A greve dos motoristas
Opinião » 2019-08-23 » Jorge Carreira Maia"Havia quem – e não estou a falar dos motoristas – visse esta greve como uma possibilidade para pôr em causa o regime actual."
PÔR O REGIME À PROVA. Na greve dos motoristas de matérias perigosas coincidiram duas vertentes que, para os próprios interessados, não deveriam ter coincidido. A luta laboral por reivindicações que merecerão respeito e um desafio às instituições políticas e ao regime. Havia quem – e não estou a falar dos motoristas – visse esta greve como uma possibilidade para pôr em causa o regime actual. Esperava-se que o caos se instalasse nos combustíveis, mas também no abastecimento de géneros de primeira necessidade e na saúde. Isto permitiria derrotar o governo apoiado na esquerda e, ao mesmo tempo, preparar o terreno para a emergência de movimentos inimigos da democracia liberal.
DEFESA DO REGIME. As duas principais forças que defenderam o regime foram o governo e o Partido Comunista. É evidente que tanto António Costa como o PCP têm interesses próprios a defender. Eleitorais, o primeiro, sindicais, o segundo. No entanto, na acção de ambos houve uma preocupação específica com a defesa do regime. O governo assegurou que, apesar da greve, a vida dos portugueses decorresse dentro da normalidade, evitando a emergência de movimentos sociais desestabilizadores. Através do sindicato afecto à CGTP, o PCP mostrou que oferece uma fiabilidade negocial e um respeito institucional que vão muito para além das emoções do momento. Não esquecer, contudo, que esta defesa do regime esteve sempre escorada no Presidente da República.
A FALTA DE COMPARÊNCIA. Os outros partidos parlamentares, perante a situação grave que se poderia viver, primaram pela ausência. PSD e CDS estiveram ausentes porque estão fora do governo. Se ocupassem o poder, perante a mesma situação, teriam um comportamento idêntico ao dos socialistas. Eram dispensáveis, porém, a disponibilidade do CDS para alterar a lei da greve e os tweets de Rui Rio na 25ª hora. O Bloco de Esquerda esteve ausente porque a sua influência sindical é nula.
PROBLEMAS PENDENTES. As condições de trabalho dos motoristas e de milhões de trabalhadores estão muito longe de serem satisfatórias. A contínua genuflexão governamental perante os interesses patronais pode ser uma fonte de problemas no futuro. Uma segunda questão está na vulnerabilidade política do país perante certos sectores profissionais. A vida social não pode depender continuamente de requisições civis, uma espécie de declaração de estado de emergência. Um terceiro problema relaciona-se com o sindicalismo institucional e o desafio de sindicatos desalinhados e pouco comprometidos com a democracia. A UGT e, especialmente, a CGTP têm um desafio pela frente, que também é o da democracia liberal.
A greve dos motoristas
Opinião » 2019-08-23 » Jorge Carreira MaiaHavia quem – e não estou a falar dos motoristas – visse esta greve como uma possibilidade para pôr em causa o regime actual.
PÔR O REGIME À PROVA. Na greve dos motoristas de matérias perigosas coincidiram duas vertentes que, para os próprios interessados, não deveriam ter coincidido. A luta laboral por reivindicações que merecerão respeito e um desafio às instituições políticas e ao regime. Havia quem – e não estou a falar dos motoristas – visse esta greve como uma possibilidade para pôr em causa o regime actual. Esperava-se que o caos se instalasse nos combustíveis, mas também no abastecimento de géneros de primeira necessidade e na saúde. Isto permitiria derrotar o governo apoiado na esquerda e, ao mesmo tempo, preparar o terreno para a emergência de movimentos inimigos da democracia liberal.
DEFESA DO REGIME. As duas principais forças que defenderam o regime foram o governo e o Partido Comunista. É evidente que tanto António Costa como o PCP têm interesses próprios a defender. Eleitorais, o primeiro, sindicais, o segundo. No entanto, na acção de ambos houve uma preocupação específica com a defesa do regime. O governo assegurou que, apesar da greve, a vida dos portugueses decorresse dentro da normalidade, evitando a emergência de movimentos sociais desestabilizadores. Através do sindicato afecto à CGTP, o PCP mostrou que oferece uma fiabilidade negocial e um respeito institucional que vão muito para além das emoções do momento. Não esquecer, contudo, que esta defesa do regime esteve sempre escorada no Presidente da República.
A FALTA DE COMPARÊNCIA. Os outros partidos parlamentares, perante a situação grave que se poderia viver, primaram pela ausência. PSD e CDS estiveram ausentes porque estão fora do governo. Se ocupassem o poder, perante a mesma situação, teriam um comportamento idêntico ao dos socialistas. Eram dispensáveis, porém, a disponibilidade do CDS para alterar a lei da greve e os tweets de Rui Rio na 25ª hora. O Bloco de Esquerda esteve ausente porque a sua influência sindical é nula.
PROBLEMAS PENDENTES. As condições de trabalho dos motoristas e de milhões de trabalhadores estão muito longe de serem satisfatórias. A contínua genuflexão governamental perante os interesses patronais pode ser uma fonte de problemas no futuro. Uma segunda questão está na vulnerabilidade política do país perante certos sectores profissionais. A vida social não pode depender continuamente de requisições civis, uma espécie de declaração de estado de emergência. Um terceiro problema relaciona-se com o sindicalismo institucional e o desafio de sindicatos desalinhados e pouco comprometidos com a democracia. A UGT e, especialmente, a CGTP têm um desafio pela frente, que também é o da democracia liberal.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
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