Nazismo e comunismo
Opinião » 2019-11-09 » Jorge Carreira Maia"O comunismo não é mais do que um liberalismo levado às últimas consequências."
No mês passado o Parlamento Europeu aprovou uma resolução de condenação dos regimes nazi e comunista. Na verdade, ambos os regimes perseguiram e mataram adversários e o Estado teve neles uma configuração totalitária. No entanto, não se pode dizer que o nazi-fascismo e o comunismo são a mesma coisa ou que o nazi-fascismo foi um regime de esquerda, como pretendem agora alguns adeptos da adaptação da teoria da terra plana à política. Uma das coisas que mais atormenta certa gente à direita é o facto de haver uma reprovação moral do militante nazi mas não do comunista.
Os regimes fascista italiano e nazi alemão são tentativas de corte com a tradição cristã, uma ruptura com os valores que a Europa, a partir da Queda do Império Romano, criou. São regimes que tentaram fazer reviver o mundo imaginário do Império Romano, antes da conversão ao cristianismo, ou do ainda mais imaginário mundo ariano dos povos germânicos. Tentativas delirantes, apoiadas na tecnologia moderna, de inventar tradições míticas de um passado glorioso ou puro. Para além dos crimes, aquilo que não tem permitido acomodar moralmente nazis e fascistas é a sua recusa dos valores cristãos, mesmo que secularizados.
O comunismo pertence a outra tradição e a sua ligação com o cristianismo, apesar do ateísmo filosófico do marxismo, é real. Em primeiro lugar, o marxismo é uma radicalização do liberalismo. A emancipação política e jurídica defendida pelos liberais é radicalizada pelo marxismo como emancipação social. A igualdade formal perante a lei dos liberais é radicalizada em igualdade real na vida social pelos comunistas. O comunismo não é mais do que um liberalismo levado às últimas consequências. Em segundo lugar, o próprio liberalismo, filho do Iluminismo, é uma secularização dos valores cristãos, secularização mediada pela Reforma protestante. O comunismo, por seu turno, apesar de ver a religião como ideologia, não deixou de herdar esses valores cristãos, vindos através do liberalismo, orientando-os para a emancipação na terra e não para a salvação no céu.
Enquanto no mundo ocidental o cristianismo e o liberalismo tiverem algum peso cultural, será difícil olhar para um comunista e ver nele alguém que é do mesmo tipo de um nazi. O comunista é um irmão mais novo que se radicalizou e tem uma visão extremada dos valores que todos partilham, julgando-os possíveis de realizar na terra, através da violência revolucionária, enquanto o nazi é aquele que quer dissolver a ordem que o cristianismo trouxe ao mundo. Isto não iliba o comunismo dos crimes que cometeu, mas ajuda a perceber a tolerância com que os comunistas, ao contrário dos nazis, são vistos. Eles pertencem à família.
Nazismo e comunismo
Opinião » 2019-11-09 » Jorge Carreira MaiaO comunismo não é mais do que um liberalismo levado às últimas consequências.
No mês passado o Parlamento Europeu aprovou uma resolução de condenação dos regimes nazi e comunista. Na verdade, ambos os regimes perseguiram e mataram adversários e o Estado teve neles uma configuração totalitária. No entanto, não se pode dizer que o nazi-fascismo e o comunismo são a mesma coisa ou que o nazi-fascismo foi um regime de esquerda, como pretendem agora alguns adeptos da adaptação da teoria da terra plana à política. Uma das coisas que mais atormenta certa gente à direita é o facto de haver uma reprovação moral do militante nazi mas não do comunista.
Os regimes fascista italiano e nazi alemão são tentativas de corte com a tradição cristã, uma ruptura com os valores que a Europa, a partir da Queda do Império Romano, criou. São regimes que tentaram fazer reviver o mundo imaginário do Império Romano, antes da conversão ao cristianismo, ou do ainda mais imaginário mundo ariano dos povos germânicos. Tentativas delirantes, apoiadas na tecnologia moderna, de inventar tradições míticas de um passado glorioso ou puro. Para além dos crimes, aquilo que não tem permitido acomodar moralmente nazis e fascistas é a sua recusa dos valores cristãos, mesmo que secularizados.
O comunismo pertence a outra tradição e a sua ligação com o cristianismo, apesar do ateísmo filosófico do marxismo, é real. Em primeiro lugar, o marxismo é uma radicalização do liberalismo. A emancipação política e jurídica defendida pelos liberais é radicalizada pelo marxismo como emancipação social. A igualdade formal perante a lei dos liberais é radicalizada em igualdade real na vida social pelos comunistas. O comunismo não é mais do que um liberalismo levado às últimas consequências. Em segundo lugar, o próprio liberalismo, filho do Iluminismo, é uma secularização dos valores cristãos, secularização mediada pela Reforma protestante. O comunismo, por seu turno, apesar de ver a religião como ideologia, não deixou de herdar esses valores cristãos, vindos através do liberalismo, orientando-os para a emancipação na terra e não para a salvação no céu.
Enquanto no mundo ocidental o cristianismo e o liberalismo tiverem algum peso cultural, será difícil olhar para um comunista e ver nele alguém que é do mesmo tipo de um nazi. O comunista é um irmão mais novo que se radicalizou e tem uma visão extremada dos valores que todos partilham, julgando-os possíveis de realizar na terra, através da violência revolucionária, enquanto o nazi é aquele que quer dissolver a ordem que o cristianismo trouxe ao mundo. Isto não iliba o comunismo dos crimes que cometeu, mas ajuda a perceber a tolerância com que os comunistas, ao contrário dos nazis, são vistos. Eles pertencem à família.
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