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Manter as barcaças do passado

Opinião  »  2017-12-13  »  Carlos Tomé

"O esforço e a visão de quem os aguenta nas canetas, em sentido figurado e no sentido real, é sempre reconhecido por alguns"

Aqui há uns anos, não muitos, o Bruno Aleixo, um boneco televisivo, um urso que só mexia a boca e revirava os olhos, fazia-nos rir e pensar quando mandava umas atoardas e se vangloriava de ler muito. Ele era anúncios, listas de supermercado, slogans que andavam espalhados por Coimbra, o preçário do café do Aires, algumas mensagens de telemóvel e mais umas dezenas de coisa. Quer dizer, por dia era bem capaz de ler milhares de letras.

No passado sábado em mais um dos seus admiráveis textos no Público, Pacheco Pereira, um dos poucos pensadores que hoje ainda vão perscrutando com espírito crítico a nossa realidade real, que está muito longe de ser a que nos querem impingir, pergunta qual é o mal do passado, e aproveita para passar um atestado de ignorância feliz aos novos valores que por aí pululam frutos de uma certa moda e que têm horror de morte a tudo o que cheire a passado.

Na passada sexta, na feira do livro organizada pelo jornal O Riachense em comemoração dos seus 40 anos, ouvimos Francisco Sena Santos, um dos nossos jornalistas de referência, numa análise lúcida sobre a comunicação social portuguesa, a dizer para quem o quis ouvir, que é possível preservar os jornais locais se estes apostarem no rigor das notícias e nas alternativas de sobrevivência à informação maciça, popularucha, e igual em todo o lado, transmitindo aos leitores a outra face dos aspectos concretos da sua vida que, lá no fundo, lhes interessam. No fundo, a receita é fugir à informação sanguinária à Correio da Manhã e apostar na realidade local para ajudar a dar vida ao país real que só surge nas pantalhas quando há desgraças variadas e para todos os gostos e encontrar formas de juntar esforços e sinergias de resistência.

Logo no dia seguinte, na Casa do Povo, na tal comemoração, ouviu-se uma das camponesas de Riachos, mulher com mais de 70 anitos, a homenagear o Zé Pedro cantando à capela e sozinha no palco o hit dos Xutos “A minha casinha” (na versão, claro está, da Maria de Lurdes Resende dos anos 60). Este foi, para alguns, o ponto mais simbólico destas comemorações, quase tão importante como juntar pela primeira vez na história deste concelho os livros e os discos de todos os criadores riachenses.

Nesse mesmo instante alguém, denotando cansaço e desalento cúmplice, por tantas serem as canseiras no exercício, muitas vezes solitário, de percorrer os caminhos próprios destas lides remando os mesmos remos dos mesmos barcos em mares revoltos desta nossa realidade sempre picada, mantendo a coragem dos fortes mas às vezes assaltando-lhe muitas dúvidas, desabafava comigo o desalento de podermos estar como D. Quixote no combate aos moinhos de vento. Talvez, disse eu.

Por razões óbvias que dispensam grandes devaneios ou comentários, qualquer projecto jornalístico independente dos poderes, tem à partida uma vida que será tudo menos fácil. Mas essas dificuldades são ainda maiores quando um projecto desses crava raízes numa pequena terra e os braços que lhe crescem, quando crescem, estão sempre limitados ao atarracado corpo que padece sempre de tísica, de todos os males do mundo e de mais alguns.
Mas esses projectos são indispensáveis nesta vida por muitas e variadas razões, e desde logo porque embora pertençam em parte ao passado devem ser preservados como património de incalculável valor.

E o esforço e a visão de quem os aguenta nas canetas, em sentido figurado e no sentido real, é sempre reconhecido por alguns, pelo menos pelos mais próximos.

E nessa caminhada quixotesca há sempre a saudável companhia ainda que apenas na nossa memória do Bruno Aleixo, Pacheco Pereira, Sena Santos, As Camponesas e D. Quixote, os quais sem disso terem a mínima consciência são companheiros de viagem e ajudam a manter as barcaças do passado. Ainda que não se consiga, quase nunca, navegar em mar chão.

 

 

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