HOMO LUPUS HOMINI - antónio mário santos
"“Todos somos precisos na casa grande da Humanidade. A tolerância e o respeito pelo outro são a imagem do verdadeiro crescimento espiritual"
Apanha-me de surpresa a notícia divulgada no facebook, em vários sites, da degolação da estátua de Santo António, na rotunda junto à sua capela.
Na altura em que o papa Francisco se encontra em Portugal. Na altura em que a Jornada Mundial da Juventude se transformou no acontecimento soberano de todas as televisões e redes sociais. Na altura em que os gastos de tal acontecimento criam polémica e divisões na sociedade portuguesa. Na altura em que a violência sexual do clero sobre as crianças foi «esquecida» por inoportuna. Na altura em que os discursos do papa chocam contra a parede do conservadorismo católico luso. Na altura em que os extremismos conhecidos se centraram numa obstrução duma missa católica para os católicos LGBTQI+ por católicos conservadores sectários; e na retirada, pela Câmara de Oeiras, do cartaz onde se denunciava os milhares de crianças violentadas sexualmente por padres da igreja católica. Na altura em que o papa Francisco apela ao diálogo e união, em nome do futuro, de ateus, agnósticos, católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, budistas, xintoistas, animistas, outras religiões e credos, de modo a esbater diferenças e unir forças em volta de defesa do ambiente, do combate sério das desigualdades sociais, da erradicação da pobreza, da xenofobia, do racismo, de qualquer forma de intolerância e hipocrisia política, do autoritarismo militarista e ditatorial.
Degolar-se a estátua dum santo, especificamente a de Santo António, recentemente instalada, ainda que criadora de polémica na sua colocação numa rotunda bem definida, e no mau estar pelo despesismo autárquico provocado, gera, inevitavelmente, repúdio, desconforto, ira.
Liberta emotivamente ódios recalcados, e a maledicência ignorante ou a maldade sectária, apontam a dedo acusador decrentes como culpados.
O dilema entre a existência democrática dum estado laico e a ressurgimento da tendência conservadora de credulidade beata proveniente dum passado fascista, num período de enormíssima tensão emocional religiosa, que a presença dum papa anticonservadorismo, de tendências socializantes,combatente das desigualdades económicas e sociais, numa Jornada Mundial da Juventude, vem intensificar, não pode ser observado ingenuamente como um acto castrador e anticatólico.
Será, de facto, um acto castrador?
Revela-me ser uma provocação, com uma finalidade essencial: acentuar divisões entre pessoas duma mesma cidade, desviar as atenções do mal-estar social crescente, para a criação de ódios, acusações gratuitas, perseguições. Dividir para reinar. A História remete-nos para muitos casos similares, cujo aproveitamento conduziu a gigantescas tragédias. As guerras religiosas dos sécs XVI, XVII e XVIII, são exemplos de como tudo começa com provocações absurdas que se extremizaram para se atingir determinados fins.
Um acto crininoso, como este, anticonstitucional, merece uma justiça célere. Será possível?
Inquieta-me o que se passou na minha cidade. Pelo ódio que pretende fazer explodir. Pela intolerância que fez surgir nas diversas opiniões. No que se pressente sob um motivo disfarçado: a recuperação duma tradição assente na exploração dos mais fracos e na tentativa de manutenção dos privilégios das minorias.
O contraditório da mensagem do papa Francisco, na sua mensagem de amor e de luta fraterna contra o falso conceito da diferença: «vale mais um ateu sincero,que um falso católico».
Todos somos precisos na casa grande da Humanidade. A tolerância e o respeito pelo outro são a imagem do verdadeiro crescimento espiritual.
O planeta avisa-nos, diariamente, para não brincarmos com coisas sérias. O ar, o clima, a água, a terra, os seus frutos. Ressuscitar o ódio religioso, num mundo em crise de sobrevivência, interessa a quem? Decerto aos que pretendem conservar os privilégios de que se tornaram donos, sabe-se lá como! E, num gesto verdadeiramente antipapal, através da degola duma estátua, tentando acender as fogueiras que a sua mentalidade inquisitorial tanto deseja.
Senhor Ministério Público: faça-se justiça.
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HOMO LUPUS HOMINI - antónio mário santos
“Todos somos precisos na casa grande da Humanidade. A tolerância e o respeito pelo outro são a imagem do verdadeiro crescimento espiritual
Apanha-me de surpresa a notícia divulgada no facebook, em vários sites, da degolação da estátua de Santo António, na rotunda junto à sua capela.
