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Em memória de um velho camarada

Opinião  »  2020-01-30  »  José Alves Pereira

"Em Torres Novas houve algumas movimentações, marcadas ainda, nalguns sectores, por algumas ilusões na Primavera Marcelista"

Um facto recente – desaparecimento de um velho camarada - leva esta habitual crónica por caminhos não previstos, rememorarando factos de há cinquenta anos, fragmentos da resistência antifascista em Torres Novas.
Em Outubro de 1969, haviam-se realizado “eleições” para deputados à Assembleia Nacional. Eram as primeiras realizadas durante a vigência do consulado de Marcelo Caetano.
Em Torres Novas houve algumas movimentações, marcadas ainda, nalguns sectores, por algumas ilusões na Primavera Marcelista, mas também pela realização de reuniões sindicais, actividades culturais e estudantis que trouxeram à participação alguns jovens. A organização local do PCP, única força de oposição organizada, estava muito debilitada, ou quase inexistia, devivo à vaga de prisões do início dos anos 60.
Em meados de 1970, estava a cumprir serviço militar, quando o meu amigo Arlindo Tavares – empregado de escritório em Minde - me confidenciou, pedindo sigilo, que no dia tal “vai estar cá uma pessoa que gostava de falar contigo”. No dia aprazado, eu, o Rui Pereira e o Álvaro Maia, também contactados, fomos a sua casa. Quando entrámos, na sala, estava um homem, aparentando pouco mais de 40 anos, face redonda e corada, cabelo castanho claro penteado para trás e olhos vivos por detrás de uns óculos de armação de tartaruga. Feitos os cumprimentos, apresentou-se: “sou responsável do Partido Comunista Português e podem tratar-me por Lemos “, óbvio pseudónimo. Aquele homem, ali tão tranquilo, era a personificação do mundo que o fascismo tratava como inimigo. Falou-se sobre os propósitos daquele encontro e da intervenção possível para alterar a situação política no país. Controvertemos argumentos, a que não eram alheios alguns preconceitos ideológicos, do Maio de 68 ao “esquerdismo”, da primavera de Praga ao maoismo e à guerra colonial, etc. Acordámos encontrar-nos mais tarde, em data a combinar.
Passaram meses e nada, nunca mais se falou do encontro. Saí do serviço militar em Março de 1972 e reatei os contactos, agora com outro responsável do Partido. Do anterior, nunca houve qualquer alusão.
Em 27 de Abril de 1974, vendo na televisão as imagens da libertação dos presos políticos do Forte de Peniche, a atenção recaiu na figura daquele homem sorridente, de mala de viagem e óculos; “Era ele, não havia qualquer dúvida”. Nos dias seguintes, precisava de saber o resto da história, da história interrompida de um clandestino desaparecido há quatro anos.
Chamava-se António Joaquim Gervásio, nascido em 1927, em Montemor-o-Novo, operário agrícola, tendo aderido ao PCP com 18 anos. Participando numa greve de ceifeiros foi preso pela primeira vez em em Junho de 1947, saindo em liberdade em Novembro desse ano.
Em Agosto de 1960, foi de novo preso, sendo condenado a cerca de seis anos de prisão e “medidas de segurança”, expediente criado para manter as detenções o tempo que o regime quisesse. Desta vez, a prisão “encurtou-se”, porque em 4 de Dezembro de 1961 foi um dos oito evadidos da célebre fuga do Forte de Caxias, no Chrysler blindado oferecido por Hitler a Salazar, tendo como “ponto de apoio” a casa de Mário Castrim, mais tarde conhecido crítico de televisão.
Com documentação, falsa saiu de Portugal pela zona de Chaves, tendo permanecido um ano na União Soviética. Quando regressou ao país, soube que a sua mulher, Maria Lourença Cabecinha, fora presa, assim ficando durante mais de cinco anos, entre Abril de 1964 e Setembro de 1969.
Em 31 de Julho de 1971, meses após o nosso encontro, em casa de Arlindo Tavares, António Gervásio, responsável pela estrutura partidária do Ribatejo e Oeste, foi preso terceira vez, pela PIDE, na Marinha Grande, sendo em 22 Fevereiro de 1972 condenado a cerca de 14 anos de prisão e “medidas de segurança”.
Em 25 de Abril de 1974, a Liberdade foi buscá-lo, e a mais 35 presos, ao Forte de Peniche, não para voltar, como nas vezes anteriores, ao silêncio esconso da luta clandestina, mas para calcorrear as alamedas abertas pela esperança de uma nova vida. Obreiro notável, desde muito novo, nos movimentos emancipatórios do proletariado agrícola dos campos do sul, em luta pelas oito horas de trabalho, conquista histórica alcançada em 1962, foi depois um dos protagonistas da gesta notável da Reforma Agrária.
Em 10 de Janeiro, aos 92 anos, morreu António Gervásio, o revolucionário que conheci sem conhecer, a quem chamei camarada com o sentido de responsabilidade e solidariedade que tal palavra então acarretava.

 

 

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