmo ardil.

Caso se venha a provar a culpa. Claro.

 

 

 

 

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