Na altura em que o papa Francisco se encontra em Portugal. Na altura em que a Jornada Mundial da Juventude se transformou no acontecimento soberano de todas as televisões e redes sociais. Na altura em que os gastos de tal acontecimento criam polémica e divisões na sociedade portuguesa. Na altura em que a violência sexual do clero sobre as crianças foi «esquecida» por inoportuna. Na altura em que os discursos do papa chocam contra a parede do conservadorismo católico luso. Na altura em que os extremismos conhecidos se centraram numa obstrução duma missa católica para os católicos LGBTQI+ por católicos conservadores sectários; e na retirada, pela Câmara de Oeiras, do cartaz onde se denunciava os milhares de crianças violentadas sexualmente por padres da igreja católica. Na altura em que o papa Francisco apela ao diálogo e união, em nome do futuro, de ateus, agnósticos, católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, budistas, xintoistas, animistas, outras religiões e credos, de modo a esbater diferenças e unir forças em volta de defesa do ambiente, do combate sério das desigualdades sociais, da erradicação da pobreza, da xenofobia, do racismo, de qualquer forma de intolerância e hipocrisia política, do autoritarismo militarista e ditatorial.
Degolar-se a estátua dum santo, especificamente a de Santo António, recentemente instalada, ainda que criadora de polémica na sua colocação numa rotunda bem definida, e no mau estar pelo despesismo autárquico provocado, gera, inevitavelmente, repúdio, desconforto, ira.
Liberta emotivamente ódios recalcados, e a maledicência ignorante ou a maldade sectária, apontam a dedo acusador decrentes como culpados.
O dilema entre a existência democrática dum estado laico e a ressurgimento da tendência conservadora de credulidade beata proveniente dum passado fascista, num período de enormíssima tensão emocional religiosa, que a presença dum papa anticonservadorismo, de tendências socializantes,combatente das desigualdades económicas e sociais, numa Jornada Mundial da Juventude, vem intensificar, não pode ser observado ingenuamente como um acto castrador e anticatólico.
Será, de facto, um acto castrador?
Revela-me ser uma provocação, com uma finalidade essencial: acentuar divisões entre pessoas duma mesma cidade, desviar as atenções do mal-estar social crescente, para a criação de ódios, acusações gratuitas, perseguições. Dividir para reinar. A História remete-nos para muitos casos similares, cujo aproveitamento conduziu a gigantescas tragédias. As guerras religiosas dos sécs XVI, XVII e XVIII, são exemplos de como tudo começa com provocações absurdas que se extremizaram para se atingir determinados fins.
Um acto crininoso, como este, anticonstitucional, merece uma justiça célere. Será possível?
Inquieta-me o que se passou na minha cidade. Pelo ódio que pretende fazer explodir. Pela intolerância que fez surgir nas diversas opiniões. No que se pressente sob um motivo disfarçado: a recuperação duma tradição assente na exploração dos mais fracos e na tentativa de manutenção dos privilégios das minorias.
O contraditório da mensagem do papa Francisco, na sua mensagem de amor e de luta fraterna contra o falso conceito da diferença: «vale mais um ateu sincero,que um falso católico».
Todos somos precisos na casa grande da Humanidade. A tolerância e o respeito pelo outro são a imagem do verdadeiro crescimento espiritual.
O planeta avisa-nos, diariamente, para não brincarmos com coisas sérias. O ar, o clima, a água, a terra, os seus frutos. Ressuscitar o ódio religioso, num mundo em crise de sobrevivência, interessa a quem? Decerto aos que pretendem conservar os privilégios de que se tornaram donos, sabe-se lá como! E, num gesto verdadeiramente antipapal, através da degola duma estátua, tentando acender as fogueiras que a sua mentalidade inquisitorial tanto deseja.
Senhor Ministério Público: faça-se justiça.
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
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![]() Deveria seguir-se a demolição do prédio que foi construído em cima do rio há mais de cinquenta anos e a libertação de terrenos junto da fábrica velha Estamos em tempo de cheias no nosso Rio Almonda. |
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![]() Chegou o ano do eleitorado concelhio, no sistema constitucional democrático em que vivemos, dizer da sua opinião sobre a política autárquica a que a gestão do município o sujeitou. O Partido Socialista governa desde as eleições de 12 de Dezembro de 1993, com duas figuras que se mantiveram na presidência, António Manuel de Oliveira Rodrigues (1994-2013), Pedro Paulo Ramos Ferreira (2013-2025), com o reforço deste último ter sido vice-presidente do primeiro nos seus três mandatos. |
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![]() Nos últimos dias do ano veio a revelação da descoberta de mais um trilho de pegadas de dinossauros na Serra de Aire. Neste canto do mundo, outras vidas que aqui andaram, foram deixando involuntariamente o seu rasto e na viagem dos tempos chegaram-se a nós e o passado encontra-se com o presente. |
![]() É um banco, talvez, feliz! Era uma vez um banco. Não. É um banco e um banco, talvez, feliz! E não. Não é um banco dos que nos desassossegam pelo que nos custam e cobram, mas dos que nos permitem sossegar, descansar. |
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